segunda-feira, 25 de abril de 2016

É preciso prestar atenção nas ideias de Fernando Diniz, técnico do Audax

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Mas fica a pergunta: que presidente de clube grande teria coragem de bancar um Fernando Diniz e que torcida de time grande suportaria seu estilo sem pedir sua cabeça depois de três derrapadas? Talvez Fernando Diniz esteja muito à frente do futebol brasileiro.


Sim, se o Audax tivesse ficado pelo caminho no Campeonato Paulista, o trabalho do técnico Fernando Diniz seria enterrado como o da maioria dos técnicos brasileiros. Ocorre que o time do ‘é proibido dar chutão’ está na final do Estadual depois de eliminar ninguém menos do que o Corinthians na semifinal dentro de sua casa, diante de 42 mil pessoas, a maioria corintiana. Antes disso, havia feito o mesmo contra o São Paulo, outro gigante do Estadual. Então, não é por acaso que o Audax comemora façanha inédita em sua história. É zebra, mas é uma zebra que sabe o que faz dentro de campo.
Para chegar à final do Paulistão, Fernando Diniz fez o que sempre faz em suas conversas com os jogadores. Pediu para o time jogar, tocar a bola, manter a calma, arriscar e não desistir de preencher o espaço nos dois campos, como jogou sua equipe durante toda a competição. O que isso significa todos sabem. O Audax correria perigo na frente dos rivais corintianos, como aconteceu em boa parte da disputa. Mas em nenhum momento, os jogadores do Audax desistiram das ideias do treinador. O time esteve três vezes na frente do marcador, 1 a 0, 2 a 1 e novamente 2 a 1 nas cobranças de pênaltis. E olha que o Corinthians também fez boa partida, buscou o resultado, teve chance de virar até a decisão pelos tiros livres.
Os méritos do ‘é proibido dar chutão’ é de Fernando Diniz, mas não só dele. É preciso ressaltar o interesse dos jogadores em aprender e defender esse estilo de jogo, do goleiro ao último reserva. De não ter apelado quando as coisas não davam certo. Também é preciso ressaltar a coragem dos que mandam no clube, como o presidente Vampeta, que nunca atuou desta maneira quando era jogador, nem na seleção, mas que aceitou a proposta, por mais maluca que ela fosse. Diniz garante que em seu trabalho é sim permitido dar chutão, mas ele prefere o toque de bola de pé em pé, mesmo se para isso o time tiver de correr riscos. Defende o jogo coletivo e tudo o que isso significa. O fato é que suas ideias, que já chamavam a atenção, agora começam a dar resultados. Já entrevistei o jogador Fernando Diniz, e o que me lembro dele desta época é que suas declarações e observações sempre eram mais profundas e diferentes. Uma vez me pediu para dar um voto de confiança ao seu trabalho porque ele sabia jogar. Dei. É isso o que ele faz com seus jogadores, acredita neles, cobra, corrige, mas não desiste do trabalho de orientá-los e resgatá-los. Fernando Diniz já teve treinador que desistiu dele. Não fará o mesmo. Por isso também o Audax dá certo.
De prático, o Audax fez uma fase de grupos objetiva e levou a melhor nas duas decisões em jogo único, contra São Paulo e Corinthians, a primeira na condição de mandante e a segunda como visitante. Indigesto, diga-se. Muitos torcedores, jornalistas e corneteiros comentam sobre a possibilidade de o estilo ‘é proibido dar chutão’ de Diniz encampar algum time grande, onde os elencos são mais bem preparados e de jogadores com mais técnica, teoricamente. Penso que o estilo ‘é proibido das chutão’ deveria se espalhar pelo futebol brasileiro. No mínimo, depois de algumas temporadas, nossos jogadores seriam mais técnicos e preparados, sem medo de errar. Vale ressaltar que o toque de bola de uma equipe não está nos passes certos, mas na movimentação constante dos jogadores. Não existe tiki-taka sem deslocamento na defesa, no meio e no ataque.
Mas fica a pergunta: que presidente de clube grande teria coragem de bancar um Fernando Diniz e que torcida de time grande suportaria seu estilo sem pedir sua cabeça depois de três derrapadas? Talvez Fernando Diniz esteja muito à frente do futebol brasileiro.
por Robson Morelli- Jornal Estadão


É proibido ou não dar chutão no Audax de Fernando Diniz? Pelo jeito não...


