Fundado em 1972 como Atlético Salgueiro, o Carcará se profissionalizou apenas em 2005 e, desde então, vem colecionando resultados e campanhas respeitáveis
Neste domingo (26), às 16h de Brasília, o Salgueiro vai jogar contra o Sport na Arena Pernambuco, pelo jogo de volta das semifinais do Campeonato Pernambucano de 2015 e poderá perder por até um gol de diferença e mesmo assim estará na grande decisão do Pernambucano 2015. Sensação do futebol pernambucano nos últimos anos, o Carcará pretende continuar sua ascensão. Fundado em 1972, o clube só se profissionalizou em 2005, depois de ficar inativo nas décadas de 80 e 90, e desde então vem trilhando caminhos inicialmente inimagináveis. A equipe vem acumulando resultados positivos a níveis estadual, regional e até mesmo nacional.
Títulos nos primeiros anos no futebol profissional
O primeiro ano de profissionalismo rendeu ao Salgueiro Atlético Clube - que nos anos do amadorismo se chamava Atlético Salgueiro - resultados melhores que o esperado. A equipe ficou em terceiro lugar na Série A2 do Estadual, atrás somente dos promovidos Estudantes e Central, e por muito pouco não conquistou o acesso.
Também em 2005, os sertanejos conquistaram o primeiro título de sua história: a Copa Pernambuco, ao surpreender o Sport, que àquele ano comemorava seu centenário de fundação, na decisão. E os bons ventos continuaram soprando em Salgueiro: com a desistência do Itacubura, o Carcará acabou sendo promovido à elite.
No entanto, a primeira participação do SAC na elite do futebol pernambucano não foi das mais agradáveis. Vieram resultados épicos, como as vitórias de 3 a 0 e 1 a 0 sobre Náutico e Santa Cruz, respectivamente, mas o baixo aproveitamento de 19 pontos em 18 jogos fez o Carcará amargar o rebaixamento. O time foi o vice-lanterna e ficou à frente apenas da Desportiva Vitória (atual Acadêmica Vitória), que somou míseros nove pontos.
De volta à Segundona do Pernambucano, o Salgueiro foi o segundo colocado do Grupo A da primeira fase, com 19 pontos, dois a menos que o Petrolina. No mata-mata, despachou Atlético Vicência (atual Atlético Pernambucano) e o próprio Petrolina. Na final, com o acesso já garantido, conquistou a taça da A-2 2007 frente ao Sete de Setembro, graças a duas vitórias pelo placar mínimo. Com dois títulos em três anos de profissionalismo, o início do clube poderia ser descrito como animador.
O retorno ao primeiro escalão do futebol de Pernambuco foi honroso. Sexto colocado na primeira fase, o Tricolor se classificou ao Hexagonal do Título. Com a quarta colocação ao final do certame, garantiu vaga no seu primeiro campeonato nacional: a Série C de 2008.
Na última Terceirona com 63 clubes - a partir do próximo ano, os participantes seriam diminuídos para 20, e seria criada uma nova divisão para o Campeonato Brasileiro: a Série D -, o Carcará do Sertão ficou em 14º lugar na classificação geral e garantiu seu lugar na próxima edição. Ao todo, foram cinco vitórias, nove empates e quatro derrotas em 18 jogos. A equipe foi eliminada na terceira fase, a última antes do tradicional Octogonal Final, que definia os quatro promovidos à Série B.
O ano de 2009 foi marcado por campanhas regulares: novo quarto lugar no Estadual, com 33 pontos - nove vitórias, seis empates e sete derrotas - e terceiro lugar no Grupo B da Série C, com 13 pontos (quatro vitórias, um empate e três derrotas). Na classificação geral, ficou em 10º. A quarta colocação no Pernambucano, inclusive, rendeu aos sertanejos a honraria de campeão do interior, por ter sido o time de fora da capital com melhor campanha.
