Os índices de audiência na TV não deixam mentir. O futebol europeu tem hoje uma força cada vez maior no cotidiano do torcedor brasileiro. Com a Globo transmitindo os jogos de Liga dos Campeões da Europa, as partidas de Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique e cia. começam a atingir, com frequência, a faixa dos 15 a 18 pontos de audiência.
É muita coisa.
O impacto disso não é na formação de uma geração de torcedores que terão como preferência os times europeus aos brasileiros, mas sim de uma perda cada vez maior de receita dos clubes brasileiros para essas potências multinacionais alocadas na Europa.
Há dez anos, sistematicamente, temos exemplos de que isso é cada vez mais uma realidade. Enquanto os clubes brasileiros praticamente estacionaram na fórmula “receita de TV + patrocínio na camisa'' para fazer dinheiro, os times da Europa começaram uma expansão nunca antes planejada para o mercado da América do Sul.
Nesta semana, a Gillette apresentou um novo produto ao mercado. Uma lâmina de barbear que leva, na embalagem, o símbolo e as cores do Barcelona. Detentora dos direitos de exploração da imagem do Barça na América do Sul, a empresa está apostando na venda de um produto licenciado do clube espanhol para estourar em vendas a mais de 10 mil km de distância do Camp Nou.
Com o Barcelona comandado pelo trio Messi (Argentina), Suárez (Uruguai) e Neymar (Brasil), faz total sentido para a Gillette ter um acordo desse gênero para a América do Sul. Dois dos principais mercados do continente são, de uma forma ou de outra, impactados pelo Barcelona quase que diariamente.
Mas por que não existe nada similar ao que é feito com o Barcelona para os clubes de maior torcida do Brasil? Será que é muito difícil buscar um negócio similar a esse e vender para o público daqui?
O Barça tem, hoje, um departamento comercial cuja missão é trabalhar pensando 100% do tempo em soluções para a América do Sul. Foi o primeiro clube a expandir a marca para cá, depois de uma entrada tímida do Manchester United no acordo com a Concha y Toro. Cada vez mais, o Barcelona é um concorrente direto dos times brasileiros na busca por receita de patrocínio.
Se, antes, era mais difícil engajar as marcas nas ações com os times de fora pela penetração restrita praticamente à TV fechada, agora a situação é outra. Quando, semana após semana o Barcelona consegue pelo menos 15 pontos de audiência, ele é um produto cada vez mais massificado dentro do mercado brasileiro.
O futebol do Brasil não perderá torcedor para o do exterior. A transmissão do amor pelo time de futebol entre gerações é forte demais para permitir isso. Mas, sem dúvida, o futebol do Brasil perderá muita receita para os times europeus, cada vez mais presente dentro do dia a dia das pessoas.
Erich Beting
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