segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Tondela 0 - 0 FC Porto - (crónica)

Resultado de imagem para flag portugal



O tubo de ensaio explodiu no laboratório do professor Nuno. Nas mãos do treinador. A raiz quadrada elevada ao cubo, X por Y é igual à soma dos catetos da hipotenusa… Tudo errado nos cálculos feitos para a visita ao Tondela, mistura perigosa e potencialmente transmissível.

Cabelos em pé, olhos esbugalhados, o FC Porto deixa dois pontos importantíssimos na casa de um brioso oponente.

A engenhoca pensada por Nuno não passa nos testes do controlo, tolhida por um evidente primarismo. 4x4x2 a lembrar outros tempos, experiência a pensar na potência e efetividade de um futebol direto mal executado e mal gerido durante 90 minutos.

Dois pontas de lança em dia não – André Silva terrivelmente desinspirado, Depoitre uma verdadeira nulidade -, dois alas que não chegam uma vez à linha de fundo e não fazem um cruzamento (o que seria um dos princípios fundamentais desta experiência falhada de Nuno).

OS DESTAQUES DO JOGO: Otávio e dois bons guarda-redes

Otávio e Brahimi são homens de bola no pé, de busca constante de zonas interiores; Rúben Neves e André André são médios que jogam sobretudo de forma lateralizada. Conclusão: as bolas lançadas para os avançados chegavam essencialmente dos laterais (Layún e Telles) ou, vejam só, de um dos próprios pontas-de-lança, quando caía para um dos flancos.

Tudo isto de uma forma absolutamente previsível e lenta durante uns bons 75 minutos. Nem um remate enquadrado, nem um lance de sufoco para Cláudio Ramos, nem um lampejo de génio ou excelência, apesar das tentativas nobres de Otávio (o melhor dos dragões, com Casillas) e de Brahimi, empenhado e comprometido.

Ora, falávamos em primarismo. Vamos a ele. No futebol moderno, onde se pede velocidade e qualidade para desbloquear blocos duros e baixos, este tipo de poção criada por Nuno teria sempre muitas dificuldades em dar certo.

A FICHA DO JOGO E O FILME DA PARTIDA

Não há planos infalíveis, mas há convicções e ideias firmes, melhores ou piores. E o que é grave é que, chegados a setembro, não conseguimos identificar a fórmula-NES nesta equipa do FC Porto, apenas um destroço de rascunhos num caderno já sujo e gasto, com dois meses de competições oficiais.

Quem não tem culpa nenhuma de tamanha incompetência é o Tondela, claro. Agressivo no comportamento defensivo, ameaçador nas saídas por Wagner e Murillo (o extremo cedido pelo Benfica falhou no um para um com Casillas aos 72 minutos) e concentrado em tudo o que foram duelos físicos.

O ponto fica muito bem à equipa de Petit, apesar da reta final do FC Porto, num assombro de orgulho e amor próprio. Os dragões podiam ter ganho nesse assalto final, mas se o golo surgisse – e podia ter surgido, não estivesse André Silva numa tarde horrenda – arruinaria a lógica de tudo o que tinha ficado para trás.

Nuno Espírito Santo tem muito para refletir e decisões importantes a tomar. A começar, provavelmente, no rumo que pretende abraçar. Que FC Porto quer o técnico? Ainda não percebemos, honestamente.

Vociferar o ‘Somos Porto’ e o ‘não temos metas nem limites’ não bate certo com os ensaios práticos desta equipa. Isto só torna profundamente embaraçosas as invenções de um laboratório sem certificado nem marca registada.







Tondela-FC Porto, 0-0 (destaques)


A FIGURA:
Otávio

Veste smoking na arena em que combate. É um gladiador de técnica refinada, se preferirem esta imagem. Técnica e garra em doses bem divididas, um pitbull de lacinho ao pescoço. Rodeado de apatia e previsibilidade, Otávio agita, provoca, reage e procura contagiar. Poucos espaços, muita agressividade no adversário, demasiada bola pelo ar? O menino brasileiro não se conforma, não aceita, procura levar o jogo para onde se sente mais confortável: à flor da relva e junto á área contrária. Arrancada soberba aos 28 minutos, a não pedir licença e a driblar uma floresta de pernas tondelenses, até ser parado em falta. Na esquerda ou mais pelo centro, um elemento indispensável no FC Porto de NES.

