por Roberto Azambuja
Johann Cruyff fumava, erro crasso para um atleta. Era polêmico por natureza e já errou uma avaliação importante em tempos recentes envolvendo o brasileiro Neymar. Segundo o holandês, não ia dar certo esta história de um parceiro como o brasileiro para jogar com Messi. Nem é preciso esforço para ver o quanto se equivocou Cruyff. Colocadas algumas das suas dificuldades, hora de tratar do que restou mais importante.
Johann Cruyff foi um revolucionário dentro e fora do campo. Quando jogador, não idealizou o futebol total que surgiu no Ajax e se universalizou na seleção holandesa. O mentor era Rinus Michels. Porém, só aconteceu do jeito que aconteceu porque o homem de confiança de Michels em campo era Cruyff.
Com sua inteligência superior e habilidade técnica inigualável, o meiocampista era fiador do futebol total que encantou o mundo, mesmo que sem conquista de Copa do Mundo. Nos clubes, ganhou tudo. Oito nacionais pelo Ajax, tricampeão europeu com o mesmo clube. Ganhou um espanhol como jogador e a primeira Liga dos Campeões do Barcelona, aí como técnico. Virou lenda entre os catalães. Palpitou de tudo do Barça até o fim, incluindo o equívoco sobre a contratação de Neymar. Cruyff levava Romário no bico. Comandante e comandado tinham confiança e aquele tipo de acordo que só se dá entre dois fora-de-série.
Perdeu para o câncer que o cigarro causou em seu pulmão, morreu antes dos 70 anos e deixou o nome impresso na história do futebol por conta de sua paixão pelo jogo ofensivo. Johann Cruyff me significou um dos caras que abriu caminhos para que eu visse o futebol como vejo hoje.
Johann Cruyff foi um revolucionário dentro e fora do campo. Quando jogador, não idealizou o futebol total que surgiu no Ajax e se universalizou na seleção holandesa. O mentor era Rinus Michels. Porém, só aconteceu do jeito que aconteceu porque o homem de confiança de Michels em campo era Cruyff.
Com sua inteligência superior e habilidade técnica inigualável, o meiocampista era fiador do futebol total que encantou o mundo, mesmo que sem conquista de Copa do Mundo. Nos clubes, ganhou tudo. Oito nacionais pelo Ajax, tricampeão europeu com o mesmo clube. Ganhou um espanhol como jogador e a primeira Liga dos Campeões do Barcelona, aí como técnico. Virou lenda entre os catalães. Palpitou de tudo do Barça até o fim, incluindo o equívoco sobre a contratação de Neymar. Cruyff levava Romário no bico. Comandante e comandado tinham confiança e aquele tipo de acordo que só se dá entre dois fora-de-série.
Perdeu para o câncer que o cigarro causou em seu pulmão, morreu antes dos 70 anos e deixou o nome impresso na história do futebol por conta de sua paixão pelo jogo ofensivo. Johann Cruyff me significou um dos caras que abriu caminhos para que eu visse o futebol como vejo hoje.
A camisa 14 no varal
Não é que tenha morrido um craque. Não é que tenha morrido um símbolo. Hoje, aos 68 anos, morreu meio que uma era. Ou a fantasia de uma era. A camisa 14 se foi. Talvez tenha ido apenas aquele cara alto, magro, esguio que deslizava dentro dela.
Hendrik Johannes Cruijff não foi apenas um jogador de futebol - e depois um técnico de futebol. Não foi apenas um sujeito, que ao lado de outros dez, pôs a Holanda no mapa da bola. Johann Cruyff foi outra coisa - uma imagem meio pixelada a navegar nas nossas cabeças, correndo, tocando e ultrapassando, fazendo gol no Brasil, flutuando.
Cruyff jogava como se tivesse chuteiras antigravitacionais... como se deslizasse acima da grama, como se trabalhasse em outra velocidade. Era um iPhone entre orelhões - e o futebol que seu Ajax, sua Holanda e seu Barcelona jogaram... cativou retinas nos cinco continentes.
O futebol de Cruyff foi comparado às pinturas de Vermeer. Mas Cruyff sempre me soou mais arquiteto do que artista - mais geometria que pintura. Mais Escher que Van Gogh. A famosa cachoeira de Escher, aliás, talvez seja uma maneira de explicar às gerações como jogava - ou fluía - Johann Cruyff.
Pois Cruyff foi ao mesmo tempo relógio e ponteiro; ao mesmo tempo sutil e agudo, cerebral e avassalador, organizador e desorganizador. Sua Laranja produziu a mais mecânica das belezas - concertos em forma de esporte competitivo. Foi o europeu que recuperou o conceito de "jogo bonito" . O futebol arte, o toque de bola, a tática a serviço da estética. Sim, o obituário é o reino da hipérbole. Mas Cruyff era realmente algo diferente, algo muito além do trivial.
Um jogador morre duas vezes. Morre a primeira vez quando pára - quando o tempo retira suas capacidades - e nos priva de acompanhá-lo em campo. Essa primeira tristeza é dura - mas amenizada pela vida depois da bola, que no caso do Cruyff foi produtiva e consequente. Mais do que nunca ele se tornou engenheiro - projetista do futebol alheio, diretor de óperas com tenores como Romário, Stoichkov, Hagi, Laudrup, Koeman.
Mas eis que chega a segunda, a indesejada das gentes, e nos traz uma dupla melancolia - cai a ficha que a saudade daquele futebol, que nunca mais veremos, é decisiva; e lembramos que mesmo aqueles que sentimos como imortais morrem.
Claro que Cruyff continuará - como continuam conosco tantos antes dele e continuarão outros depois. E por isso somos gratos.
Minha câmera mental observa o jovem Johannes deixando este campo na direção do último vestiário. Mas a imagem que me ocorre é outra - é a da camisa 14, laranja, pendurada num varal acima dos estádios do mundo, balançada por de um vento que não para de soprar.
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