futebol interior
BARCELONA 2008-2012
Grandes feitos: Bicampeão do Mundial de Clubes da FIFA (2009 e 2011), Bicampeão da Liga dos Campeões da UEFA (2008-2009 e 2010-2011), Bicampeão da Supercopa da UEFA (2009 e 2011), Tricampeão Espanhol (2008-2009, 2009-2010 e 2010-2011), Bicampeão da Copa do Rei (2008-2009 e 2011-2012), Tricampeão da Supercopa da Espanha (2009, 2010 e 2011) e Encantador de plateias pelo mundo inteiro.
Time base: Victor Valdés; Daniel Alves, Piqué (Rafael Márquez / Yaya Touré), Puyol e Abidal (Sylvinho); Sergio Busquets, Xavi e Iniesta; Messi, Pedro (Eto´o / Alexis Sanchéz) e Villa (Henry / Cesc Fàbregas). Técnico: Josep “Pep” Guardiola
“A bola é nossa. E o futebol arte também…”
Você já imaginou uma equipe tocar a bola sem parar, sem pressa, de maneira quase perfeita, dominar o adversário e não o deixar jogar? Já pensou um time que tem mais de 70% da posse de bola, que marca golaços e que tem uma equipe recheada de craques que parecem jogar por diversão um futebol quase de outro mundo? E em uma equipe que conquistou, de 2009 até 2012, 14 títulos de alta grandeza, incluindo dois Mundiais, duas Liga dos Campeões e três Campeonatos Espanhóis? É mágico e surreal pensar que um time desses existiu e ainda existe, embora passando por uma inédita “crise”. O FC Barcelona 2008-2012 mostrou ao planeta que o futebol é simples e eficiente quando jogado com inteligência e precisão. A equipe catalã rechaçou que craque se faz em casa, que categorias de base são tudo na estruturação de uma equipe com identidade e amor à camisa e que as estrelas do time é o time em si, e não um ou dois jogadores. O fator conjunto nunca foi tão importante. E o espetáculo nunca foi tão bonito. Desde o Milan de Van Basten, Gullit, Rijkaard, Maldini e Baresi ou mesmo do Santos de Pelé, o mundo não via um time tão brilhante, tão eficiente e tão espetacular com a bola nos pés. Ver o Barcelona jogar virou entretenimento de primeira classe até mesmo para quem era avesso ao futebol. Contemplar e ficar estupefato com o primor de Xavi, Iniesta, Puyol, Villa e Messi, comandados do banco de reservas pela joia Guardiola foi mesmo magnífico. É hora de relembrar.
La “Magia”
Depois do ano mágico de 2006, quando venceu a Liga dos Campeões da UEFA depois de 14 anos, o Barcelona estava há três temporadas sem ganhar um título. A seca começou a gerar desconforto no clube, bem como ver o reinado na Europa passar pelas mãos de Milan, em 2007, e Manchester United, em 2008. O Real Madrid tinha suas habituais estrelas, mas não conseguia causar impacto como os ingleses, por exemplo. Até o Sevilla estava em melhores condições que os catalães, pois venceu duas Copas da UEFA no período, além de uma Supercopa da UEFA em cima do próprio Barcelona. Esse incômodo fez o time passar a olhar com mais cuidado para La Masia, centro responsável por gerar os craques do time. A pessoa responsável por olhar mais atentamente para as bases do clube foi o ex-ídolo catalão na década de 90 Josep Guardiola, que assumiu o time em 2008.
Guardiola começou a política de utilizar jogadores formados na base do time e valorizar ainda mais as estrelas formadas em casa. Essa atitude seria, definitivamente, um divisor de águas na história do Barça para sempre.
Tomando a bola para si
Guardiola, além de dar mais valor aos jogadores de La Masia, começou a padronizar o estilo de jogo do Barcelona em um requisito básico, porém fundamental e esquecido há anos no futebol: a posse de bola. O treinador se espelhou no que o próprio futebol brasileiro fazia décadas atrás (e que deixou de fazer não se sabe por que…) e fez seu time passar a dominar a posse de bola e ter sempre o controle do jogo, de modo a não dar chances de contra ataques ou pressões dos adversários. Com isso, o Barcelona rapidamente começou a se destacar no futebol espanhol e, consequentemente, europeu, com jogadas vistosas, passes precisos e o elixir de jogadores como Iniesta, Xavi e, sobretudo, Messi.