Já a temporada de 2010 foi de altos e baixos. Mesmo com a modesta oitava colocação - a equipe somou 26 pontos -, o Salgueiro teve o direito de disputar o Troféu do Interior. E ficou com título após despachar Cabense e Ypiranga. Na Série C, uma epopeia: ficou na segunda colocação do equilibradíssimo Grupo B - para se ter ideia, os pernambucanos conquistaram 11 pontos, um a menos que o líder ABC e um a mais que o lanterna e rebaixado Alecrim - e eliminou o Paysandu no mata-mata.
Depois de empate em 1 a 1 no Cornélio de Barros, os salgueirenses protagonizaram a "Batalha da Curuzu", na qual conquistaram uma épica vitória sobre o Papão por 3 a 2, resultado que garantiu ao time do Sertão um inédito acesso à Série B do Brasileirão. Na semifinal, foi eliminado pelo ABC, que viria a ser o campeão da Terceirona.
Divisões diferentes em quatro anos
Os próximos quatro anos foram uma gangorra para o Salgueiro. No Estadual de 2011, o Carcará ficou em sexto lugar e perdeu o título do interior para o Araripina. Na Série B, a equipe foi obrigada a mandar seus jogos fora da cidade de Salgueiro porque o estádio não comportava a capacidade requerida para abrigar partidas da segunda divisão. Durante o ano, a praça esportiva passou por reformas para, assim, chegar ao número mínimo de 10 mil lugares, já que antes a capacidade era de apenas cinco mil pessoas. Os sertanejos alternaram os mandos entre os estádios Ademir Cunha, Ilha do Retiro e Aflitos.
A "saudade do lar" foi apontada como um dos motivos para a curta estadia do clube na Segundona. A equipe acumulou oito vitórias, cinco empates e 25 derrotas, sendo rebaixada. Ainda por cima, perdeu três pontos no STJD por ter escalado o meia Josa de maneira irregular na partida contra a Portuguesa, em 7 de outubro, e ficou com 26 pontos na classificação final.
Na primeira partida, empatou em 1 a 1 com o São Caetano no Ademir Cunha, mesmo placar do duelo frente ao ABC no Frasqueirão. Na terceira rodada veio a primeira vitória: 2 a 0 sobre o Duque de Caxias no "Cunhão". Na jornada seguinte, o time conheceu sua primeira derrota: 1 a 0 para o Paraná Clube na Vila Capanema. Outros resultados expressivos foram as vitórias fora de casa diante de Goiás (1 a 0) e Guarani (2 a 1), além de um triunfo sobre o Criciúma no Ademir Cunha (2 a 1).
O Salgueiro teve um início promissor em 2012, ao ficar em terceiro lugar no Estadual e conquistar uma das vagas para a Copa do Nordeste do ano seguinte, superando o tradicional Náutico nessa briga. Além disso, voltou a mandar jogos no Cornélio de Barros, já com a capacidade ampliada para 12.030 pessoas. Também veio o título do interior, que a partir desse ano passou a ser dado automaticamente ao time que fizesse melhor campanha no certame.
Todavia, o plantel terminou a temporada de forma melancólica, com mais um rebaixamento na conta. Depois de boa campanha no início da Série C, a equipe caiu bruscamente de rendimento na reta final e acabou sendo rebaixada à Série D por ter saldo de gols inferior ao do Cuiabá (-4 a -1), último time a se salvar. Ambos os times somaram 20 pontos no Grupo A.
No Estadual de 2013, o SAC flertou com o rebaixamento, tendo que disputar um octogonal para escapar da degola. Ficou em segundo lugar e se salvou. Na quarta divisão nacional, o Carcará somou os mesmos 15 pontos do Gurupi e ficou na vice-liderança do Grupo A2 por ter uma vitória a menos.
O principal objetivo da temporada foi alcançado após as classificações diante de Nacional-AM e Plácido de Castro-AC. Nas oitavas, avançou graças à regra do gol fora de casa - empatou sem gols, em Salgueiro, e por 2 a 2, em Manaus. Nas quartas, fez 4 a 2 no placar agregado - 1 a 1 no Acre e 3 a 1 em casa - e conquistou o acesso à Terceirona. Na fase seguinte, foi eliminado pelo Botafogo-PB, que acabou sendo o campeão do torneio.