Depois de atropelar o São Paulo por 4 a 1 nas quartas de final do Paulistão, o Osasco Audax conseguiu o que parecia quase impossível: eliminou o Corinthians nos pênaltis em Itaquera e chegou à final. O toque de bola curto, a fluidez de movimentos e as trocas de posições entre jogadores em campo marcam a identidade do time comandado por Fernando Diniz, que chega à decisão do Estadual saudado pelo bom futebol.
Fernando Diniz, no entanto, quer elevar a discussão sobre o futebol que o Audax pratica. Muito já se falou sobre um suposto veto a chutões de defensores. Depois de superar o Corinthians, ainda em Itaquera, Diniz mostrou tom crítico ao ser questionado por um repórter – mais uma vez – se no Audax é proibido trocar o passe curto por rifar a bola. "Vocês me perguntam sempre se eu proíbo os chutões, e eu sempre digo que não. Aí vocês voltam aqui e me perguntam de novo, e eu digo de novo que não existe veto algum. Hoje [sábado] eu até queria que eles tivessem dado mais chutões", falou, em entrevista coletiva.
No Audax é permitido dar chutão, sim, e isso se comprova nos números acumulados da equipe no Paulistão. A questão é que Diniz incentiva que seus atletas transitem com a posse de bola e tenta fazer com que eles acreditem, do goleiro ao centroavante, que todos podem praticar futebol de alto nível técnico.
O Audax troca muitos passes curtos, sobretudo no campo defensivo, quando sai jogando com goleiro e zagueiros. Segundo dados do Footstats, é o time que mais acertou passes (8.191) e apenas o quinto que mais errou (617) no Paulistão. O Corinthians, em comparação, por exemplo, é o segundo time que mais acertou (7.950), mas o líder entre os que mais erraram (878).
O quesito que demonstra que o Audax não é feito só de passes curtos é o número de lançamentos. O Audax é o 18º time no ranking dos que mais erraram lançamentos longos no Paulistão. Ou seja: é o terceiro time que menos errou passes longos (324) no campeonato. Como faz pouco uso da alternativa, a equipe de Fernando Diniz é a 19ª que mais acertou lançamentos (184). "Temos uma equipe que gosta de ficar com a bola e que tenta trocar passes para encontrar espaços em meio a uma movimentação específica", explica Fernando Diniz.
Os questionamentos sobre a falta de chutões do Audax não são atuais. Em 2014, o time de Fernando Diniz foi ao Morumbi para enfrentar o São Paulo de Muricy Ramalho e acabou massacrado. Muricy colocou seus jogadores para marcarem com extrema pressão a saída de bola e viu o Audax cometer inúmeros erros de passes com o goleiro Felipe Alvez e os zagueiros. A questão é que, dois anos depois, o risco ainda existe, mas não há mais erros que resultem em gols adversários.
Depois da partida em Itaquera, um dos principais jogadores do Corinthians conversou com o volante Francis, do Audax, e relatou que o toque de bola da equipe de Fernando Diniz na saída, com o goleiro Sidão e a linha de defesa, atraíram o Corinthians ao campo de ataque e criaram um espaço entre as linhas de ataque e meio de campo armadas por Tite. Em vez de chutões, então, bastava ao Audax conseguir lançamentos para o espaço aberto quando as linhas corintianas se distanciavam.
Tal artifício desmontou o São Paulo de Edgardo Bauza nas quartas de final. Dois dos quatro gols marcados na goleada em Osasco nasceram de passes longos que partiram da intermediária defensiva do Audax, no espaço sem marcação, e chegaram ao ataque.
O Audax pode tomar golas por escolher não dar chutões habitualmente na saída de bola, mas também cria oportunidades justamente por não dar chutões. O passe curto na defesa abre espaço para o passe de média distância para o meio de campo, que, com sorte, pode resultar no passe longo para o ataque. O que o Audax faz foi sintetizado pelo atacante Ytalo após o 4 a 1 sobre o São Paulo, ao ser questionado sobre um suposto "estilo suicida" do time de Osasco. "É suicida para os times que tentam marcar em cima, porque quando não conseguem acabam deixando espaço para a gente lá na frente", disse. 
Guilherme Costa e Guilherme Palenzuela
Do UOL, em São Paulo

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