Contratações pontuais formam o esquadrão
Além das estrelas de casa, Guardiola pediu a contratação de outros jogadores para ter, enfim, um plantel de respeito. Dito e feito, o Barcelona trouxe o lateral direito brasileiro Daniel Alves e o zagueiro espanhol Piqué, cria do Barça que estava no Manchester United. O time trouxe ainda peças de reposição importantes como Seydou Keita e conseguiu ter, enfim, uma base formada. A base da equipe era Valdés no gol, Puyol, Piqué, Sylvinho (Yaya Touré) e Daniel Alves na zaga, Busquets, Xavi e Iniesta no meio de campo e um ataque fabuloso com Eto´o, Henry e Messi. Era uma seleção, tida por muitos até como melhor que o Barça de 2011. O time começou rapidamente a pôr na roda, literalmente, seus adversários, e assumiu a liderança do Campeonato Espanhol na 9ª rodada. De onde não sairia mais.
Espetáculos
Em janeiro de 2009, o Barcelona conseguiu um recorde de 50 pontos conquistados em 57 disputados, com 16 vitórias, 2 empates e apenas 1 derrota na Liga espanhola. Tempo depois, o time chegaria à final da Copa do Rei pela primeira vez desde 1998. Na Liga dos Campeões, o time foi líder na fase de grupos e despachou nas oitavas de final o Lyon, com empate em 1 a 1 na França e vitória por 5 a 2 na Espanha. Nas quartas, vitória por 4 a 0 sobre o Bayern München em casa e empate em 1 a 1 fora. O time estava nas semifinais, era líder absoluto do Espanhol e estava na final da Copa do Rei. Tudo mil maravilhas? Ainda não, faltavam os testes finais.
Épico – parte 1
Antes de encarar o Chelsea, o Barcelona teve o jogo decisivo pelo Campeonato Espanhol contra o Real Madrid, no Santiago Bernabéu. Para o Real, era a chance de derrotar o principal rival e se manter ainda na briga pelo título. Para o Barça, era o momento certo para embalar de vez e começar a coleção de títulos daquela temporada. O Real, porém, tratou de abrir o placar com Higuaín, aos 13 minutos de jogo. A festa dos merengues não durou muito, pois Henry empatou aos 17´. Apenas três minutos depois, Puyol, de cabeça, virou para o Barça. O time catalão jogava muito e o Real parecia atordoado. Aos 35´, Messi ampliou. No segundo tempo, Sergio Ramos diminuiu para o Real em uma tentativa de reação, mas, de novo três minutos depois, Henry fez 4 a 2 Barça. Aos 73´, Messi transformou o clássico em goleada fazendo 5 a 2. Perto do fim, Piqué deu números finais ao jogo histórico: Real Madrid 2×6 Barcelona. O estádio de Madrid não se conteve e aplaudiu a atuação de gala dos catalães. O mundo, idem. O espetáculo proporcionado pelo Barça naquele jogo foi uma mostra clara do futebol arte e do novo padrão que o time estava construindo. Aplicar uma goleada daquele porte, de virada, em um Real Madrid que tinha Casillas, Cannavaro, Marcelo, Sergio Ramos, Heinze, Robben, Higuaín e Raúl, na casa dos merengues, não era para qualquer um. O show serviu como base para os duelos decisivos que o time teria daquele dia em diante. Sobre o Campeonato Espanhol? O Barça venceu, claro, com 87 pontos (9 a mais que o vice-campeão Real), 105 gols marcados e apenas 35 sofridos…
Épico – parte 2
O Barcelona encarou o sempre perigoso Chelsea nas semifinais da Liga dos Campeões de 2008-2009. A equipe inglesa, sempre bem postada defensivamente, conseguiu um empate sem gols na primeira partida, em pleno Camp Nou, e teria apenas que vencer a volta para chegar pela segunda vez seguida à final da competição (o Chelsea foi vice em 2008). No estádio Stamford Bridge lotado, o Barcelona não conseguia furar a retranca do Chelsea, e ainda levava sufoco nos ataques do time azul. Logo aos 9´do primeiro tempo, Essien fez 1 a 0 Chelsea. O resultado persistiu até perto do final do jogo. O Barcelona precisava apenas de um gol para ir à final. O Chelsea se segurava como podia. O cronometro marcava 45´do segundo tempo e o jogo iria até 48´. A torcida do Chelsea cantava e vibrava como quem já estava na final. Será que o recente futebol arte perderia logo em seu primeiro teste de fogo? Foi então que o improvável aconteceu. O Barcelona partiu para o ataque pela direita com Daniel Alves. O lateral olhou para o ataque e fez o cruzamento. Depois de um bate e rebate na área do Chelsea, a bola sobrou para Messi. O craque, sem espaço para chutar, encontrou Iniesta na direita. O espanhol recebeu do argentino e, de primeira, fuzilou o goleiro Cech. Gol! No último minuto de jogo! O Barcelona, desafiando o tempo e todos, empatava em 1 a 1 e se classificava para a final da Liga dos Campeões. Os ingleses pareciam não acreditar. Diante de um estádio mudo, a festa era azul e grená. O Barça estava na final da Europa.
