Exatamente um ano depois de ter perdido a final do Europeu de sub-21 nos penaltis, diante da Suécia, Portugal equilibrou o seu saldo e voltou a ser feliz num desempate por pontapés da marca de grande penalidade. Como já tinha sido em 2004 e 2006, diante da Inglaterra. Como não fora no Europeu de há quatro anos, quando a presença na final reverteu para a Espanha, depois de Moutinho e Bruno Alves falharem os seus remates.
Então, tal como agora, Rui Patrício cumpriu a sua parte da tarefa: deteve um remate, de Xabi Alonso, dos cinco que os espanhóis bateram. Como sempre aconteceu com os guarda-redes portugueses na seleção. Mas houve pelo menos duas diferenças fundamentais, dessa decisão em Donetsk para a de Marselha: há quatro anos, os espanhóis bateram primeiro – o que, segundo todos os estudos na matéria, dá uma vantagem de 60/40 em relação à equipa que bate em segundo lugar. Desta vez, Portugal foi primeiro a bater, e a tradição confirmou-se.
Outra diferença, que alimentou o debate entre os adeptos durante muito tempo, foi o facto de, há quatro anos, Cristiano Ronaldo ter ficado para o fim: acabou por não chegar a converter o seu castigo, depois dos falhanços de Moutinho e Bruno Alves. Desta vez, o capitão foi o primeiro a avançar, no que foi imitado do outro lado pelo também capitão Lewandowski. O seu tiro certeiro deu o mote para o que estava por vir. Refira-se, aliás, que Cristiano Ronaldo é o único jogador português a ter participado nos três desempates vitoriosos da seleção principal em fases finais, não tendo falhado qualquer tentativa - na única derrota, não chegou a tentar.
Na definição da ordem dos marcadores, Fernando Santos optou pela estratégia mais recomendada pelos analistas: deixar como mais fortes o primeiro, o quarto e o quinto batedores, e deixar nas posições dois e três os jogadores mais confiantes, mesmo que não sejam especialistas. Foi o caso de Renato Sanches, exemplar na forma como cobrou o castigo. E foi também o caso de Moutinho, que já falhou um número apreciável de penaltis na carreira, mas obteve desta forma a desforra sobre o seu falhanço de há quatro anos.
Refira-se que, desta vez, a seleção principal portuguesa conseguiu algo inédito no seu historial: uma eficácia de cem por cento, convertendo os cinco primeiros remates – exatamente como a Polónia tinha feito no desempate anterior, com a Suíça. E, mais uma vez, para quem gosta de coincidências, vale a pena recordar que este desempate aconteceu exatamente 25 anos depois dos remates da marca de penálti que valeram o segundo título mundial de sub-20 à seleção orientada por Carlos Queiroz. E esse foi também um desempate perfeito, com todos os portugueses a converterem os seus remates – algo que demorou 25 anos a ser replicado pela seleção principal e que, no fundo, o ex-selecionador já tinha profetizado, na sua mensagem alusiva ao evento: em Marselha, a Polónia foi mesmo o nosso Brasil.
Vale a pena recordar que, no apuramento dos quartos de final, em 2004, Portugal deixou a Inglaterra pelo caminho, mas não se livrou de um susto quando Rui Costa falhou o seu remate – depois de Beckham ter feito o mesmo pelos ingleses. Mais nenhum português falhou, com Ricardo a deter o tiro de Vassell, sem luvas, e a fechar a sequência: seis marcados em sete tentativas puseram Portugal nas meias.
Dois anos mais tarde, de novo com a Inglaterra, voltou a haver falhanços: Hugo Viana e Petit desperdiçaram as suas tentativas por Portugal, mas Ricardo deteve três remates (Gerrard, Lampard e Carragher) e Cristiano Ronaldo bateu o último, pondo a seleção entre as quatro melhores do mundo. Agora foi um pontapé de Quaresma a deixar Portugal entre as quatro melhores da Europa, pela quinta vez na história da competição. E a deixar, também, o saldo negativo um pouco mais nivelado no que se refere a desempates: 16 vitórias e 18 desaires em 34 edições, considerando todos os escalões masculinos.
Há um ano, quatro dos atuais selecionados, William Carvalho, João Mário, Rafa Silva e Raphael Guerreiro estavam do outro lado da barricada, cabisbaixos, depois de uma derrota na final, ainda mais amarga pelo facto de a sua equipa ter sido claramente superior. Desta vez, a desforra chegou com cinco tiros perfeitos e um voo de Patrício para a sua esquerda. No futebol, ter razão é uma questão de tempo e persistência. E ser-se feliz nos penáltis, também. A menos que se seja inglês, claro.
Todos os desempates por penaltis da seleção principal
30/6/2016 (QF- Euro 2016) Polónia V
27/6/2012 (MF- Euro 2012) Espanha D
1/7/2006 (QF- Mundial 2006) Inglaterra V
24/6/2004 (QF- Euro 2004) Inglaterra V
Todos os desempates por penaltis das seleções portuguesas (todos os escalões)
Balanço: 16 vitórias, 18 derrotas
Em finais: 2 vitórias, 4 derrotas
Em meias-finais: 5 vitórias, 4 derrotas
30/6/2016 (QF- Euro 2016) Polónia V
30/6/2015 (F- Euro sub-21) Suécia D
14/6/2015 (QF- Mundial sub-20) Brasil D
28/7/2014 (MF- Euro sub-19) Sérvia V
29/7/2013 (MF- Euro sub-19) Sérvia D
27/6/2012 (MF- Euro 2012) Espanha D
13/8/2011 (QF- Mundial sub-20) Argentina V
21/6/2007 (Euro sub-21, play off olímpico) Itália, D
9/6/2007 (3/4º- Toulon) Costa do Marfim, D
1/7/2006 (QF- Mundial 2006) Inglaterra V
24/6/2004 (QF- Euro 2004) Inglaterra V
15/5/2004 (3/4º Euro sub-16) Inglaterra, V
18/11/2003 (Euro sub-21, play off olímpico) França V
14/5/2003 (MF- Euro sub-16) Inglaterra, V
3/6/2000 (F- Toulon) Colômbia, D
1/6/2000 (MF- Toulon) Itália V
8/5/2000 (QF- Euro sub-16) Alemanha V
15/4/1999 (1/8- Mundial sub-20) Japão D
26/7/1998 (3/4º- Euro sub 18) Croácia D
21/5/1998 (MF- Toulon) França D
31/7/1994 (F- Euro sub-18) Alemanha V
5/6/1994 (MF- Toulon) França V
3/5/1994 (QF- Euro sub-16) Turquia D
22/7/1992 (MF- Euro sub-18) Inglaterra V
30/6/1991 (F- Mundial sub-20) Brasil V
20/3/1991 (Q Euro sub-16) Itália V
29/7/1990 (F- Euro sub-18) URSS D
24/5/1990 (MF- Euro sub-16) Checoslováquia D
21/5/1988 (F- Euro sub-16) Espanha D
13/6/1987 (Qual- Toulon) Inglaterra D
12/6/1981 (Qual- Toulon) Colômbia V
15/3/1977 (Qual Euro sub-18) Áustria D
25/5/1975 (Qual- Toulon) Polónia D
22/5/1975 (Qual- Toulon) Hungria D
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