O Benfica goleou por 4-1, num jogo em que foi sempre superior, e sagrou-se tricampeão português, numa tarde em que Nico Gaitán esteve em destaque.
O SL Benfica sagrou-se tricampeão da Liga NOS, este domingo, ao vencer o CD Nacional por 4-1. Um resultado claro, uma vitória que era o que a formação da Luz necessitava para arrecadar o 35º campeonato. Nem tudo foram facilidades, mas pelo que se assistiu na partida, as “águias” nunca pareceram em risco de ver fugir os três pontos. A eficácia de remate não foi a melhor, mas quando a pontaria apareceu, a concretização foi elevada, como os números o demonstram. Domínio absoluto, grande caudal ofensivoperante uma formação insular que só a espaços ameaçou.
Desde o arranque o Benfica tomou conta do jogo, autoritário, perante um Nacional mais encolhido e à procura do contra-ataque. Aos dez minutos os da casa somavam já 72% de posse de bola, dois remates sem a melhor direcção, enquanto os visitantes já haviam beneficiado de uma boa oportunidade. Mas a partir daqui só deu Benfica. Ao intervalo os “encarnados” somavam nove remates, dois enquadrados e a particularidade de sete desses disparos terem sido realizados dentro da grande área adversária. Gaitán (22′) marcou o primeiro e fez um passe de 50 metros no lance em que Jonas (39′) fez o segundo.
Ao intervalo já cheirava a título na Luz, que se confirmou numa segunda parte menos pressionante, mas mais eficaz: sete disparos (todos de dentro da área contrária), dois enquadrados, dois golos, 64,1% de posse de bola neste período. O Nacional terminou com com seis disparos, dois à baliza, marcou por Salvador Agra nos descontos, mas permitir que 14 dos 16 remates benfiquistas acontecessem dentro da sua grande área complica qualquer veleidade de um resultado positivo. Assim, O Benfica ganhou, justificou a goleada e nem precisou de alcançar números estratosféricos para o conseguir. E ainda deu para Paulo Lopes entrar e sagrar-se campeão na baliza benfiquista.
Gaitán na hora certa
O argentino Nico Gaitán tem andado um pouco longe da melhor forma, muito por culpa das várias lesões que o têm apoquentado – não jogou, por exemplo, na última jornada, em casa do Marítimo. Mas no jogo do título o número 10 surgiu a grande altura e foi o mais valioso em campo. Marcou dois golos em três remates, fez três passes para ocasião, seis cruzamentos de bola corrida (embora só um eficaz), ganhou 71,4% dos duelos que disputou e ainda ajudou na defesa, com sete recuperações de bola e dois alívios. Somou 8.2 no GoalPoint Ratings (GPR), numa despedida em beleza do campeonato.
Jonas (7.5 GPR) também esteve em destaque, com um golo marcado e o “título” de mais rematador em campo, com quatro disparos, um enquadrado, três passes para ocasião e uma assistência. E ainda ganhou 66,7% dos nove duelos que disputou. No Nacional, João Aurélio foi o melhor, com 5.6 GPR, fruto de um remate, um passe para ocasião, e ganhou os três duelos que disputou, recuperou quatros bolas, fez três intercepções e dois alívios. Insuficiente, porém, para travar o campeão.
"Os Bons rapazes também Ganham "
Opinião de Pedro Cunha Ferreira
Vitória não falhou. Quem falhou fui eu, numa avaliação limitada, motivada por uma noção errada de que, no contexto que o Benfica iria atravessar, apenas um pulso público forte polvilhado de “chicote” seria possível fazer frente às dificuldades.”
A História demonstra-nos, fora do futebol, que a prática de uma liderança eficaz não se limita ao exercício de uma personalidade “bélica”. No entanto, e talvez porque José Mourinho e Jorge Jesus tenham criado em muitos de nós essa relação inconsciente ente causa e efeito, também eu fui um dos que não previu grande futuro para Rui Vitória no Benfica, no contexto que encontrou.
É certo que não coloquei em causa a sua capacidade técnica. Mas o contexto que Vitória iria encontrar, carregado de adversidades que lhe eram alheias (as saídas de Jesus e Maxi, uma pré-temporada exigente pré-definida, uma aparente falta de aposta no plantel ao nível de outras épocas, etc.), aliado ao seu perfil “conciliador”, levou-me a crer que o agora treinador campeão iria falhar.
Vitória não falhou. Quem falhou fui eu, numa avaliação limitada, motivada por uma noção errada de que, no contexto que o Benfica iria atravessar, apenas um pulso público forte polvilhado de “chicote” seria possível fazer frente às dificuldades. É fácil falhar nestas circunstâncias: quantas vezes na vida antevemos um desfecho baseado em preconceitos cuja origem não sabemos bem qual é, a não ser quando somos confrontados com o falhanço da nossa antevisão?
Rui Vitória provou que é possível ganhar no pior dos contextos sem recorrer a tudo o que não seja o trabalho que faz com a sua equipa. As suas conferências de imprensa não ficaram na memória. Os seussoundbytes raramente “viralizaram” As suas provocações foram inexistentes. Existiu sim um trabalho complementado por postura serena, recuperando quase dez pontos de desvantagem quando chegou a estar estendido no “ringue”, a ouvir a contagem regressiva. Pelo caminho bateu recordes, tudo isto sem comprometer o estatuto “encarnado” nas restantes competições disputadas.
Em Inglaterra sucedeu algo semelhante, embora muito mais espectacular. Claudio Ranieri e Rui Vitória provaram, cada um à sua dimensão e graus de dificuldade, que no futebol moderno é possível ser um vencedor sem “mind games” e projecção de perfis conflituosos que, por vezes, nem correspondem à real personalidade dos protagonistas que os promovem. O Rui e o Claudio provaram que eu estava errado. E ainda bem. Quem me manda fazer previsões baseadas em “achómetro”?
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