Juliana Alencar
Do UOL, em São Paulo
Um modelo de relógio suíço que pode valer até R$ 140 mil. Foi com um dele, no pulso, que o atacante do Internacional Valdívia apareceu numa selfie publicada em seu Instagram. O acessório, no entanto, não é original. A peça é uma réplica, uma falsificação de luxo que saiu por cerca de R$ 700.
O caso do artilheiro do clube gaúcho não é isolado. Jogadores de futebol são alguns dos principais consumidores de produtos de luxo sem garantia de origem - réplicas ou originais comprados sem pagamento de impostos ou taxas de importação. São peças de roupas, calçados, acessórios e eletrônicos contrabandeados, que chegam ao Brasil na bagagem de voos comerciais vindos de Miami e Orlando, principais destinos dos muambeiros da classe AAA. No Brasil, eles oferecem os produtos em perfis no Instagram.
Nas redes sociais, aliás, não é difícil encontrar jogadores avalizando o negócio das lojinhas virtuais. O meia Dudu, do Palmeiras, já agradeceu a "parceria" com uma delas. Na maioria dos casos, um agrado que fazem aos donos dos negócios. Como as lojas normalmente não têm endereço e telefone fixos, nem funcionam legalmente, a propaganda acaba dando um certo ar de credibilidade ao comércio.
Os donos também não poupam esforços para demonstrar intimidade com os clientes boleiros. É comum encontrar, nos perfis pessoais deles, fotos com os atletas com legendas que sugerem proximidade. "Visita aos parceiros do nosso timão. Só os bonzinhos", escreveu um dos vendedores identificados pela reportagem do UOL Esporte, numa imagem na qual aparece com três atletas do Corinthians, Vagner Love, Malcom e Luciano, dentro do Centro de Treinamento Joaquim Grava.
"Tem a ver com comodidade. Jogador não tem tempo para passear no shopping", simplifica um dos proprietários de uma loja virtual de muambas de luxo, que concedeu entrevista sob a condição de ter o anonimato garantido. "Eles se sentem mais confortáveis, porque recebem atendimento individualizado. Como não tem imposto, as mercadorias saem mais baratas também. Ninguém quer perder dinheiro. No caso das réplicas, compram porque acham que ninguém vai perceber", entrega. Em resumo, é a Lei de Gerson aplicada aos hábitos de consumo.
Os relógios são os itens mais procurados pelos atletas quando o assunto são as réplicas. O desejado modelo Tourbillion Skull, da Richard Mille, orçado em US$ 500 mil, tem réplicas que podem sair por R$ 1.000 nas mãos dos contrabandistas.
Muambas até dentro dos clubes
As vendas são, muitas vezes, concretizadas nas instalações dos próprios clubes. É nos centros de treinamento que eles costumam entregar as compras. A prática é proibida pelos clubes, mas é feita com o pretexto de que o comerciante é um amigo que visita o jogador. Eles autorizam a entrada sob o argumento que são seus convidados.
Hudson, volante do São Paulo, comprou recentemente um par de sapatos da francesa Christian Louboutin e um relógio Rolex. Recebeu os produtos no CT da Barra Funda. A foto foi parar na internet. Questionado pela reportagem, um dos sócios da loja virtual que vendeu as peças preferiu não comentar detalhes do negócio. "Tem o sigilo, até vetam a gente de falar sobre isso um pouco", afirmou João Lucas, da GJ.
Via assessoria de imprensa, o São Paulo diz que permite "a entrada de familiares, amigos e convidados de atletas" no CT, mas que desconhecia que vendas eram feitas nas suas dependências. "Se alguns destes aproveitaram este fato para a prática de comércio nas dependências do local, não era de conhecimento do clube. Os envolvidos não serão mais autorizados a entrar e o São Paulo tomará todas as devidas providências para que este fato não volte a se repetir", diz a nota.
O UOL Esporte também procurou o Corinthians, que também confirmou que atividades comerciais são proibidas no clube. Por meio da assessoria, afirmou que "fotos com convidados são comuns entre jogadores" e que a instituição "não tem conhecimento das atividades de cada convidado fora do CT".
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