Houve bailinho no Estádio Cidade de Coimbra. Não o típico bailinho da Madeira mas uma dança encarnada a altas horas, já perto do final de uma época longa, com algum travo a despedida. Oito golos na final da Taça da Liga, seis para o Benfica (2-6) no adeus confirmado de Renato Sanches e as lágrimas sintomáticas de Nico Gaitán. O argentino confirmou na flash interview da TVI que está perto da saída.
Ouviu-se o «bailando», em coro, nas bancadas tingidas a vermelho. Kostas Mitroglou, com permanência assegurada, foi uma das figuras do encontro. Mas a noite terminou, como seria de esperar, com vénias a Show Nico. O Marítimo foi um digno vencido e não merecia uma diferença tão pesada no marcador.
O Benfica conquistou a sétima Taça da Liga em nove edições da prova. A hegemonia do heptacampeão deste torneio recente no panorama nacional foi quebrada apenas em 2012/13, pelo Sp. Braga, quando os encarnados não chegaram à final. O mesmo aconteceu na primeira edição, com V. Setúbal a superiorizar-se ao Sporting.
Não há registo de idêntico domínio de um clube em provas semelhantes. A Taça da Liga inglesa, por exemplo, remonta a 1961 mas sem períodos de hegemonia. O Liverpool é o recordista na prova, com oito vitórias em mais de cinquenta edições. O Benfica está a uma de distância.
Em França, outro país de topo onde há lugar para a terceira prova do calendário, o Paris Saint-Germain tem o maior número de conquistas (6). O que falta a Portugal, por comparação com estes exemplos, é o acesso do vencedor do torneio à Liga Europa.
Pedro Proença pretende introduzir essa alteração já na próxima época mas não será fácil convencer os clubes da Liga a abdicar de uma das vagas atribuídas pelo desempenho no campeonato em favor de uma prova onde poucos apostam com a força desejada.
Sporting e FC Porto, por exemplo, caíram na fase de grupos da Taça da Liga. O Marítimo venceu a formação portista em pleno Estádio do Dragão, seguiu em frente e derrubou o Portimonense – responsável pela queda dos leões – nas meias-finais.
O Benfica logrou conquistar o tricampeonato sem baixar os índices de competitividade em outras provas. Chegou por exemplo aos quartos-de-final da Liga dos Campeões, travado pelo poderoso Bayern Munique, e a esta final da Taça da Liga com desempenho imaculado na fase de grupos e vitória frente ao Sp. Braga nas meias-finais.
A equipa de Rui Vitória falhou apenas na Taça de Portugal e na Supertaça, com derrotas ainda em 2015 frente ao Sporting de Jorge Jesus. Os encarnados foram crescendo de produção ao longo da época e terminam com dois troféus para o museu.
O Marítimo saiu novamente de Coimbra como finalista vencido mas demonstrou bem mais que no duelo relativo à penúltima jornada do campeonato. Os homens de Nelo Vingada entraram melhor no jogo e Ederson teve de se agigantar para manter a sua baliza inviolada.
Num ápice, porém, veio ao de cima a superior qualidade da linha ofensiva do Benfica e a constrangedora incapacidade do último reduto verde-rubro.
A formação madeirense preparava este jogo há várias semanas – Nelo Vingada trocou por exemplo seis jogadores em relação à última jornada da Liga – mas a estratégia ruiu com as oportunidades falhadas nos primeiros minutos e a eficácia da dupla formada por Jonas e Mitroglou.
Rui Vitória devolveu a titularidade a Renato Sanches e Samaris (Fejsa ficou na bancada), abrindo ainda espaço para a consagração do capitão Luisão. O experiente defesa brasileiro, como é natural, demonstrou falta de ritmo e contribuiu para o excesso de espaços na meia direita do setor defensivo dos encarnados.
André Almeida não chegava para as encomendas nem podia contar com o apoio de Luisão. Foi por ali que Edgar Costa e Patrick romperam para colocar o Benfica em sentido.
O tricampeão nacional, de qualquer forma, não se assustou verdadeiramente e deu uma lição prática de eficácia. Marcou por exemplo no primeiro remate que fez à baliza: Gaitán serviu Grimaldo, este para Mitroglou, o grego atirou enrolado mas Patrick desentendeu-se com Maurício e abriu caminho para o golo de Jonas.
Estavam decorridos apenas onze minutos de jogo. Começava a festa para os cerca de 29 mil espectadores que lotaram o Municipal de Coimbra. A grande maioria estava pelo Benfica, abafando algumas centenas de bravos madeirenses.
Se o Benfica marcou no primeiro remate à baliza, o segundo chegou logo depois, com o Marítimo ainda a lamber as feridas. Lançamento lateral de André Almeida e grande passe de Jonas para Pizzi. O internacional português cruzou ainda dentro do terreno de jogo para a finalização de Mitroglou.
Ederson ia anulando a tentativa de resposta do Marítimo, provando ter sido um dos grandes reforços do Benfica para a presente época. Do outro lado, Haghighi conseguia apenas adiar o golo de Nico Gaitán. O iraniano não tinha antídoto para Kostas Mitroglou – outro grande reforço, já com continuidade assegurada. A caminho do intervalo, Gaitán serviu o grego para 0-3.
O resultado transmitia uma ideia errada de noite sem sobressaltos para a defesa encarnada. Fransérgio aproveitou esse notório desacerto para fugir a Samaris e a Luisão, receber um passe de Patrick, tirar a bola do alcance de Ederson e permitir o golo a João Diogo.
O Marítimo voltou com o mesmo espírito para a etapa complementar e esteve em vários momentos perto do 2-3. Atirou por exemplo à trave, num período de desnorte defensivo do Benfica, mas do outro lado havia Show Nico em suspenso e o jogo teria de passar pelo pé esquerdo de Gaitán.
Nico Gaitán entrou em campo a chorar, saiu para ficar no banco a chorar, festejou o seu golo com lágrimas nos olhos e tudo nele soou a despedida emocionada. Até pela forma como foi abraçado por todos os companheiros depois de marcar, já ao minuto 77, a passe de Jonas. Chegou finalmente a hora, após várias ameaças?
O jogo não terminaria sem um justo prémio para o Marítimo pela contínua abnegação. Seria Samaris, numa falta desnecessária e imprudente, a colocar a bola na marca de grande penalidade para o 2-4 de Fransérgio, o melhor elemento da formação insular.
Jardel, após livre cobrado por Pizzi, e Raúl Jiménez, na conversão de uma grande penalidade por si conquistaram, garantiram a goleada. Noite cheia de golos em Coimbra.