Depois de se garantir na final da Liga dos Campeões e de conquistar o Espanhol, o Barcelona ainda venceu a Copa do Rei em cima do Athletic Bilbao, que levou 4 a 1 dos blaugranas (Yaya Touré, Messi, Bojan e Xavi anotaram os gols). Com mais uma taça na galeria, era hora de buscar a terceira na temporada: a Liga dos Campeões.
Europa dominada
O estádio Olímpico de Roma, na Itália, recebeu dois titãs do futebol europeu para a decisão da Liga dos Campeões da UEFA de 2008-2009. De um lado, o então campeão Manchester United, que tinha estrelas do naipe de Van der Sar, Ferdinand, Vidic, Evra, Giggs, Rooney e Cristiano Ronaldo. Já o Barça contava com as estrelas formadas em casa e outros “intrusos”, indo para a final com jogadores como Valdés, Puyol, Piqué, Busquets, Xavi, Iniesta, Messi, Henry e Eto´o. Ambas as equipes primavam pela técnica, com o Barcelona mais forte no quesito posse de bola e força de ataque. O Manchester apostava na sua forte defesa e no poder de contra ataque. A partida começou quente e com chances dos dois lados, até que aos 10 minutos o matador Eto´o abriu o placar para o Barça. O gol fez o Manchester tentar de todas as maneiras chegar ao gol, mas sempre parando nas defesas de Valdés ou na falta de pontaria de C. Ronaldo. Como quem não faz leva, Messi, aos 70´, marcou o segundo gol, decretando a vitória por 2 a 0 e o terceiro título de campeão europeu ao Barcelona. Era a vitória da arte recém em voga na Europa com o time catalão, que primava pela técnica, pelo efeito e pela bom futebol. O time virava, a partir dali, a equipe da moda.
Mudanças e mais dois canecos
Após o título europeu, o Barcelona perder seu talismã Eto´o para a Internazionale, mas trouxe o sueco Ibrahimovic. O matador escandinavo chegou com status de estrela no time catalão, mas suas brigas com o técnico Guardiola culminariam com sua saída já em 2010. Além de Zlatan, a outra novidade foi a titularidade do lateral francês Abidal e a constante aparição de jovens como Pedro e Bojan no ataque do time. Em agosto, o clube faturou seu quarto título na temporada: a Supercopa da Espanha, ao derrotar novamente o Athletic Bilbao em dois jogos: 2 a 1 em Bilbao e 3 a 0 no Camp Nou.
Cinco dias depois, veio o quinto título: a Supercopa da UEFA, com magra vitória por 1 a 0 sobre a legião de brasileiros do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, que contava com Ilsinho, Willian, Fernandinho, Jádson e Luiz Adriano. O gol do Barça foi marcado por Pedro, que mostraria faro de gols para muitas outras decisões do time catalão.
A consagração do “sêxtuplo”
Nenhum time na história do futebol mundial havia ganhado seis títulos de peso em apenas uma temporada. A façanha, porém, caiu por terra em dezembro de 2009, no Mundial de Clubes da FIFA, disputado nos Emirados Árabes Unidos. O Barcelona venceu, nas semifinais, o Atlante (MEX) de virada por 3 a 1, gols de Busquets, Messi e Pedro. O time estava na final e encararia o Estudiantes, da Argentina, campeão da Libertadores de 2009.
O jogo foi disputado, mas com o Barcelona tendo a maior posse de bola (como sempre) com 64%. Porém, aos 37´, Boselli fez 1 a 0 para o Estudiantes. O placar favorável aos argentinos fez com que eles se segurassem na defesa, claro, para evitar sustos ou uma exposição maior. Mas o Barcelona foi insistente e conseguiu, no finalzinho do jogo, chegar ao empate com o talismã Pedro, aos 44´do segundo tempo. O gol foi um baque para o Estudiantes, que via o título mundial escapar pelos dedos.
