sábado, 14 de maio de 2016

FC Porto-Boavista, 4-0 (crónica)







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Sem o FC Porto vivo na luta pelo título e o Boavista já salvo do cadafalso da descida não contava muito este inédito duelo ao amanhecer (com início às 11h45) que os dragões acabaram por resolver quase com a tranquilidade de uma peladinha num treino – o horário é em tudo semelhante; a diferença é que em vez de ser à porta fechada aqui havia 26 mil espetadores a assistir.
Faz sentido que o «dérbi do despertador» – permitam-nos o batismo –, que abriu a derradeira jornada ada Liga, tenha começado a ser resolvido com um golo madrugador.
O FC Porto acordou cedo para o jogo e colocou-se em vantagem logo aos 11 minutos. Danilo beneficiou de uma bola que sobrou de Idriss e Marcano e solto na área desviou para abrir o marcador.
Daí em diante, a equipa de José Peseiro foi controlando o jogo num ritmo que foi adormecendo ao longo da primeira parte, a ponto quase de permitir o empate axadrezado, que só não surgiu porque Casillas evitou com uma defesa por instinto uma combinação entre Renato Santos e Mesquita (29’).
O Boavista criava perigo sobretudo pelo lado direito do seu ataque numa primeira parte em que do lado contrário o FC Porto mostrava maior consistência sobretudo pelo acerto de Danilo e Layún, que contrastava com os «turnovers» dos extremos – Varela e Corona perderam demasiadas vezes a bola.
Ainda assim, faltavam metros aos axadrezados para criar perigo mais perto da baliza portista e a tendência agravou-se no segundo tempo. Com Danilo já a descansar para a final da Taça, apareceu Layún a brilhar com um remate colocadíssimo à entrada da área, após uma assistência inteligente de André Silva.
2-0. Dérbi resolvido e meia-hora para jogar. Ficava a ideia de que daqui em diante poucos mais motivos de interesse restariam na partida. Mas o melhor ainda estava para vir.
À medida que o domínio do FC Porto se acentuava, uma grande penalidade por falta na área sobre Maxi deu a Brahimi a oportunidade de fazer o 3-0. O público assobiou porque pedia André Silva.
Reclamava-se pelo tal golo que faltava para dar confiança ao prodigioso jovem ponta-de-lança portista. Brahimi não acedeu ao pedido. Agarrou na bola e marcou.
Porém, André Silva não desistiu e teve o merecido prémio três minutos depois (aos 87’), quando Brahimi decidiu finalmente ser generoso ao assistir o jovem avançado portista, que se isolou, contornou Mika e rematou para o fundo da baliza. Não foi um golo qualquer. Foi a estreia a marcar de André Silva na equipa principal e, por isso mesmo, um dos golos mais festejados dos últimos tempos no Dragão. Uma comunhão entre adeptos e a equipa como há muito não se via.
Uma espécie de momento de libertação a marcar a despedida de um estádio que viveu uma época traumatizante, como que a renovar a fé dos adeptos para a final da Taça de Portugal do próximo fim-de-semana.
A última vez que FC Porto e Boavista se defrontaram na derradeira jornada da Liga foi em maio de 2001 e os azuis e brancos também venceram por 4-0. Nessa ocasião, ainda nas Antas, os portistas vingaram-se de perderem a corrida pelo título para o rival da cidade, acabado de sagrar-se campeão.
Quinze anos depois, a sede dos dragões por títulos mantém-se como dantes e o dérbi matutino voltou a ser resolvido com goleada.
Foi preciso esperar até à derradeira jornada para perceber um sinal claro de que o FC Porto terá começado finalmente a acordar?


FC Porto-Boavista, 4-0 (destaques)


A FIGURA: André Silva
O jovem portista tem tudo para ser «o» ponta-de-lança do futebol português por muitos e bons anos: classe no domínio de bola, movimentações inteligentes, bom remate… Peseiro faz bem em dar-lhe minutos nesta reta final da temporada. A cada jogo ficava a ideia de que estaria muito perto de uma afirmação plena entre os graúdos. Faltava-lhe apenas um pouco de confiança para o conseguir. E para isso era preciso golos. Hoje, foi o dia… Em cima do final da partida, André Silva, que se fartou de tentar, isolou-se, contornou Mika e rematou para o quarto golo portista, que selou a goleada no dérbi. Um dos golos mais celebrados dos últimos tempos no Dragão. Antes disso, o jovem prodígio já havia feito uma assistência primorosa para o golo de Layún. Grande exibição! Pode ter começado aqui uma história bem feliz para o FC Porto e para o futebol português.
O MOMENTO: Minuto 11’. Golo madrugador para decidir o dérbi matutino
Faz sentido que um dérbi matutino comece a ser decido com um golo madrugador. Logo aos 11 minutos Danilo acordou o Dragão com um remate pleno de oportunidade. O médio-defensivo estava solto na área, no local certo para aproveitar um ressalto numa bola que sobrou entre Idriss e Marcano, após cruzamento de Corona. Estava a dormir na forma a defesa axadrezada.
OUTROS DESTAQUES:
Danilo
A sua exibição na derradeira jornada da Liga é a síntese perfeita de uma época em que no plano individual esteve quase sempre em grande nível, ao contrário do que aconteceu com o coletivo azul e branco. Danilo é uma das figuras do jogo, tal como é um dos raros destaques verdadeiramente positivos da época portista. Desarma e sai a jogar como poucos. Progride com classe, passa com critério e remata com certeza. No fundo, desde lá de trás é ele que organiza e comanda o meio-campo portista. E de vez em quando ainda marca, como hoje, ao aparecer na área para abrir o marcador. Tudo isto em apenas 45 minutos. Apresentou queixas musculares e Peseiro quis certamente poupá-lo para a final da Taça de Portugal. O brilho de Danilo é o contraponto à apagada época portista. Tem tudo para ser o dono do meio-campo defensivo da seleção nacional no Europeu.
Layún
Seria injusto destacar apenas Danilo neste jogo em particular e em toda a época portista. O lateral mexicano também teve direito à sua pequena consagração na despedida desta época do Dragão. Apesar das preocupações defensivas, Layún esteve, como sempre, muito esclarecido no apoio ao ataque e voltou a marcar. E que golo! Um remate cruzado colocadíssimo à entrada da área que ajudou a resolver a partida.
Renato Santos e Mesquita
Foi sobretudo pela ala direita do seu ataque que o Boavista criou problemas à defesa do FC Porto. Mesquita e Renato Santos entendem-se na perfeição e numa das suas combinações quase fizeram o empate, aos 29 minutos: assistência em vólei de Renato Santos para Mesquita entrar na área e atirar cruzado, com Casillas a defender por instinto. Foi a melhor oportunidade dos axadrezados em todo o jogo.

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