terça-feira, 29 de março de 2016

Opinião Cosme Rímoli

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por Cosme Rímoli

CBF coloca, e paga, Seleção em hotel luxuoso de auxiliar de Dunga. Capitão Neymar troca concentração com time por balada. Nike cobra R$ 449,00 por camisa. Por quê será que a rejeição à Seleção só aumenta?


A última pesquisa séria envolvendo a Seleção aconteceu em julho de 2014. O instituto Datafolha revelou. O torcedor ficou traumatizado, revoltado com a participação nacional na Copa do Mundo.

Mais do que revoltado, humilhado. Nada menos do que 77% afirmaram terem ficado envergonhado por serem brasileiros depois do Mundial. É muito profundo. Sentir vergonha da nacionalidade por causa de um torneio de futebol.
Com um presidente detido pelo FBI, deportado para os Estados Unidos, esperando julgamento. Acusado de corrupção, recebimento de propina e formação de quadrilha. Podendo pegar até vinte anos de cadeia. Seu antecessor e sucessor também são acusados formalmente pelo Departamento de Justiça Norte-Americano dos mesmos crimes. Por isso não ousam viajar, sair do país. Há a ameaça da deportação.
A CBF não goza de credibilidade entre os brasileiros.
Desde 2002, a Seleção Brasileira acumula decepções e rejeição.
A ponto de, durante as Eliminatórias para a Copa de 2018, fugir das maiores cidades deste país. Onde o grau de escolaridade é maior. Como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais. O grau de compreensão da realidade é maior. O Brasil tem medo de atuar no Morumbi, no Mineirão e no templo do futebol mundial, o Maracanã. Os torcedores mais esclarecidos não se deixam levar pela alienação.
Esta postura mais crítica alcançou o Nordeste, região predileta por Marco Polo del Nero, presidente licenciado, mas que ainda manda na entidade. Os nordestinos, por terem menos contato com a elite do futebol brasileiro, seriam mais carentes de grandes espetáculos. E a empolgação seria menos seletiva.
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Só que a tietagem alienada não existe mais. O Brasil de Dunga e Gilmar Rinaldi tem sido criticado também no Nordeste. E saído de campo vaiado, como aconteceu no frustrante empate contra o Uruguai, em Pernambuco.
O país como um todo percebe a fragilidade de uma geração medíocre, formada por coadjuvantes e absolutamente dependente de Neymar. Seu capitão, camisa 10, cobrador de faltas perto da área, de pênaltis. É um ídolo mundial. Aos 24 anos, recebe entre salário e publicidade, cerca de R$ 5 milhões mensais.
Dunga ganha cerca de 10% de Neymar na CBF. Já seria uma situação constrangedora. Que só se agrava diante da necessidade absoluta de ter o jogador na Seleção. Justo o capitão do tetracampeonato mundial, jogador tão comprometido, precisa defender um atleta mimado, egocêntrico e sem o menor perfil de líder. E que não tem o menor interesse em sacrificar seu tempo livre com o Brasil. Se não puder entrar em campo, ninguém conte com ele.
Dunga e o coordenador Gilmar Rinaldi precisam criar mil desculpas para tentar disfarçar a falta de comprometimento de Neymar. Um capitão, um líder de verdade estaria agora concentrado com a Seleção em Assunção. O Brasil capenga nas Eliminatórias. Se perder hoje à noite para o Paraguai poderá ficar fora dos classificados para o Mundial de 2018.
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Mais do que isso, a mera viagem de Neymar com os atletas demonstraria união, parceria. Postura de preocupação do capitão com o time. O jogador está liberado pelo Barcelona para os dois jogos das Eliminatórias. Ou seja, só precisa retornar na quarta-feira.
Mas em vez de ficar com a Seleção, Neymar escolheu outro destino. Itapema, lugar paradisíaco, em Santa Catarina. Está farreando. Pagodes, baladas e mais baladas. Nem lembra que o Brasil joga hoje.
Constrangido, Dunga ontem teve de defender as farras de Neymar. Mesmo sabendo o quanto seria importante para o grupo sua presença na concentração. Quem conheceu Dunga como o capitão do Brasil sabe que ele agiria completamente diferente.
"A gente tem que respeitar as individualidades e, as gerações mudam bastante. Temos que entender isso. Hoje também tem muitas redes sociais, na época não tinha exposição. Na minha época eles começavam a ter ascensão social, antigamente não tinha toda essa mídia. Hoje, o que um jogador faz em dois segundos está no mundo todo. O mais importante é que eu não posso querer que os jogadores tenham o mesmo comportamento que a minha forma."
