terça-feira, 11 de agosto de 2015

Ele atuava com demografia, foi pra TV e articulou chapéu da Record na Globo

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As transmissões esportivas movimentam bilhões de reais, desde Copa e Olimpíadas aos campeonatos de futebol nacionais e internacionais. Mas, a maioria dos executivos não são conhecidos pelo público neste meio de negociação que envolve as maiores emissoras do país. Eduardo Zebini é um destes ilustres (quase) desconhecidos dos fãs, mas muito influentes no meio. Vice-presidente sênior de produção, programação e marketing da FOX Brasil, ele construiu uma carreira em que conseguiu feitos importantes para seus canais. Quando estava na Record, conduziu a negociação que tirou a Olimpíada-2012 da Globo. Hoje, pelo Fox Sports, soube fazer da Libertadores uma de suas principais armas para acordos históricos para o canal. E, curiosamente, tudo começou quando era apenas um profissional da área de demografia.
Seu começo foi bem diferente do comum e por meio de uma figura ilustre. Fã de esportes e jogador de basquete na adolescência, trabalhou no jornal Gazeta Mercantil por conta da demografia – área da ciência geográfica que estuda a dinâmica populacional humana – e seu domínio na parte de estatística. Foi quando conheceu o comentarista Osmar de Oliveira. Dali, foi parar na TV.
“O Osmar se interessava muito por dados estatísticos e tinha uma teoria: a quantificação de acontecimentos se repetia na história das partidas, como no nível de ocorrências estatísticas possíveis de serem administradas”, conta Zebini.
O gosto em comum rendeu um convite inusitado: trabalhar no SBT. Ainda dentro do seu contexto científico, ele virou produtor de TV e aprendeu uma nova função, começando com um especial sobre a seleção brasileira de Telê Santana. O chefe Silvio Santos chegou a colocá-lo em um desafio diferente no SBT. “Ele me pôs a frente de um projeto de pesquisa eleitoral. Ao final desse processo, o resultado da pesquisa foi exatamente igual ao das urnas. Isso deu bastante credibilidade para o canal naquele momento”, relembra.
Show do Esporte, Manchete e Record
Mas o esporte era o caminho que seguiria. Após a Copa de 86, trabalhou na Bandeirantes, como gerente de produção do “Show do Esporte”. Em três anos, virou diretor de produção do canal, trabalhando nos maiores eventos esportivos da casa. Depois veio uma temporada na Manchete e então, já nos anos 2000, o convite da Record.
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Zebini recebe das mãos de Boni troféu ganho pela Fox Sports em premiação de veículos esportivos (Divulgação)
“Na época, era uma questão de você acreditar que a Record poderia ser uma forte concorrência no mercado onde pudesse desenvolver minhas ideias de cobertura de eventos. O [executivo Eduardo] Lafon garantiu que teria todas as condições de competir com os demais canais em um curto espaço de tempo e começamos com Luiz Alfredo, Mario Sergio, Eloi Coimbra, Datena e Marcio Moron”, relata Zebini.
Uma parceria marcante foi com Milton Neves em programas como “Terceiro Tempo” e “Debate Bola”. O apresentador explica um pouco do sucesso de Zebini. “Ele tem uma visão muito moderna. E tem um alto poder de discernimento, de ouvir as pessoas, até porque tem as maiores orelhas da televisão brasileira”, brinca Milton. “Ele foi fundamental na compra dos Jogos Olímpicos”.
Chapéu olímpico
Fazer com que uma grande cobertura não fosse transmitida pela Globo era quase que uma obsessão da Record. Zebini foi o responsável por conduzir a negociação com cartolas do COI para ficar com os direitos de Londres-2012. Tinha, claro, um grande suporte financeiro por trás. Mas diz que fez mais do que apenas chegar com uma boa oferta: usou seu poder negociador para convencer os organizadores de que acertar com um canal que até então vinha trabalhando pouco com esportes não era um grande risco.
“A Record sempre teve uma linha de concorrência muito forte com a Rede Globo. Eu pude entender qual era o anseio da emissora e de que forma poderia ser concorrente na área esportiva. Nós já tínhamos tentado a compra das Copa do Mundo de 2010 e 2014, sem êxito. Quando as negociações para as Olimpíadas surgiram novamente, meu trabalho foi mostrar na Record que era uma grande aquisição e depois instrumentalizar a proposta, que saiu vencedora.”
Até hoje se vê reflexos dessa negociação – como se percebeu no Pan, em que a Globo só mostrou a competição por fotos, ainda que o SporTV tivesse a transmissão na TV fechada. Apesar do feito na Record, acabou saindo em 2009. Não detalha os motivos e se limita e dizer que foi consequência de divergências quanto à condução do esporte na emissora após adquirir os direitos da Olimpíada. “A compra do direito exclusivo de um evento de tamanha importância criava um contexto de possibilidade de exploração dos demais eventos internacionais. A Record pretendeu se utilizar do evento com exclusividade e diante da minha visão diferente da companhia, meu espaço ficou restrito.''
Baixa e a volta por cima
Zebini viveu um período de baixa após a saída da Record. “De executivo top, ele ficou numa situação muito complicada. Só foi à Copa de 2010 como credenciado da rádio Itatiaia. Mas o ressurgimento dele foi meteórico com a Fox. Hoje está num momento especial'', disse Milton Neves.
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Zebini com Kobe Bryant na Copa (Foto: Terceiro Tempo)
Para pessoas próximas, o perfil negociador de Eduardo Zebini é o que o difere de outros executivos. É assim que ele conseguiu, por exemplo, levar a Copa do Mundo aos canais Fox em todo mundo pela primeira vez, em 2014. No caso da Libertadores, em que teve jogos exclusivos – inclusive do campeão de audiência Corinthians – e deixou a Globo sem partidas que geralmente ela levava à TV aberta, contou com boas contrapartidas para construir a vantagem do seu canal.
Questionado se de fato foi um chapéu, ele nega: “De forma alguma. Foram escolhas feitas dentro de um quadro possível, algo natural, dentro daquilo que é a prática das escolhas dos jogos da Libertadores. Em nenhum momento houve uma situação que possa se parecer com isso”.
A fase do Fox Sports
A atual fase de Zebini já dura três anos e meio. Ele chegou ao Fox Sports por indicação de um executivo de conteúdo. À época, trabalhava na área técnica operacional da transmissão da Copa, no Comitê Organizador, mas sentia falta da produção esportiva em TV. Hoje, cuida de dois canais Fox Sports e também dos de entretenimento da FIC Brasil: Fox, NatGeo, FX e Fox Life.
Maurício DehòDo UOL, em São Paulo

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