CBF deveria fiscalizar transferências de jogadores e investidores
Com a virada do ano, passou a vigorar a restrição da participação de investidores em direitos de jogadores imposta pela Fifa. Em dezembro, as maiores contratações dos clubes foram feitas com envolvimento de fundos. Chegou a hora de regular o mercado nacional: garantir transparência as operações já feitas, e o respeito à nova norma a partir daqui. Para isso, seria essencial uma atuação ativa da CBF, que hoje fecha os olhos ao assunto.
A Fifa tem um departamento de TMS (Transfer Matching System) que investiga as negociações de jogadores, e já começa a olhar para times do Brasil. Mas é a confederação quem já tem acesso a todos os documentos de transferências por meio de federações estaduais, e tem mais informações sobre as operações inclusive entre equipes nacionais.
Por exemplo, o Doyen Group, que tem como operador o ex-MSI Renato Duprat, já desenvolveu negócios com Santos, Flamengo, Atlético-PR e Cruzeiro, indiretamente, com a mudança de Damião. Ninguém sabe direito quem é dono do fundo, nem de onde vem o dinheiro apesar de ser identificado como um grupo de hotéis, e atuar em mercados europeus. As operações são feitas em formato de empréstimos, mas o fundo fica com direitos em caso de venda.
Outros casos envolvendo investidores ocorreram com a chegada de Lucas Pratto ao Atlético-MG, em que até empresários que tocaram a operação não sabem quem é o investidor. A contratação de Thiago Mendes, pelo São Paulo, tem participação supostamente da BWA, empresa que mantinha relação direta com o futuro presidente da CBF Marco Polo Del Nero.
O Corinthians tem um conselheiro como investidor em jogadores, e realiza negócios com outros terceiros em que não fica clara a origem do dinheiro. Esses são alguns exemplos fora BMG e DIS, que estão bastante reticentes sobre continuar a investir e têm relação próxima com Inter e Galo. Neste caso, a origem do dinheiro é legal, de grandes empresas. Enfim, todos os clubes têm alguma parceria que geram perguntas.
E por que é importante fiscalizar os fundos e empresârios? O futebol tem sido usado pelo mundo como instrumento de lavagem de dinheiro, assim como obras de arte. É difícil determinar quanto vale cada jogador, o que torna um campo fértil para limpar recurso obtido de forma irregular. Não se está acusado aqui nenhuma parceria de ter esse fim. Mas é justamente a fiscalização da CBF que deveria evitar que isso ocorresse.
Uma medida eficaz seria exigir que todos os donos de direitos de jogadores tivessem de declarar suas participações econômicas à confederação. Junto, deveria vir explicações e provas da origem do dinheiro.
Em relação ao veto a novos investimentos de fundos -válido a partir de maio em definitivo e com restrição de um ano a partir de agora -, a CBF deveria atuar juntamente com a Fifa para evitar que algum clube tentasse burlar a medida. Mecanismos como pontes por meio de times pequenos, empréstimos ou contratos de gaveta podem ser utilizados para que a proibição se torne inócua. O regulamento a ser feito sobre o assunto na federação internacional, previsto para janeiro, terá um papel nisso.
Esse é o momento de a confederação mostrar se quer um ambiente mais transparente para o futebol brasileiro. Afinal, se tem todo o poder concentrado dentro do esporte, ela tem a obrigação de ser atuante em tópico tão importante quanto às transferências.
uol.com
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