Na prorrogação, Messi, de peito, marcou o gol que deu o primeiro título mundial ao Barça e, de quebra, um novo recorde: a equipe era a primeira (e até hoje única) a vencer 6 títulos numa mesma temporada. A façanha fez Guardiola chorar naquela final. Ele sabia que havia feito história. E entrado de vez para o rol de imortais do clube. Mas o apogeu estava apenas começando…
Disputa intensa em casa
Na temporada 2009-2010, o Barcelona era a vitrine no mundo da bola. Todos começavam a contemplar o futebol de Xavi, Messi, Iniesta, Puyol e Cia. O time travou com o rival Real Madrid uma intensa disputa pelo título espanhol, que foi decidido apenas na última rodada, com o Barça terminando com 99 pontos e o Real com 96. O time catalão anotou 98 gols e sofreu apenas 24. Os destaques foram as duas vitórias sobre o Real – por 1 a 0, no Camp Nou, e 2 a 0 em Madrid. Messi e Pedro foram os grandes destaques da equipe ao anotarem os principais gols do time e formarem uma dupla em sintonia, cumprindo o papel que o rebelde Ibrahimovic não cumpria, culminando com sua saída para o Milan.
Drama na Liga
O Barcelona, mesmo com poucos jogadores em seu plantel e com a carga excessiva de jogos, conseguiu chegar até as semifinais da Liga dos Campeões da UEFA em 2009-2010. Porém, o time caiu diante da futura campeã Internazionale, que venceu por 3 a 1 em Milão e segurou a magra derrota por 1 a 0 no Camp Nou. A queda foi muito sentida, pois o time poderia facilmente chegar a final e conquistar o bicampeonato consecutivo. Mas o cansaço pesou, e o Barça teve de se contentar com o caneco do Espanhol e da Supercopa da Espanha.
Quando o rival vira “saco de pancadas”
Na temporada 2010-2011, o Barcelona ficou mais forte com a chegada do artilheiro David Villa (que brilhara na Copa do Mundo de 2010 atuando na campeã Espanha), do volante Mascherano, do meia/atacante Afellay e do lateral Adriano. O Barça não mudou seu jeito de jogar e continuou seus shows particulares. A temporada ficou marcada pelo início da rixa entre o time e José Mourinho, então novo treinador do Real Madrid. O português começou a polemizar sempre quando se dirigia ao Barcelona e criou um clima de guerra para o confronto entre as duas equipes, no Camp Nou, no primeiro turno do Campeonato Espanhol 2010-2011. Mas quem esperava um duelo equilibrado viu um espetáculo do Barcelona: 5 a 0, com dois gols de Villa, um de Xavi, um de Pedro e um de Jeffrén, além de ver o Real levar 8 cartões amarelos e ter Sergio Ramos expulso. A “pilha” de Mourinho acabou tendo o efeito contrário e culminou na extensão da freguesia dos merengues contra o Barça na era Guardiola. No returno, o time catalão empatou no Santiago Bernabéu em 1 a 1 e assegurou o tricampeonato nacional seguido.
No final de 2010, uma premiação deixou claro que o protagonista no futebol mundial era o Barcelona, mesmo com os títulos da Liga dos Campeões e do Mundial tendo ficado com a Internazionale. No prêmio da Bola de Ouro da FIFA, Messi, Iniesta e Xavi foram, respectivamente, 1º, 2º e 3º melhores jogadores do planeta naquela temporada. Um feito histórico não só para os jogadores, mas também para o clube, que via suas estrelas se consagrarem em definitivo.
Rumo ao tetra
Com um plantel maior e um time completamente entrosado, o Barcelona partiu rumo à conquista da Europa. Depois de passear na fase de grupos com 4 vitórias e 2 empates, o time eliminou os fregueses do Arsenal nas oitavas de final ao perder o primeiro jogo, na Inglaterra, por 2 a 1 e vencer no Camp Nou por 3 a 1. Nas quartas de final, baile sobre o Shakhtar (UCR) no Camp Nou: 5 a 1, com um simples 1 a 0 (gol de Messi) na volta. Mas o grande desafio seria nas semifinais, fase em que o Barça enfrentaria seu maior rival: o Real Madrid.
Show = Messi
O Santiago Bernabéu viu naquele dia 27 de abril um confronto histórico entre Real e Barça. O time merengue precisava da vitória para jogar com a vantagem na casa do Barcelona, no Camp Nou. Já os blaugranas queriam vencer e poder jogar pelo empate na volta. A partida, novamente, foi tensa, com Mourinho sempre brigando e fazendo seus jogadores pensarem mais em bater do que em jogar futebol. E quando se fala em futebol, naquele dia e hoje, se fala em Messi. O argentino simplesmente arrasou no segundo tempo, fez dois golaços de gênio, e garantiu a ótima vantagem do Barça para o jogo de volta: 2 a 0.