O Carcará do Sertão voltou a aprontar no Pernambucano 2014. Depois de conquistar o primeiro turno do certame e se classificar ao Hexagonal do Título, ficou em quarto lugar e avançou às semifinais. No mata-mata, sucumbiu diante do Náutico. Mas os tricolores não terminaram a competição de mãos abanando: venceram o Santa Cruz na decisão do terceiro lugar e conquistaram o direito de disputar mais uma Copa do Nordeste, além de terem sido novamente o melhor plantel do interior do Estado.
Um novo acesso na Série C não veio por pouco: depois da terceira colocação no Grupo A, o time da cidade homônima foi eliminado pelo Mogi Mirim nas quartas de final - perdeu pelo placar mínimo no "Salgueirão" e empatou sem gols no interior paulista - e adiou o sonho da promoção à Segundona. Depois de integrar quatro divisões diferentes nos últimos quatro anos, o time do interior passará mais uma temporada no terceiro escalão.
Resultados expressivos na Copa do Brasil
O Salgueiro também já fez bonito na Copa do Brasil, segunda competição mais importante do futebol brasileiro. Em 2013, o Carcará tornou-se o terceiro time da história de Pernambuco - os outros foram Sport, campeão em 2008 e finalista em 1989, e Náutico, semifinalista em 1990 - a superar três fases na competição nacional. Despachou um time da Série B (o Boa Esporte, com vitória de 2 a 0 em Salgueiro e empate em 2 a 2 em Varginha) e duas equipes da Série A (Vitória, após empate sem gols em casa e igualdade em 1 a 1 fora, e Criciúma, pelos mesmos placares).
Nas oitavas, encontrou o Internacional. Foi derrotado por 3 a 0 no Sul e se despediu com um honroso empate em 2 a 2 no Cornélio de Barros. Com as eliminações precoces de Náutico (para o CRAC, na primeira fase) e Sport (para o ABC, na segunda fase), o SAC foi o pernambucano de melhor desempenho no torneio.
Na atual edição, os salgueirenses golearam o Piauí em plena Teresina por 5 a 1 e garantiram a classificação logo no jogo de ida. O adversário da próxima fase será o Flamengo, clube que detém a maior torcida do Brasil. A partida promete ser a mais importante da curta história do clube pernambucano. E o presidente Clebel Cordeiro descartou a possibilidade de transferir o jogo para a Arena Pernambuco. O palco do duelo será o Cornélio de Barros, e o jogo promete movimentar a cidade de pouco mais de 59 mil habitantes.
Carcará vem dando trabalho a times da capital e crescendo também a nível regional
A surpreendente vitória sobre o Náutico por 3 a 0 em 2005 era o início da fama de "carrasco" do Timbu. Ao todo, o Carcará já bateu o time da capital sete vezes, das quais duas foram neste ano, nas vitórias que culminaram nas eliminações precoces do Alvirrubro da Rosa e Silva na Copa do Nordeste e no Campeonato Pernambucano. E a equipe do Sertão venceu com autoridade: 3 a 1 e 4 a 1 pelas respectivas competições. A goleada no Estadual, ainda por cima, deixou o Timba fora do Nordestão de 2016.
Contra os outros dois grandes clubes da capital, os números se alternam. A quantidade de triunfos diante do Sport é limitada: quatro, sendo o mais recente um 2 a 1 no Hexagonal do Título do Pernambucano 2014. Já contra o Santa Cruz, o retrospecto se assemelha ao visto contra o Náutico: são seis vitórias no total; a última conquistada em 2015, no Hexagonal do Título, pela contagem mínima. No ano passado, como já foi recordado, o Carcará deixou a Cobra Coral de fora do Nordestão deste ano.
