Quando Pep Guardiola pediu a contratação de Douglas Costa, buscava, claramente, um jogador rápido e de drible fácil, ou no jargão dos técnicos, a vitória no um contra um. Sem querer (ou de propósito, vai saber), deu um recado claro ao futebol alemão, atual campeão do mundo: falta no país um jogador diferente com talento para o drible, para resolver um jogo individualmente. Algo que, na visão dos melhores técnicos europeus, ainda sobra aos principais jogadores brasileiros e indica: o caminho a ser percorrido por aqui é justamente o inverso do que fizeram os alemães.
Sim, a Alemanha, a toda-poderosa campeã do mundo e seleção mais capaz de dominar um jogo com posse de bola e amassar adversários (nem sempre dá certo e a Euro 2016 é a prova disso), sofre com problemas individuais. Não há por lá um craque de bola como Neymar, e sim vários ótimos jogadores. Não à toa, a maioria dos caras decisivos do Bayern de Munique não são alemães: Robben, Ribéry, Lewandowski, Vidal, Douglas Costa...
O futebol por lá é mais coletivo. De toques rápidos. De marcação-pressão na bola, jogadas por dentro e em aproximação. De meias criativos e volantes que comandam o meio-campo sem palavras de ordem e botinadas e com técnica e inteligência. A reformulação que houve na base foi justamente para que o padrão na escolha dos jogadores mudasse. Saíram os velocistas e fortes, aprovados em testes físicos padronizados, entraram os inteligentes, às vezes magrelinhos. A melhora no talento individual, mesmo sem ser fora de série, foi suficiente para, junto da disciplina coletiva e do entrosamento da máquina de jogar futebol montada por Guardiola (base da seleção alemã em 2014), produzir o 7 a 1 em cima do Brasil e ganhar a Copa do Mundo.
No Brasil, não é tão raro o surgimento de garotos cheios de alegria nas pernas e marketing no coração com o objetivo de ser o melhor do mundo. Por isso mesmo o caminho precisa ser justamente o inverso: o foco no futebol coletivo e na transpiração, que sempre sobraram ao futebol alemão. Um jogo que crie situações em que o talento possa decidir e não que deixe o time refém de espasmos desse mesmo talento.
Trocando em miúdos: a Alemanha já tinha a excelência coletiva, e passou a trabalhar melhor os atletas individualmente, mas dentro desse entendimento de jogo. Ao Brasil, que já tem bons jogadores, é necessário pensar melhor o jogo coletivamente, e já há passos nessa direção. A atuação contra Honduras, o sacrifício de Gabigol e Gabriel Jesus marcando pelos lados para o time e os comentários deRenato Augusto sobre tática após os jogos, saindo do clichê "Graças a Deus, com o apoio dos companheiros conseguimos os três pontos", mostram que há uma evolução nesse sentido, dentro de campo e no debate. Essa melhora merece ser coroada com o ouro olímpíco.
Rogério Micale sabe disso, enfatiza isso nas entrevistas coletivas e neste sábado comandará o time em mais um passo nesse caminho inverso ao alemão, que precisou de três ciclos de Copa do Mundo para se completar. Resta saber se terá tempo de caminhar um pouco mais se perder para a Alemanha, ou se será fritado pelos comentaristas de 7 a 1 de plantão.
Rogério Micale sabe disso, enfatiza isso nas entrevistas coletivas e neste sábado comandará o time em mais um passo nesse caminho inverso ao alemão, que precisou de três ciclos de Copa do Mundo para se completar. Resta saber se terá tempo de caminhar um pouco mais se perder para a Alemanha, ou se será fritado pelos comentaristas de 7 a 1 de plantão.
por Pedro Venancio
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