Retrospectiva 2014: Galo é o dono do Brasil
2014 será para sempre lembrado pela épica conquista nacional do Atlético em cima do Crüzeiro.
Mas 2014 começou muito estranho! Culpem o calendário especial com Copa do Mundo, reduzindo o tempo de pré-temporada ou a troca de comando técnico, com a chegada de Paulo Autuori com um estilo de trabalho antagônico ao de Cuca, o fato é que o primeiro semestre não foi digno do Atlético ao qual estávamos nos acostumando.
A perda do tricampeonato mineiro em dois empates medrosos com o Crüzeiro e a derrota no jogo de ida válido pelas oitavas-de-final da Libertadores para o Nacional de Medelín catapultaram Autuori para os quintos dos infernos. Foi substituído por Levir Culpi, que não conseguiu organizar o time a tempo de salvar sua pele no torneio continental.
Resultado: um primeiro semestre jogado no lixo. Sem nada para comemorar, a não ser o aniversário de dois anos do casamento Atlético e Ronaldinho Gaúcho.
Veio a Copa do Mundo e a intertemporada obrigatória. Lá se foi o Galo para a China enquanto a seleção argentina se aboletava nas nababescas instalações da Cidade do Galo. Assim que terminasse o torneio de seleções, o Atlético teria um importante compromisso: a disputa da Recopa Sul-Americana. O rival? O Lanús, da Argentina, oponente na conquista da Conmebol de 1997.
A Recopa chegou e, para os padrões atleticanos altamente exigentes no quesito emoção e taquicardia, o primeiro jogo foi café-com-leite. O Lanús foi um Crüzeiro pra gente. Vencemos em Buenos Aires por 1 a 0, gol de Tardelli. Mas o segundo jogo...
A conquista da Recopa foi, além da primeira alegria do ano, a chave que viraria o futebol do Atlético. Saídas dolorosas, como o adeus a Ronaldinho Bruxo Gaúcho, mudança de postura de alguns jogadores e a busca de Levir por uma nova filosofia de jogo.
Para que conquistássemos algo em 2014, nem que fosse uma vaga para a Libertadores de 2015, seria fundamental que Levir construísse um modelo tático com maior amplitude de jogadas, menos óbvio. Com o pivô fixo na área, o Atlético tinha se tornado alvo fácil.
No Campeonato Brasileiro, o Galo não engrenava sequências seguidas de vitórias fora de casa, fundamentais para quem pleiteava o título. Definitivamente, a regularidade não era a nossa maior aliada.
Não foi fácil publicar o texto acima. Gastei horas e horas analisando o comportamento da equipe em jogos dentro e fora do Independência. Era nítida a diferença de postura! O Galo era insuperável em casa e sofrível fora dela.
Justamente por essas características, fez muito sentido para mim cravar, ainda no mês de agosto, que deveríamos apostar todas as nossas fichas na Copa do Brasil. Escrevi: "Vamos lá, Galo. Hora de começar uma nova competição. Do zero, livro em branco pra escrever bela história."
Duas vitórias contra o centenário Palmeiras, equipe que jogou as competições do segundo semestre visando não cair para a série B do Brasileirão. Graças a Deus, segurou firme o rojão e nos garantiu seis pontos em 2015.
Levir Culpi se autoproclama um burro com sorte. Jô poderia ter o mesmo apelido. A sorte, meu amigo, é aquele cobertor curto que descobre a cabeça quando cobre os pés. A sorte de Jô terminou na Copa do Mundo. Sobraram-lhe só as burrices. E ele nos deixou, assim como André e Emerson Conceição. Esse Levir é mesmo um sortudo.
Vieram em sequência o Corinthians do Mano bailarino e o Flamengo freguesaço histórico. Duas partidas de ida para esquecermos e duas obras-primas feitas em pleno Mineirão para ficarem na história.
O campeonato brasileiro seguiu seu curso natural, sem graça e sem interesse do grande público, aquela atriz principal de novela que, aos poucos, vê seu papel sendo reduzido à coadjuvância irreversível. Como o foco era a vaga para a final da Copa do Brasil, Levir alternava o time principal com o sub-20, os Meninos do Horto.
Veio então a final. Mais do que a decisão de um torneio, um grand finale: do lado de lá, o maior rival alvinegro e líder do Brasilerão, carente de holofote, uma Nazaré esquecida. Do lado de cá, o time que transformou a crença em amante às quartas-feiras.
O primeiro jogo foi um passeio completo. Time de profissionais contra amadores sedentos por autógrafos e deslumbrados com o palco. Tremeram na base, como sempre.
Daí, apareceu a sórdida atuação de seus diretores nos bastidores do espetáculo. Temendo o poderio alvinegro vindo das arquibancadas, o Crüzeiro buscou de todas as formas excluir a massa atleticana da final.
Sim, só 1.800 atleticanos conseguiram ingresso para a finalíssima. O DNA siciliano do time celeste é inequívoco. Mas essas quase 2.000 vozes alvinegras viram, em uma das poucas vezes - e na mais importante delas - o Galo jogar bem sem ser o mandante. Mas a verdade, e sabemos disso, é que o Atlético é quem manda no Mineirão desde sempre. Aquilo tudo ali é nosso. Ou seja: o Galo continua a jogar bem e ganhar só dentro de casa.
Levamos a taça e apertamos o cabresto no nosso pet regional. Conquistamos o Brasil e carimbamos o passaporte para a Libertadores pela terceira vez consecutiva, em busca do bicampeonato da América.
2014 deixou lições importantes. Basta olharmos para os momentos determinantes da nossa conquista: técnico com firmeza de propósitos e ciente da importância da Massa. Jogadores comprometidos entre si e com a instituição. Opções de jogadas e jogadores, jamais abrindo mão de bons armadores e da rápida recomposição da defesa. Tranquilidade para jogar partidas fora de casa e manter a sintonia entre o time e a torcida nos jogos como mandante. E uma dose extra de sorte para o Levir.
Que venha 2015. Feliz ano novo, CAMikazes.
Por
Christian Munaier, do CAMikaze
UOL.COM.BR
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