por Cosme Rímoli
Pela primeira vez na história, o Santos expulsa um ex-presidente. Odílio Rodrigues. E agora deve entrar na justiça comum para cobrar os prejuízos que ele deixou. Com Leandro Damião e a Doyen Sports…
O Santos tomou uma decisão histórica ontem à noite. Expulsou Odílio Rodrigues. O primeiro presidente santista da história a ser expurgado do quadro associativo. Além de vices e membros do Comitê Gestor. Todos envolvidos em transações absolutamente prejudiciais ao clube. A principal: a contratação de Leandro Damião junto ao grupo de investimento maltês, Doyen Sports.
A reunião entre os conselheiros deveria servir apenas para confirmar o parecer da Comissão de Inquérito e Sindicância, que sugeria punir Odílio por um ano e os ex-integrantes do Comitê Gestor por nove meses. Só que os dados apresentados pela Parker Randall, empresa responsável pela minuciosa auditoria nas contas santistas, revoltaram a todos. E o que deveria ser temporário, se tornou definitivo. Expulsão.
A transação é mesmo estarrecedora. Leandro Damião foi comprado da Doyen por R$ 42 milhões. O clube não tinha dinheiro. Quem emprestou essa quantia? A Doyen. E terá de ser devolvido pelo Santos até 2019. Com juros de 10% ano ano.
Mas tem mais. O presidente pegou mais dinheiro emprestado do fundo de investimento. Para comprar 40% de Lucas Lima. Mas esse dinheiro foi usado no fluxo do clube. No final de seu mandato, em 2014, Odílio desatou a vender porcentagens das revelações santistas. Para quem? Para a Doyen.
A negociação foi considerada péssima para o clube. 25% de Daniel Guedes por 250 mil euros, cerca de R$ 811 mil, 35% de Geuvânio por 750 mil euros, cerca deR$ 2,4 milhões, e 20% de Gabigol por 1,1 milhão de euros, cerca de R$ 3,5 milhões. O clube levantou apenas R$ 6,7 milhões. O que a esmagadora maioria dos conselheiros acreditou ser uma pechincha.
Os conselheiros santistas não se contentaram com a expulsão de Odílio e José Paulo Fernandes, Francisco Cembranelli, Luís Cláudio de Aquino, Thiers Fleming, Ronald Luiz Monteiro, Alexandre Daoun, Luiz Fernando Fleury, Julio Peralta e José Berenguer.
Eles tomaram a decisão que querem que essas pessoas, principalmente o ex-presidente, sejam processados na Justiça Comum. Por gestão temerária. O déficit apontado pelo ano de gestão de Odílio é de R$ 58,9 milhões. Deixou salários e direitos de imagem dos jogadores com meses de atraso. Empresas tomaram calote e processaram o clube.
Os conselheiros desejam que Odílio pague esse prejuízo com seus bens pessoais.
A decisão se o processo na Justiça Civil acontecerá ou não depende apenas do atual presidente Modesto Roma. Ele está sendo pressionado para se posicionar. A tendência é que o dirigente acabe cedendo.
O que aconteceu no Santos com Odílio na presidência foi avisado. O ex-presidente ficou desnorteado com a saída de Neymar. As bilheterias baixaram, o interesse das tevês, dos patrocinadores. Ele teve o plano genial de buscar novas estrelas para o clube. E acreditou em um plano 'mágico'.
O empresário Renato Duprat, que levou a MSI ao Corinthians, já tinha passado pelo Santos. Na década de 90, era presidente da Unicór, convênio médico. E que patrocinou o Santos entre 1995 e 1999. Entre outros absurdos, chegou a prometer a contratação de Diego Maradona. Chegou a dar uma volta de helicóptero com o argentino sobre a Vila Belmiro. Um vexame inesquecível.
Duprat encerrou o ciclo como persona non grata e acusado de deixar uma dívida de R$ 1,2 milhão quando saiu.
Mesmo assim, Odílio acreditou que havia descoberto a pólvora. Duprat apontava o dinheiro do fundo de investimento maltês como a solução. E passou a buscar jogadores. Com o Santos se responsabilizando pelos empréstimos e oferecendo porcentagem das revelações.
Conselheiros sabiam, criticavam, esperneavam. R$ 48 milhões em Leandro Damião foi o escândalo maior. Só que nos clubes brasileiros impera o 'regime presidencialista'. O que é uma verdadeira ditadura disfarçada. O Santos ainda usava o Comitê Gestor, que deveria impor limites a Odílio. Mas tudo que fez foi dar o aval. Dizer que concordava com essas transações irresponsáveis.
Agora chegou a hora da cobrança.
Será uma lição para o futebol brasileiro.
Modesto Roma tem a obrigação de brigar pelo ressarcimento santista.
Muito dinheiro precioso foi para a lata de lixo.
O clube já fez a pior venda da história do país.
A estranha ida de Neymar ao Barcelona.
Agora precisa mostrar que aprendeu.
Para que os dirigentes saibam respeitar o dinheiro do clube.
E se errar, pagar com seu patrimônio pelos erros.
Chega de repassar atos irresponsáveis, inconsequentes.
Modesto Roma deve essa atitude a milhões de santistas.
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