No Camp Nou, Pedro abriu o placar para o Barça, Marcelo empatou para o Real, e ficou nisso: 1 a 1, resultado que colocou o Barcelona em mais uma final de Liga dos Campeões. O adversário seria, novamente, o Manchester United.
A dominação da Europa
O Manchester United jogou na Inglaterra, em Wembley, a final da Liga dos Campeões da UEFA de 2010-2011. O time esperava fazer o ligeiro fator casa um dos artifícios para devolver a derrota em 2009 para o Barcelona. Mas pareceu mesmo que o Barça jogou no Camp Nou… Wembley assistiu a uma apresentação de gala do esquadrão comandado por Messi, Xavi, Iniesta e Villa. O time deu 19 chutes a gol contra apenas 4 do Manchester, teve 63% de posse de bola e fez apenas 5 faltas no jogo, contra 16 dos ingleses. O espetáculo começou com Pedro, sempre ele, aos 27´do primeiro tempo. Rooney até empatou em um belo gol aos 34´, mas no segundo tempo o Barça tratou a bola com carinho, de pé em pé, e matou o jogo em dois chutaços de Messi e Villa, fazendo 3 a 1 e conquistando o tetracampeonato europeu. O time se consagrava de vez como uma das melhores equipes que a Europa já havia visto e, consequentemente, o planeta. Abidal foi quem levantou a taça depois de superar um câncer, em uma bela homenagem do capitão Puyol. Guardiola vencia sua segunda taça europeia em apenas três anos. Nada podia ser melhor. Ou podia? Claro que sim! Que tal vencer o eterno rival mais algumas vezes?
Reforços e mais dois canecos
O Barcelona se reforçou no começo da temporada 2011-2012 e trouxe o atacante chileno Alexis Sánchez e o antigo sonho de consumo Cesc Fàbregas (outro revelado em La Masia). Reforçado, o time nem ligou para a perda da Copa do Rei para o Real e se vingou na decisão da Supercopa da Espanha de 2011. Depois de empatar em 2 a 2 em Madrid, o time espanhol venceu por 3 a 2 no Camp Nou e ampliou ainda mais a freguesia do rival, que novamente perdeu a cabeça e gerou muita confusão.
Tempo depois, o time venceu mais uma Supercopa da UEFA ao derrotar os campeões da Liga Europa, o Porto, por 2 a 0, com gols de Fàbregas e Messi.
Preparação de gala para o Mundial
O Barcelona seguiu em “banho Maria” de setembro até dezembro antes de disputar o Mundial de Clubes da FIFA. Embora tenha tirado o pé em muitas partidas, o que ocasionaria mais tarde a perda do título Espanhol, a equipe protagonizou shows: 5 a 0 no Villarreal, 8 a 0 no Osasuna, 5 a 0 no Atlético de Madrid, 5 a 0 no Mallorca, 4 a 0 no Zaragoza, 4 a 0 no Raio Vallecano e 5 a 0 no Levante. Após esta vitória, o time enfrentaria novamente o “saco de pancadas” Real Madrid, no Santiago Bernabéu. Seria a última partida antes da viagem para o Japão.
Recital em azul e grená
O Real entrou novamente com “sangue nos olhos” diante dos fabulosos blaugranas e até abriu o placar com Benzema com um minuto de jogo, após falha de Valdés. Mas aquele seria apenas um acidente de percurso. Sánchez empatou aos 30´, Xavi virou aos 53´e Fàbregas ampliou aos 66´em outra exibição apoteótica do Barcelona. O time colocou de novo o Real Madrid na roda e encheu de brilho os olhos dos amantes do futebol arte. Era o estímulo necessário para uma tranquila e embalada viagem até o Japão para o último grande título daquela geração comandada por Guardiola: o Mundial.
O confronto mais esperado
Desde as finais da Libertadores e da Liga dos Campeões da UEFA na metade de 2011, todos esperavam pelo duelo que colocaria frente a frente duas estrelas do futebol mundial: Neymar, do Santos, e Messi, do Barcelona. O duelo era tido como a maior final de Mundial dos últimos tempos e a expectativa era de um duelo histórico. O Santos passou pelo Kashiwa Reysol, do Japão, por 3 a 1, enquanto que o Barcelona, sem vários titulares (incluindo Villa, que se contundiu seriamente antes da competição), goleou o Al-Saad, do Catar, por 4 a 0, com gols de Adriano (2), Maxwell e Keita. Pronto. A final dos sonhos estava sacramentada.
