por Emerson Gonçalves
A CONMEBOL prestou-nos um grande desfavor: anunciou algumas mudanças em suas competições, principalmente a Copa Libertadores de América, que doravante irá de fevereiro a novembro. O número de participantes também aumentará e essa novidade, ainda não explicada, já movimenta cabeças e corações em nosso Brasileiro.
Campo neutro? Como assim?
Cereja do bolo dessas mudanças, o presidente da confederação continental “comunicou”, mas sem comunicar, em mensagem postada em sua conta no Twitter, a possibilidade, na prática já uma certeza, de a principal competição de clubes das Américas ter somente uma partida final.
Em campo neutro.
Como assim “campo neutro”?
Vejamos o que Alejandro Dominguez escreveu:
“Analizando estadística de finales de Copa Libertadores, local en 2do juego ganó 7/10. Justicia deportiva exige final única en campo neutral.”
Primeiro ponto: a rigor, não podemos falar que por uma questão de justiça e oportunidades iguais, não possa haver um segundo jogo e que este, naturalmente, tenha um mandante. Por quê? Porque este mandante conquistou em campo o direito de fazer o “jogo da volta” em sua casa. Nada há de injusto nisso, mas há uma questão de mérito: quem trabalhou mais, quem foi melhor, ganhou esse direito.
Segundo ponto: campo neutro? Como assim?
Pela lógica mais elementar e copiando o que faz a UEFA, que é o que a CONMEBOL está tentando fazer – aliás, aproveitem e copiem a transparência da UEFA também –, a sede da final deverá ser escolhida no ano anterior ou, quando muito, antes do início da competição. Ora, assim procedendo, quem garante que o campo será neutro?
De repente, pelos acasos do futebol, esse maravilhoso esporte tão rico em acasos, vai calhar de a sede da partida final ser, também, a sede do clube pior colocado entre os dois da disputa.
E aí? Como fica o espírito de justiça esportiva?
Bom... Não fica, né?
E, claro, pode valer também o outro lado dessa moeda: a final ser disputada na sede do time melhor colocado. Será que então haverá chororô quanto ao critério de escolha?
O G4 está morto!
Viva o G5!
Pois é, de repente, não mais que de repente, eis que o Brasileirão 2016 ganhou um novo ar, um novo ânimo e várias torcidas um novo sopro de esperança, acreditando que seu time do coração poderá disputar a Copa Bridgestone Libertadores 2017.
A mesma esperança ganharam os torcedores do Boca e do River Plate, ambos, nesse momento, fora da próxima edição da Copa.
As novas regras só serão divulgadas nesse domingo, mas a expectativa, para não dizer certeza, é que o Brasil passe a ter 6 representantes – 5 pelo Brasileiro e 1 pela Copa do Brasil.
Olhando a tabela hoje, sexta-feira, antes de iniciar a 28ª rodada, há boas esperanças até para o Internacional, se bem que nesse caso a 5ª vaga seja mais uma possibilidade matemática do que algo parecido com uma chance. Se vencer todas as 11 partidas que restam, o Inter chegará a 60 pontos, valor médio para a 5ª colocação nos quatro últimos campeonatos e, curiosamente, a mesma colocação e pontuação que o Internacional atingiu no ano passado.
- 2012: 58 pontos – Vasco
- 2013: 59 pontos – Vitória e Goiás (6º, mas com mesma pontuação)
- 2014: 62 pontos – Atlético Mineiro
- 2015: 60 pontos – Internacional
Olhando um pouco mais para cima, a missão continua quase impossível para o 12º colocado, o São Paulo, com 34 pontos em 27 jogos e aproveitamento de 42%. Para sonhar e talvez chegar lá, o Tricolor precisaria de um aproveitamento de 79% nessa reta final. Quase o dobro do que fez até agora.
Vida muito dura, mas um pouquinho menos, terão pela frente Chapecoense, Botafogo e Ponte Preta. Tão dura quanto improvável.
A turma já entrada nos “enta” tem vida um pouco menos difícil:
- Grêmio: 40 pontos
- Corinthians: 41 pontos
- Atlético Paranaense: 42 pontos
- Fluminense: 43 pontos
Na atual 5ª colocação o Santos tem 45 pontos e o Atlético Mineiro tem 49. Os dois precisam tomar cuidado.
A rigor, os ponteiros Palmeiras e Flamengo, com 54 e 53 também não podem bobear, mas, reconheçamos, é improvável que ambos não estejam ao menos entre os 5 primeiros em dezembro.
Uma coisa é certa: a Confederação deu uma agitada legal no Campeonato.
Uma hipótese: se os argentinos já sonham com duas vagas, para Boca e River, por que não sonhar com o mesmo aqui em Terra Brasilis?
Afinal, nessa terra da CONMEBOL tudo parece possível.
Calendário Mundial já!
Então tá: Libertadores durante 42 semanas, fevereiro a novembro.
Tudo bem com o começo, logo depois do fechamento da janela de inverno europeia, mas, e esse é um “mas” de peso, a janela de verão dos poderosos clubes europeus vai esfacelar nossos elencos bem no meio da disputa da Libertadores!
Como se já não bastasse o esfacelamento pegar nossos times no meio do Brasileirão...
Esse é, sem dúvida, o mais forte motivo para mudarmos o calendário que não é mais europeu e sim mundial. O Brasil resiste. Em termos práticos, outros países sul-americanos já se adaptaram a ele, inclusive a Argentina.
