A pergunta, se não me falha a memória, já surgiu em outro post no longo dos sete anos de processo entre a escolha por candidatura única do Brasil a sede da Copa do Mundo e o Mundial em si. E, agora, ela é repetida, de forma ainda mais enfática, dada a situação do país como um todo.
Que país queremos ser?
Está chegando a hora de passarmos pelo nosso segundo megaevento. E, com ela, a cobrança que isso gera para o país. Podemos achar normal entregar uma obra ainda sem os arremates finais. Atrasar o cronograma em “alguns diazinhos''. Gastar com extras supérfluos dentro de algo grandioso.
Na cabeça do estrangeiro, isso não é normal. Por isso mesmo, as críticas aparecem de forma pesada. E tornam proporções mundiais.
O maior problema, porém, é que simplesmente não sabemos aceitar essa crítica.
O “chute no traseiro'' de Jérôme Valcke e o “canguru'' australiano foram prontamente rebatidos com veemência pelos nossos políticos. E da pior forma possível. Tratamos as críticas como algo que fere a soberania nacional, sem fazermos o serviço de autocrítica de como nos comportamos ao longo de 6 anos e meio de preparação para os Jogos Olímpicos.
Pior ainda é ver como Eduardo Paes tenta desmerecer as críticas que o Rio recebe, ou tenta ironizá-las, sem ao menos fazer a mea culpa e reconhecer que o erro é todo nosso. Imagino qual seria a reação do digníssimo prefeito do Rio se ele chegasse a um hotel em Maricá que estivesse sujo. Se é que ele aceitaria se hospedar em Maricá…
O exercício que Copa do Mundo e Jogos Olímpicos deveriam ter gerado para nós, brasileiros, era o de exame da consciência. Os megaeventos servem para apresentar nosso país ao mundo. Que imagem queremos deixar? A de um país encantador, mas cheio de defeitos? Ou a de um país encantador, que batalha e se esforça para ser de primeiro nível?
A Copa já havia mostrado para o estrangeiro que, apesar dos pesares, fizemos um evento espetacular. As Olimpíadas, como expus aqui outro dia, também nos deixarão a mesma impressão. “No final dá certo'', mas qual o preço que se paga por isso?
Quando nossos políticos se comportam como crianças birrentas diante de um puxão de orelha ao rebater as críticas que são recebidas, nós colocamos a perder a grande chance que havia com os megaeventos. Eles poderiam ajudar a mostrar ao mundo que o brasileiro é um povo muito mais do que apenas cativante. Somos preparados, dedicados, batalhadores.
Bilhões de reais estão sendo investidos por empresas privadas nos Jogos Olímpicos para ajudar a transformar a imagem do país para o estrangeiro. Empresas que têm investido bastante para tentar promover o evento e fazer com que ele seja realmente transformador, de alguma forma, da nossa realidade.
Quando ironiza as críticas sobre as falhas da organização do evento, Eduardo Paes joga contra não apenas a própria imagem, mas também a do Brasil como um país que cresceu e chegou à fase adulta. O Brasil que queremos ser ficou, mais uma vez, deitado eternamente em berço esplêndido…
Autor : Erich Beting
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