Aprendendo a jogar futebol
O Santos teve um choque de realidade naquela noite de 18 de dezembro de 2011 em Yokohama, no Japão. Parece que o time brancaleone tremeu ao ver o esquadrão azul e grená espanhol. A equipe brasileira esteve irreconhecível. Porém, não se sabe se foi o Santos que esteve tão apagado ou se foi o Barcelona que jogou tão bem. Creio que a segunda opção é a mais sensata. O Barcelona teve mais de 71% de posse de bola, um absurdo de predominância. A equipe começou seu show aos 17´ quando Messi recebeu um passe magistral de Xavi, que antes já havia matado uma bola de maneira sublime e surreal, e marcou o primeiro gol do jogo. Aos 24´, foi a vez de Xavi marcar o segundo. Aos 45´, um bombardeio na área do Santos culminou com o gol de Fàbregas: 3 a 0. O Barça foi para o intervalo bicampeão mundial. A não ser que o Santos “baixasse” o espírito do Liverpool 2005 ou do Vasco de 2000 e empatasse ou virasse a partida. No segundo tempo, o Barcelona continuou seu domínio, marcou mais um golaço com Messi, aos 82´, e fechou o show: 4 a 0. O Barça conquistava o bicampeonato mundial e entrava de vez no seleto grupo dos maiores times de todos os tempos, que já tinha o Santos (só que aquele de Pelé), o Milan de Van Basten e o Real Madrid de Puskás e Di Stéfano, além do Brasil de 1970. O quinteto de ouro do futebol mundial ganhava seu derradeiro integrante.
O espetáculo no Japão fez até os brasileiros se curvarem à apoteose do Barça. Neymar, com lágrimas nos olhos ao fim da partida, disse que “o Santos tinha acabado de aprender a jogar futebol e que o Barça era o time a ser seguido”. Ele estava certo. O time catalão fazia exatamente o que o Brasil tanto fez nas décadas de 60, 70 e 80: jogava o fácil, o belo, o eficiente, o ofensivo, com classe, maestria e arte. Muita arte.
O fim
No começo de 2012, o Barcelona percebeu que a era Guardiola estava perto do fim. O treinador, que já havia ganhado todos os títulos possíveis no clube, estava cansado e queria novos desafios. Com isso, ele informou que aquela era sua última temporada no time. Todos esperavam que ele se despedisse do Barça com uma nova dobradinha da Liga espanhola e da Liga dos Campeões devido aos shows supremos que Messi estava protagonizando ao marcar 3, 4 e até 5 gols em um só jogo. Mas o desgaste parece que prevaleceu. O Barcelona não conseguiu acompanhar o Real Madrid no Campeonato Espanhol e ficou com o vice, que foi ainda mais amargo pela derrota em casa por 2 a 1, que pôs fim a sequencia vitoriosa do time catalão contra os merengues.
A maior dor, porém, foi na Liga dos Campeões. O time encarou a pedra no sapato Chelsea nas semifinais e perdeu por 1 a 0 na Inglaterra e empatou em 2 a 2 em casa, com direito a pênalti perdido por Messi quando o jogo estava 2 a 1 para o Barça. Na temporada em que todos esperavam uma final histórica entre Barcelona e Real Madrid na Europa, ambos caíram. Será que Guardiola se despediria do time sem uma taça?
O último caneco
A Copa do Rei foi a última chance do Barcelona para terminar a temporada com uma taça. A equipe fez uma campanha impecável até a final com direito a goleada por 9 a 0 sobre o fraquíssimo L´Hospitalet e, claro, vitória sobre o Real Madrid no Santiago Bernabéu por 2 a 1 e empate em casa por 2 a 2, eliminando o rival da competição. Na final, o Barcelona entrou mordido após as quedas no Espanhol e na Liga dos Campeões e deu show contra o Athletic Bilbao: 3 a 0, com o placar sendo construído ainda no primeiro tempo com dois gols de Pedro (sempre ele, o homem das finais) e Messi. O Barça dava o último presente à Guardiola, ou melhor, o 14º presente ao maior treinador que o clube já teve, fato rechaçado até mesmo pelo presidente do Barça, Sandro Rossell. Terminava com a cena típica a era Guardiola: festa azul e grená e taça no alto.