Olhando os mapas, tabelas e gráficos, o Brasil, apesar da queda no número, qualidade e valores, continua sendo o maior fornecedor de jogadores do mundo e essas saídas se concentram na janela de verão europeu.
Ano após ano vemos isso acontecer e não é sempre que um Lucas pode ficar mais algunas meses e embarcar em janeiro ou, como agora, Gabriel Jesus, já contratado pelo Manchester City, mas jogando pelo Palmeiras até dezembro. Esses casos são as exceções. A regra é ir embora, como Gabigol.
E os times brasileiros ficam desfalcados, enfraquecidos e mesmo que reponham as perdas, raríssimas vezes os novos jogadores conseguirão se integrar a tempo de manter a equipe competitiva.
Política! Ela nunca sai de campo na CONMEBOL e decidirá as sedes das finais únicas
A CONMEBOL é formada por apenas 10 países.
Dentre eles, um se destaca em todos os parâmetros: o Brasil.
É o maior em área – tem 8,5 milhões de km² de um total de 17,8 milhões.
Tem a maior população – cerca de 206 milhões para uma população total de aproximadamente 420 milhões, ou seja, praticamente a metade.
O PIB dos 10 países, pelo método PPC – Poder Paritário de Compra – é de US$ 6,65 trilhões. O Brasil sozinho responde por 48,8% desse total – US$ 3,2 trilhões.
Em condições normais, seria natural e lógico o Brasil ter a liderança nas mais diversas iniciativas, órgãos e fóruns, mas isso não ocorre. O Brasil é o único a falar português, enquanto os demais falam castelhano. ´
Há muitas rivalidades regionais, de todos os tipos, mas há, sem dúvida, uma que é comum a todos os países, nas áreas mais diversas: a rivalidade em relação ao Brasil.
No futebol é um pouco diferente, porque há outro país quase tão gigante quanto o Brasil: a Argentina.
Na CONMEBOL, que é a entidade que responde pelo futebol sul-americano, há duas regras não escritas, e que pode-se dizer que são pétreas, que definem bem o que é a Confederação:
Brasil e Argentina não devem comandar a Confederação. Ou seja, o presidente da CONMEBOL não é e não será, no horizonte visível, um brasileiro ou argentino. Estou certo que alguns rubro-negros vão recordar de comentários nessa linha quando, há alguns anos, o Flamengo não queria jogar em La Paz e pediu a Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, que trabalhasse por essa possibilidade. Sem êxito, claro, como todos sabem.
Se porventura houver algum risco de o Brasil assumir essa posição, entra em ação a outra regra não escrita, pouco conhecida, nunca falada: os demais descarregariam seus votos na Argentina ou, se os dois grandes estivessem unidos, num tertius. Talvez o Uruguai, provavelmente o Chile ou a Colômbia.
A CONMEBOL é pequena, mas é complicada.
Abrigar a sede da Champions League é um grande negócio ou, no mínimo, um bom negócio para a cidade hospedeira. O afluxo de turistas é grande e, na Europa, muitos viajam com familiares, movimentando a economia da cidade-sede.
Pelo menos a curto prazo não veremos essa movimentação financeira tão destacada em torno de uma final de Copa Libertadores, mas há outro item tão ou mais importante que o dinheiro: o prestígio, o orgulho de ser a sede. E todos vão querer exercer esse direito.
Ah, sim, será considerado um direito e as conveniências econômico-marqueteiras pouco ou nada influenciarão. Em algum momento dentro do período de 10 anos, todos os membros vão querer sediar uma final de Libertadores.
Se a infraestrutura e as condições econômicas já são péssimas para garantir grandes trânsitos de pessoas em curto prazo entre, por exemplo, Brasil e Argentina ou Argentina e Brasil, o que pensar de uma final em Bogotá? Ou Caracas? Ou – preparem os pulmões – La Paz? Quito? Lima? Santiago, do outro lado da Cordilheira...
Sediar a final será um direito de cada país, a menos que, num passe de mágica, essa direção consiga passar uma regra que contorne esse tipo de pleito e estipule como sedes cidades com adequada infraestrutura e boas condições de transporte e recepção de turistas em grande quantidade.
A rigor, num primeiro e rápido olhar, temos três que se encaixam nessas condições: Rio de Janeiro, São Paulo e Buenos Aires...
Uma lembrança: há poucos meses, a Liga Sul-Americana de Clubes viveu uma crise: os brasileiros queriam a sede da Liga em São Paulo, preferencialmente, ou em Porto Alegre. Na primeira reunião depois da que teve lugar no Morumbi, os demais clubes bateram o martelo: sede no Brasil não! E escolheram Montevidéu.
Alguém acredita que a escolha das sedes para as finais únicas da Copa Libertadores será feita a partir de parâmetros técnicos e econômicos?
Como disse no início, a CONMEBOL prestou-nos um grande desfavor com esses anúncios incompletos, mas, pensando bem, vou retificar: a Confederação prestou-nos um belo favor, ao dar assunto para muita conversa nesses dias já agitados pelo começo da reta final do Brasileiro e pelo domingo eleitoral.
Desejo a todos um ótimo final de semana, bons jogos no sábado e boa eleição domingo.
Em tempo: acredito que cada um deve exercer seu direito de votar, uma das maiores conquistas da humanidade, e faze-lo conscientemente, conhecendo os candidatos, informando-se sobre eles.
E, fundamental, devemos votar sempre de acordo com o que pensamos e acreditamos que seja o melhor para nós mesmos, para os demais e, no caso dessa eleição, para a cidade em que vivemos.
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