sexta-feira, 11 de março de 2016

Segue a dança que nunca para: a “dança dos treinadores”




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por Emerson Gonçalves


Marcelo Oliveira “dançou”



Na noite de 2 de dezembro, comandado por Marcelo Oliveira, o Palmeiras conquistou a Copa do Brasil. Fechou bem o ano, garantiu seu lugar na disputa da atual edição da Copa Bridgestone Libertadores e sua torcida fez uma grande festa pelo título na nova casa.

Para Marcelo, pessoalmente, foi mesmo uma grande noite, já que era seu terceiro título importante seguido, fechando com chave de ouro o triênio 2013/2015.

Passados tão somente 98 dias dessa conquista e no momento em que completava apenas nove meses à frente do Palmeiras, o melhor treinador brasileiro desse período foi demitido, ainda no vestiário do Allianz Parque, depois de ver de camarote seu time ser derrotado pelo uruguaio Nacional por 2x1. A demissão ocorre no final da terceira rodada do grupo do Palmeiras pela Libertadores, com o time dividindo a segunda colocação no grupo com o Rosario Central, tendo ainda mais três jogos por essa Fase de Grupos.

Aos 49’30” do segundo tempo aquela que seria a bola do empate, naquela altura um bom resultado, chocou-se forte, quase na forquilha, com a trave do gol uruguaio, fechando um jogo de muita luta e vontade.

Se ela entrasse Marcelo seria demitido?

Creio que não.

Podemos dizer, então, que a trave derrubou o treinador palmeirense?

Sim? Não? É relevante?

Não fosse a vitória sobre o Rosario Central na semana anterior, ele já teria sido demitido. Se a vitória segurou-o, então, sim, arrisco-me a dizer que a trave derrubou-o.



Poderia listar o grande número de contratações feitas pelo Palmeiras nesse período. Poderia citar a necessidade de tempo que todo treinador precisa para montar o seu grupo, dar a ele cara e consistência, buscar o famoso “encaixe”. Poderia citar mais um monte de coisas a favor da manutenção de Marcelo Oliveira, todas racionais, mas, claramente, seria em vão.

É da nossa cultura, está inscrito em nosso DNA futebolístico essa incompreensão sobre o trabalho de um treinador.

Na manhã de 2 de dezembro, dia daquela conquista da Copa do Brasil, no post desse OCE com o título “A dança que nunca para: a dança dos treinadores” (leia aqui), escrevi o que já era conhecido naquele momento: se o Palmeiras não conquistasse a Copa do Brasil, Marcelo seria demitido. Conquistou, ficou. Por pouco tempo, mais 98 dias apenas.



Copio daquele post:



“...um recorde foi quebrado: dos 20 treinadores que começaram o Brasileirão da Série A, somente um – um só, único, solitário – chegou ao final no mesmo clube, sem ter saído para uma “voltinha”: o campeão Tite do campeão Corinthians.



Mais uma transcrição daquele post:



Os outros 19 clubes fizeram 32 trocas de treinadores! Em alguns casos, poucos, os clubes não tiveram culpa, pois foram preteridos pelos seus treinadores, como a primeira troca do Figueirense (Argel saiu para o Inter), a segunda da Ponte Preta (Doriva foi para o São Paulo), a terceira do São Paulo (Osorio saiu para a Seleção Mexicana) e a única do Sport (Eduardo Batista foi para o Fluminense).

Teve time que teve 4 – quatro! – treinadores durante a competição, como Flamengo, São Paulo e Goiás. Já Coritiba, Vasco, Fluminense e Cruzeiro tiveram três treinadores.



A orquestra parou para um descanso, mas já voltou.

A dança continua.





Bauza será o próximo?



Como está no texto acima transcrito, o São Paulo teve quatro treinadores durante 2015.

O argentino Edgardo Patón Bauza, campeão da Copa Libertadores à frente da LDU e do San Lorenzo, chegou no início de janeiro e começou a trabalhar. Recebeu um elenco sem algumas referências importantes, a começar pelo goleiro e capitão Rogério Ceni. Mas também sem Luiz Fabiano e Alexandre Pato.

O elenco passou pelo trabalho de Osorio, simplesmente sensacional, com uma visão de jogo apaixonante, voltada, supostamente, para o ataque, mas buscando defender antecipando, impedindo e marcando à frente o adversário. E passou pelo convencionalismo absoluto de Doriva, fora o lugar comum ao qual já estava acostumado com Milton Cruz.

Aí chega Bauza. Outro treinador estrangeiro, com métodos e visões bem distintas daquelas com as quais os boleiros estavam acostumados e acomodados, por um lado e, por outro, muito diferentes do que Osorio pretendia e começava a conseguir implantar, no começo de um trabalho que seria, necessariamente, longo.

Hoje à noite, em Buenos Aires, o São Paulo enfrenta o River Plate, nada menos que atual campeão da Libertadores. Se perder estará, é quase uma certeza, fora da Libertadores ainda em sua primeira fase.

Há dias, já, as cornetas soam forte no Morumbi, tanto nos salões e escritórios, como nas arquibancadas. Elas pedem o corte sumário de jogadores e, como não poderia deixar de ser, a demissão de Bauza.

Uma derrota hoje, provavelmente, selará a passagem do treinador bicampeão continental pelo São Paulo, ele que está no clube há somente 67 dias, um período que mal dá para conhecer os rostos e nomes do elenco, que dizer, então, de suas características, gostos e potenciais?

Some-se a isso a crise que o São Paulo atravessa e que, na prática, impossibilitou a contratação de dois jogadores que Bauza considerava fundamentais para seu trabalho, ponto com o qual a diretoria concordava.

Outro ponto importante: com meros 40 dias de temporada propriamente dita, o São Paulo enfrenta sua terceira decisão. Poderia escrever seu terceiro jogo decisivo, mas o drama de “terceira decisão” combina melhor com a situação. Esse “detalhe”, entretanto, pouco ou nada conta a favor do treinador em nossos clubes.

Sem tempo para trabalhar não há técnico que consiga algo decente e sustentável, nem mesmo o mito Pep Guardiola. É com uma frase dele mesmo ao chegar ao Bayern, já usada aqui nesse OCE, que fecho esse post:



Preciso de tempo.”

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