Espetaculares do futebol
Com o fim da era Guardiola no Barcelona, a equipe perdeu parte de sua intensidade e não conseguiu emendar mais títulos na Europa. Os rivais cresceram e o clube espera retomar o protagonismo com uma nova safra de suas categorias de base. O fato é que o Barcelona 2008-2012 é o maior time de futebol do século XXI e um dos maiores de todos os tempos (ou seria o maior?). Nunca o mundo teve uma equipe que tratasse tão bem a bola como esse Barça, que tem três gênios (Messi, Xavi e Iniesta, nesta ordem) cercados de outros espetaculares e brilhantes jogadores. Essa orquestra de jogar futebol teve como maestro outro ser divino: Pep Guardiola. Nascido no Barça, Pep trouxe de volta a magia azul e grená e montou um time muito melhor que o primeiro Dream Team catalão, de 1992, o qual ele fez parte. As apresentações do Barça viraram sinônimo de arte, de orquestra, de sinfonia. Ver um jogo da equipe era como assistir a uma peça de teatro, a um filme fabuloso ou a um concerto de música clássica. Tudo o que a equipe fez está cravado para sempre na história como excelência pura em futebol arte. E um exemplo a ser seguido de que craque(s) se faz em casa, show se dá jogando bola e a posse da “gordinha” é o segredo principal para o sucesso que resulta em títulos. Em bom catalão: “iDesa el fútbol de Barcelona etern i immortal!”
Os personagens:
Victor Valdés: formado nas categorias de base do clube catalão, Valdés é o dono da meta do Barcelona desde 2004. Aos 30 anos, possui um currículo invejável com dois Mundiais, três Liga dos Campeões entre outros títulos. Ágil e seguro, só não demonstra confiança quando vai sair jogando com os pés. Mas isso é detalhe…
Abidal: o lateral francês foi exemplo de superação ao vencer um câncer e ainda levantar uma taça de campeão europeu. Ótimo na defesa e preciso no ataque, Abidal por vezes atua como um terceiro zagueiro, deixando mais espaço para Daniel Alves avançar. No Barça desde 2007, deve encerrar a carreia no clube, onde já atuou mais de 180 vezes.
Sylvinho: o brasileiro teve destaque na temporada 2008-2009 no clube catalão, contribuindo muito para parte das seis conquistas da equipe naquele período. Muito eficiente na defesa e no ataque, escreveu seu nome na história atuando na decisão da Liga dos Campeões de 2009.
Piqué: revelado pelo Barça, Piqué esteve de 2004 até 2008 antes de voltar em definitivo ao seu clube do coração. Perfeito no posicionamento e nas jogadas aéreas, Piqué ainda é elemento surpresa no ataque, onde já marcou muitos gols (inclusive no épico 6 a 2 sobre o Real Madrid). O zagueiro faz desde 2009 uma ótima dupla de zaga com Puyol tanto no Barça quanto na seleção da Espanha. É um dos maiores nomes da nova geração de jogadores no mundo.
Rafael Márquez: estava se despedindo do clube justo quando o auge do Barça estava apenas começando. Veterano, foi importante na transição de 2008 para 2009 e virou zagueiro reserva com a chegada de Piqué. Foi ídolo no clube catalão de 2003 até 2010.
Yaya Touré: o marfinense foi outro reserva de luxo do Barça no começo da era Guardiola. Jogava como volante e zagueiro e fez várias partidas como titular, inclusive a final da Liga dos Campeões de 2009.
Puyol: sua vida é o Barcelona. Começou nas bases do Barça em 1995 e permanece intacto desde então. O “Toro” como às vezes é chamado pela torcida mistura garra, raça e técnica como um dos melhores zagueiros do futebol mundial. Líder nato e capitão, Carles Puyol ainda marca muitos gols de cabeça nas cobranças de escanteio do time. Atua, também, como lateral, assim como Maldini atuava no Milan. É um mito da catalunha, do Barcelona e da seleção da Espanha. Disputou mais de 550 jogos com a camisa do Barça.
Daniel Alves: depois de voar na lateral do super Sevilla de 2003 até 2008, Daniel Alves partiu para fazer história no Barcelona. Habilidoso, dono de um chute poderoso, e impecável no apoio ao ataque, Dani Alves é quase um meia-atacante em muitas jogadas da equipe. Teve muito respeito e moral na era Guardiola e foi fundamental nos melhores momentos do clube.
Sergio Busquets: outra joia de La Masia, Busquets é referência no meio de campo do Barça desde 2008. Técnico, raçudo e ótimo no jogo aéreo, Busquets dá segurança para Xavi e Iniesta construírem as jogadas magníficas que sempre resultam em gol no Barcelona. É titular, também, na seleção da Espanha.