Neymar já havia abandonado a Seleção, quando foi suspenso na Copa América. Não teve o menor companheirismo. Virou as costas ao time. E foi farrear.
A ideia que passa é bem clara.
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Se o capitão não está preocupado com a Seleção...
Qual o motivo de a população precisar estar?
A Globo fez questão de comemorar e divulgar. Brasil e Uruguai na sexta-feira passada chegou a 30 pontos de audiência em São Paulo. Foi recorde do futebol em 2016. Mas qual foi a audiência da Globo nas últimas quatro sexta-feiras antes da partida, quando a novela Regra do Jogo estava terminando? Os mesmos 30 pontos. Com direito a 40 pontos no último capítulo da novela, no dia 11.
Também ontem foi revelada a constrangedora sobre a concentração da Seleção Brasileira em Viamão, Rio Grande do Sul. O auxiliar pontual da Seleção, Lúcio, é um dos sócios do hotel. Não há cabimento ou necessidade. O Brasil pagou para treinar em hotel do auxiliar de Dunga.
Em lugar algum civilizado essa relação seria aceita. Se não é ilegal, é imoral. A notícia se espalhou como pólvora. E só desmoraliza ainda mais a CBF, o time de Dunga.
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O coordenador Gilmar Rinaldi tinha de se defender. E foi no lugar de sempre. No programa Bem, Amigos do Sportv. Lá, Galvão Bueno, nitidamente constrangido, escolhia as palavras para questionar e não ofender.
"A escolha foi minha, baseada em alguns pontos. Não havia campos de treinamento que nos agradassem no Paraguai. Aqui, estamos a duas horas do país. No ano passado, a seleção brasileira se hospedou aqui antes da Copa América e todos gostaram. O local tem aprovação da Fifa, tanto que o Equador ficou aqui durante a Copa do Mundo de 2014. Em Porto Alegre, é o melhor custo-benefício. Outras opções eram muito mais caras.
"Essa logística foi definida em janeiro, após a visita de membros da CBF. O Lúcio é, de fato, um dos acionistas do hotel. Eu não sabia. O convite para que ele fosse auxiliar pontual surgiu num encontro casual que tive com ele, em São Paulo. Falei para o Dunga que achava que o Lúcio tinha perfil para ser o auxiliar e o convidamos uma semana antes da convocação. O próprio Lúcio aceitou sem saber que nos hospedaríamos nesse hotel. Se soubesse nesse momento, eu chamaria, porque é tão transparente a coisa."
Gilmar só se complicou com a sua 'explicação'. Mas não foi mais questionado por Galvão Bueno.
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A CBF lucrou, por exemplo, R$ 519 milhões em 2014. O balanço do ano passado ainda não foi divulgado. Gilmar teria de optar. Ou a concentração em Viamão ou Lúcio. O hotel e seu dono eram incompatíveis para a Seleção. Mas o coordenador pisou na ética e ficou com os dois. Postura boba, desnecessária.
E ao mesmo tempo, Gilmar Rinaldi não fez o básico. Não programou a Seleção a fazer o reconhecimento do estádio Defensores del Chaco. O Brasil atuou lá pela última vez em 2008. A Federação Paraguaia ofereceu o reconhecimento ontem à noite, como é praxe. Mas a Seleção recusou. Uma estupidez.
Seus jogadores travarão contato com o gramado, com a sensação do estádio, apenas hoje, no aquecimento para o jogo. Postura brasileira mistura arrogância com amadorismo.
São os detalhes que afastam a Seleção da CBF da população.
Ricardo Teixeira, Marin, Marco Polo, Coronel Nunes.
O desprezo de Neymar.
A escolha da concentração que pertence ao auxiliar de Dunga.
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O preço que a Nike cobra pela camiseta oficial do Brasil.
A 'NIKE CBF M SS HM' custa a bagatela de R$ 449,00.
Sim, R$ 449,00.
Mais que meio salário mínimo deste país, R$ 880,00.
A camiseta tem perfurações a laser.
"Para fluxo de ar ideal e detalhes autênticos em um tecido Dri-FIT confortável.
As explicações da empresa.
Mas há modelo mais simples, por R$ 249,00.
A cúpula da CBF não quer saber das farras de Neymar...
De concentração do auxiliar de Dunga...
Do preço das camisetas do Brasil...
Quer apenas manter seu poder.
Enquanto isso, a rejeição à Seleção aumenta a cada dia.

E todos fingem não entender os porquês... 

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