Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Aquilo foi mesmo um assalto, descarado, que eliminou o Corinthians da Libertadores e classificou o Boca Juniors, em 2013. E a divulgação da escuta telefônica entre o então presidente da federação argentina e seu representante na comissão de arbitragem da Conmebol soa tão forte que resultou no afastamento do juiz Amarilla, pivô do episódio citado, por seu próprio país, o Paraguai.
Na conversa, Júlio Grondona, o falecido presidente da AFA faz referência a um outro assalto praticado desta vez contra o Santos de Pelé e cia. a favor do Independiente. Fato, aliás, que contribuiu muito para o Peixe, à época bicampeão mundial e com o melhor time de todos os tempos do planeta, zarpar em direção a outros mares distantes da Libertadores, onde faturava muito mais sem essas mutretas habituais desde sempre.
Escândalos desses são recorrentes ao longo do tempo e em todas as partes do mundo, sobretudo por estas bandas tropicais. O diabo é que vem na esteira de um escândalo ainda maior, o da Fifa, sem falar naqueles outros tantos e ainda mais significativos que vêm abalando a vida pública brasileira nos últimos tempos. E, se o amigo supõe que isso está circunscrito à ação nefasta do PT, de Lula e Dilma, comete erro fatal.
A tragédia Brasil vem sendo escrita desde quando Cabral pisou num porto seguro para as mutretas que seriam plantadas a partir daí.
Pedro II, tido como um imperador íntegro e amante das novas tecnologias de sua época, barrou sem dó nem piedade os planos futuristas do Barão de Mauá, que visualizava um país-continente unido por por um sistema mais limpo, barato e eficiente de transportes – o trem. E, décadas mais tarde, Washington Luís decretou a morte das ferrovias com a célebre frase – Governar é construir estradas. Em seguida, botou o Brasil de quatro… rodas, criando essa rede de asfalto que nos sufoca nas ruas e nas estradas, dia após dia, cada dia mais.
Foi o início da ascensão das empreiteiras, impulsionada pelo boom industrial dos anos 30 e, nos 50, pelo imobiliário. É o que passou a ser chamado de progresso.
A São Paulo da minha adolescência era um verdadeiro canteiro de obras. Você andava pela Ipiranga e São João, que muitos anos depois Caetano Veloso viria a cantar, e era uma sequência de tapumes de madeira escondendo as obras em andamento. nos quais, de quando em quando, abria-se uma portinhola para meus devaneios – os sebos de livros raros e de discos dos anos 20/30/40, verdadeiras preciosidades a preço de banana.
O conluio entre governos e poderosos com as empreiteiras virou rotina, a tal ponto que o slogan de um político famoso da época era Rouba, mas Faz. Se lembrar outro tão atual, fugido da Interpol, embora eleito pelo povo, não é mera coincidência.
Assim como outro slogan ficou famoso nos anos 70 - Onde a Arena Vai Mal, um Time no Nacional – apregoado pelo presidente da CBD (a CBF de então) e da Arena Fluminense, partido da Ditadura, para justificar os quase cem clubes que constituíam a primeira divisão do Campeonato Nacional, o Brasileirão da época. Assim, por exigência dos regulamentos da CBD, as empreiteiras cuidaram de espalhar elefantes brancos por este país afora. Chegou-se ao extremo de se erguer um estádio em Erexim com a capacidade o dobro da população da cidade. Também não é mera coincidência se o amigo comparar com o que acaba de ocorrer no pós Copa do Mundo.
A verdade é que se Quem Cai no Horto, Tá Morto, como se ufana justamente o atleticano, quem cai no círculo do poder fica mais vivo do que nunca, vivíssimo, ao ser sugado pelo sistema de maracutaias vigente há séculos neste país, como costumava dizer Lula, quando à frente dos movimentos sindicais e na ferrenha oposição aos poderosos de então. Agora, o mesmo Lula pede por uma nova utopia para que seus partido sobreviva ao tsunami atual.
Quer dizer, então, que tudo não passava de utopia – algo sublime e irrealizável? E ainda ele quer uma outra para substituir a que se esfumou em negra fumaça?
Ou será que não tá na hora de cairmos na real, sem utopias e sem maracutaias?
Eis mais uma utopia, se me permite o amigo o eterno ceticismo em relação à raça humana.
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