sábado, 19 de março de 2016

A "safra ruim" e o jogo coletivo


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POR CARLOS EDUARDO MANSUR


O Brasil não fica na Europa. É óbvio, mas diante de estatística tão contundente, não custa lembrar. Nas oitavas de final da Liga dos Campeões, maior torneio de clubes do mundo, foram 26 brasileiros titulares nos jogos de volta. Com sobras, um recorde mundial. A Espanha teve 17. A Liga, embora convertida em evento global, é de clubes europeus. E o Brasil não fica na Europa.
Foram 35 os países representados nas escalações iniciais dos 16 times. A Alemanha, terceira colocada nesta relação, teve 15 titulares. A Liga dos Campeões reúne os clubes mais ricos, que escolhem onde buscar seus reforços mundo afora. E escolhem o Brasil.
Dos 26 brasileiros da lista, 13 estarão na seleção que volta a se reunir com Dunga na segunda-feira. A convocação tem jogadores bons, ótimos e um extraclasse. De fora, há gente como Marcelo, Thiago Silva ou Lucas Moura. Se olharmos para o time olímpico, vamos deparar com jovens como Rafinha, Gabigol, Gabriel Jesus, Luan...
No Brasil, o olhar para o futebol privilegia o individual e o resultado. Natural, então, que a sensação de falta de matéria-prima e o pânico de achar que a fonte secou sejam os mais recorrentes efeitos colaterais de cada derrota. Ainda mais se a derrota for um 7 a 1 numa Copa do Mundo disputada em casa.
A tese de que falta jogador no Brasil não é nova, é cíclica. Era unanimidade após a Copa de 1990. Falava-se em revolucionar o elenco, ideia tão sedutora no país quanto trocar o técnico após fracassos. Testou-se, de uma só vez, uma série de jogadores domésticos e, claro, deu errado. Por fim, a base do Mundial da Itália atravessaria as eliminatórias, viraria um time e ganharia o tetra.
Hoje, repete-se à exaustão que a “safra é ruim”. O diagnóstico não se sustenta. A crise é coletiva, não individual. A ansiedade nacional deveria ser por encontrar uma ideia de jogo. E insistir nela.
A tarefa de Dunga é menos simples do que parece. Precisa transformar talentos em time, ter clara uma ideia de jogo e evoluir coletivamente. É justamente onde o futebol brasileiro vive tropeçando, sejam os clubes, seja a seleção: o jogo em equipe. Pior, tem que fazer tudo isso ganhando numa edição de eliminatórias marcada pelo equilíbrio. E o rival da vez é justamente o Uruguai de Suárez.
O time de Dunga ainda vive sob o signo da oscilação. Evoluiu nos primeiros amistosos, desperdiçou uma Copa América entre desfalques e más atuações e, depois, pareceu perder parte de suas convicções. Contra o Peru, em novembro, mudou peças e sistema, abriu mão do centroavante e tornou Neymar um “falso 9”. Como qualquer mudança num time que quase não treina, o preço foi ver o extraclasse do país subutilizado.
O centro do ataque é a única carência da geração atual. No mais, a lista de meias e atacantes permite jogar em velocidade, à base de toques, com posse de bola ou em contragolpe. Ou, num mundo ideal, mesclando estilos. A questão é definir um rumo.
Na Copa de 2010, a seleção de Dunga era organizada. Mas, contra ele, pesam a justa desconfiança pela curta trajetória como técnico, pelo pragmatismo por vezes exagerado e pelas relações pessoais que ameaçam minar suas próprias opções de jogadores. Em defesa dele, atua o mundo real. Hoje, seleções vivem de encontros eventuais, e a brasileira não se reúne há quatro meses. Equipes nacionais consistentes viraram raridades. Espanha e Alemanha foram campeãs mundiais apoiadas na base de um clube. O futebol moderno não é feito para as seleções. A Argentina vive discutindo por que não vê, de branco e azul, o Messi do Barcelona.
O melhor antídoto é encontrar um norte.

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