Xavi: já é um dos maiores meio-campistas do futebol em todos os tempos. Com uma visão de jogo absurda, técnica apuradíssima e praticamente um deus nos passes e no domínio de bola, Xavier Hernández é um dos maiores símbolos do Barcelona atual. Está no Barça desde 1997 e foi titular absoluto na era Guardiola. Coleciona títulos no time e assume a braçadeira de capitão em muitas partidas. Com mais de 700 aparições pelos blaugranas, Xavi é o jogador com maior números de jogos na história do Barcelona. Um gênio.
Iniesta: outro que já está no rol dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Parece se comunicar por telepatia com seu companheiro de meio campo, Xavi, e se entende perfeitamente bem com Messi. Elemento surpresa em muitas jogadas e dono de um repertório de chutes e gols nos momentos mais decisivos das partidas (que o digam a final da Copa do Mundo de 2010 e a semifinal da Liga dos Campeões de 2009), Andrés Iniesta ganhou o apelido de “Don Andrés” tamanha sua qualidade e perfeição no trato da bola. Também formado em La Masia, está no Barça desde 1996.
Messi: gênio, fenomenal, pulguinha, absurdo, sensacional… Adjetivos e palavras engraçadas não faltam para definir Lionel Messi. O jogador é simplesmente o maior artilheiro da história do Barcelona, foi o melhor jogador do mundo pela FIFA por quatro anos seguidos e se consagrou como uma estrela do futebol mundial e também do Barcelona. Chegou ao clube jovem e nem sequer jogou em seu país (Argentina). Vive o melhor momento de sua carreira e busca apenas a consagração pela seleção argentina. Pois, pelo Barça, Messi não precisa provar mais nada. O craque já está no rol dos titãs da bola, ao lado de Pelé, Maradona, Cruyff e Beckenbauer.
Pedro: foi o maior talismã da era Guardiola no Barça ao anotar gols em quase todas as finais importantes do time no período, o que inclui Mundial de Clubes, Liga dos Campeões, Supercopa da UEFA, Copa do Rei e jogos do Campeonato Espanhol. Rápido, oportunista e ótimo em tabelinhas, Pedro perdeu um pouco de espaço com as chegadas de Alexis e Fàbregas.
Eto´o: o craque e ídolo do Barça deixou o time em 2009 como campeão europeu. Eto´o foi o legítimo matador e um dos maiores atacantes que já passaram pelo clube catalão, sendo importantíssimo na decisão da Liga de 2009 contra o Manchester, ao marcar o primeiro gol da final.
Alexis Sanchéz: chegou a preço de ouro no Barça em 2011, marcou muitos gols importantes, mas não teve o rendimento esperado.
Villa: estava tinindo e foi crucial na conquista da Liga dos Campeões da UEFA de 2011 quando, tempo depois, teve de operar após uma contusão. Rápido, goleador e driblador, era o atacante que o Barça precisava após as saídas de Henry e Eto´o. Deixou a equipe para jogar no Atlético de Madrid.
Henry: o francês chegou ao Barça em 2007 depois de viver o auge da carreira no Arsenal. Mesmo atuando apenas 3 anos no clube e abaixo do nível de seus tempos na Inglaterra, Henry deixou sua marca ao anotar muitos gols decisivos e jogar como um ponta no time, pois Eto ´o era o centroavante.
Cesc Fàbregas: formado em La Masia, Fàbregas deixou muito jovem o Barcelona, com 16 anos, e foi brilhar no Arsenal de 2003 até 2011 como volante e meia. Antigo sonho de consumo do Barça, voltou em 2011 para ser campeão logo de cara da Supercopa da UEFA, da Supercopa da Espanha e do Mundial de Clubes da FIFA.
Josep “Pep” Guardiola (Técnico): Guardiola foi o maior técnico da história do Barcelona. Seus títulos, sua filosofia, seu estilo e seu carisma o fizeram uma estrela mundial e ser admirado no mundo inteiro. Pupilo de outro mito do clube, Johan Cruyff, Guardiola aperfeiçoou os ensinamentos do holandês, colocou uma pitada de “tempero brasileiro” e fez o Barcelona o melhor time do mundo. Seu legado é incrível e criou uma nova era no clube e também no mundo: a valorização da posse de bola, o foco nas categorias de base e a força e união do conjunto. Já é um mito. E deixará saudades para sempre no torcedor do Barça.
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