Em toda a história, o Salgueiro Atlético Clube disputou a Copa do Nordeste duas vezes. A estreia se deu em 2013, com uma campanha modesta. Duas vitórias (2 a 1 diante do América-RN e 2 a 0 contra o ASA), nenhum empate e quatro derrotas (1 a 0 e 5 a 1 para o Vitória, 2 a 0 ante o América-RN e 2 a 1 a favor do ASA) culminaram na lanterna do Grupo C.
Dois anos depois, o retorno do Carcará à "nata" do futebol nordestino pode ser considerado triunfal. A equipe liderou sua chave - por coincidência, também Grupo C -, ficando à frente do favorito Náutico. Além do 3 a 1 contra o Timbu, o outro resultado positivo foi conquistado diante do Moto Club: 3 a 0, também em Salgueiro. Os outros quatro jogos terminaram no empate: 1 a 1 com o Moto Club em São Luís, 2 a 2 com o Náutico na Arena Pernambuco e duas igualdades sem gols com o Piauí. Dez pontos foram o suficiente para o Carcará passar de fase pela primeira vez na competição.
Nas quartas, os comandados de Sérgio China, que por muitas vezes esteve ameaçado no cargo durante a temporada, não foram páreos para o Ceará. O Vozão venceu por 2 a 0 no Salgueirão e conquistou nova vitória no Castelão - dessa vez, por 2 a 1.
Com a classificação às semifinais do Estadual de 2015, o Salgueiro tem chances de colecionar nova participação no torneio regional. Se conseguir a proeza de eliminar o Sport, estará automaticamente classificado à próxima edição da Copa do Nordeste. Caso contrário, terá a chance através da decisão do terceiro lugar. O Carcará quer continuar alçando voos maiores e orgulhando a cidade que carrega em seu nome.
Presidente do clube almeja presença na Série A
Em entrevista ao portal globoesporte.com no ano passado, o presidente Clebel Cordeiro explicou sua filosofia de trabalho no clube pernambucano. Para o mandatário, o segredo do crescimento do Salgueiro é o profissionalismo. Clebel prioriza a manutenção da base do elenco após cada temporada. O cartola define a torcida como "o primeiro jogador do Salgueiro" e o planejamento como fator essencial para o desenvolvimento do Carcará.
"É muito fácil você dizer assim: 'Vamos botar um time em campo amanhã'. Mas é preciso saber quanto custa, quanto vai custar a organização, a manutenção. Saber o tipo de atleta que você está contratando. Se é o atleta para a posição certa, se ele deu trabalho em outra cidade. Se esse jogador, porque existe a diferença do jogador para o atleta, o jogador vem só para ganhar o dinheiro, o atleta não, ele vem para permanecer dentro do clube", comentou.
O presidente também destaca o fato de a cidade ter abraçado o time. De acordo com o dirigente, o município ganhou nova identidade e já se mistura com a história do Salgueiro Atlético Clube.
"Quando a gente fala em futuro, a Deus pertence. Mas assim, o Salgueiro tem um só objetivo que é buscar a Série A. Se ele busca a Série A, vai ter que buscar outros horizontes. Nós buscamos coisas boas que venham engrandecer a nossa cidade. Porque há 20, 15 anos, quando se falava Salgueiro, ninguém sabia o que era Salgueiro. Hoje não, quando você fala Salgueiro alguém já fala, é a cidade do Carcará. Então tem outra identidade", enalteceu Clebel, que é categórico ao afirmar que almeja novos rumos para a instituição.
"Talvez a minha população não saiba da dimensão que tem o nome Salgueiro Atlético Clube, eles não sabem aonde o Salgueiro está chegando. Hoje eu tenho jogadores fora do Brasil, como Nildo Petrolina, Fagner, tenho três jogadores na Série A, na Série B, então não tem coisa melhor do que quando alguém pergunta de onde eles vieram e eles dizem que foi do Salgueiro. Todo mundo quer conhecer a cidade de Salgueiro para saber como é que funciona um lugar com 50 mil habitantes que tem um time revelando muita gente. Nós estamos no 47º lugar no ranking nacional (da CBF). Quantas equipes maiores do que a gente não conseguem chegar lá?", concluiu.
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