O MOMENTO: minutos 72 e 90, Casillas e Cláudio Ramos decisivos
Jhon Murillo ganha em velocidade a Boly, isola-se e remata já bem dentro da área. Iker Casillas dá uns passos em frente e faz uma defesa milagrosa. A melhor oportunidade de golo em todo o jogo. Já no período de descontos, Adrián López também apareceu na cara de Cláudio Ramos mas, mais apertado, atirou contra o guarda-redes.

NEGATIVO:
André Silva e Depoitre

Primeiro, o português: elogios não lhe têm faltado, hoje é o dia de colocar os pés na relva e ler isto: fez o seu pior jogo na equipa A do FC Porto. Lento a decidir e a executar, precipitado a decidir, mesmo quando teve espaço (sozinho sobre a esquerda aos 20 minutos). Lutou, tentou, sim senhor, mas quase nada lhe saiu bem do ponto de vista técnico. Na cara de Cláudio Ramos, aos 82 minutos, atirou para a defesa de Cláudio Ramos e imediatamente a seguir atirou às malhas laterais. Assim não.

Agora, o belga: não é possível cabecear por cima da barra aquele lance aos 61 minutos. Não de ponta de lança de clube grande. Sozinho, bem colocado, incapaz de direcionar a bola. Tão mal a jogar de primeira, tão mal na receção. Corpulento, lutador e só. Tempos houve em que para ser jogador do FC Porto o critério de seleção era muito mais apertado. Pode ser desadaptação, pode ser que o tempo envergonhe estas palavras.   

OUTROS DESTAQUES

Iker Casillas

Tudo o que fez, o guarda-redes espanhol fez bem. Até nos cruzamentos. Absolutamente decisivo ao defender aos 72 minutos o remate de Jhon Murillo. Provavelmente o melhor do FC Porto, lado a lado com Otávio.

Yacine Brahimi
Primeira aparição na Liga 2016/17. Mais vezes sobre a direita, mas em busca permanente de zonas interiores. Comprometido, sim senhor, conforme afirmara na passada quarta-feira. O problema não foi esse. Muito marcado e a jogar quase sempre de costas, o argelino fez o possível e criou situações interessantes. O problema – agora sim – é que as linhas de acesso aos dois pontas de lança estavam bloqueadas e nem o driblador magrebino contorna rotundas consecutivas. Excelente aos 32 minutos, a rasgar um muro amarelo e verde antes de entregar a André Silva. Substituído aos 56 minutos, aparentemente sem fôlego para mais.

Willy Boly
Nota mais na estreia absoluta de dragão ao peito. A jogar simples, avesso ao risco, consciente das próprias limitações. Acertado no bloqueio a Crislan, sempre sereno. Faltou-lhe outra agressividade nas bolas paradas ofensivas e outra abordagem no lance em que Jhon Murillo se isola e obriga Casillas a brilhar. Para primeiro jogo, nada mau.

Claude Gonçalves
Rotações excitadas, dinâmica permanente. O primeiro remate perigoso do jogo sai de um pé direito capaz de adestrar a bola com ternura. Natural da Córsega, filho de portugueses, pode ser de facto relevante neste Tondela. O melhor e o mais esclarecido dos três médios escolhidos por Petit.

Mamadu Candé
O Tondela tem um belo lateral esquerdo, corajoso e de habilidoso. Defendeu com critério, beneficiando da predisposição de Brahimi procurar outras bandas, e atacou sem qualquer receio. Cruza bem, bate livres com boa técnica, um menino de 25 anos (ex-Portimonense) para seguir.

Rúben Neves
Num ritmo entre o médio e o baixo, o homem mais recuado do meio-campo azul e branco rodou o jogo com qualidade, arriscando menos no passe largo e apostando num jogo mais apoiado. Lúcido até ao fim. O passe a abrir em Alex Telles, aos 76 minutos, é brilhante.

Adrián López
Passe em habilidade para o cabeceamento torto de André Silva e, surpresa das surpresas, muita garra e vontade. Se continuar assim pode vir a ser útil. Boa entrada em jogo.

Cláudio Ramos
Impecável do princípio ao fim. Defesa extraordinária na cara de André Silva, a oito minutos do fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário