No seu artigo de hoje na Folha, o psiquiatra e escritor Contardo Calligaris fala sobre a doutrinação do círculo da padaria. Ou seja: aquela enxurrada de clichês que uns despejam sobre os outros, junto com os perdigotos de café e farelos de pão em plena mastigação.
Trago, se me permite o professor, o feliz achado para esta área do futebol.
Antigamente, essas discussões varavam a noite nas esquinas da cidade, antes de serem varridas pelos arrastões da violência urbana cada vez mais crescente nesta província que virou megalópolis em tão pouco tempo. A esquina foi substituída pela padaria e fim de papo.
Ou melhor, início de papo, já que o assunto predominante nesses saraus modernos é mesmo o futebol, um tema sobre o qual cada um tem lá suas versões, embora a palavra final fique sempre com o imperador do jogo: o tal do resultado, chavão definitivo e irrevogável.
Ganhou, maravilha! Perdeu, uma m…!
Agora mesmo recebo neste blog o comentário do Carlos Eduardo que me cobra amavelmente ummea culpa sobre o trabalho do técnico tricolor El Patón, cujo time acaba de se classificar para as semifinais da Libertadores, ainda que perdendo por 2 a 1 para o Galo.
Perdoe-me o caro leitor, mas não é o caso.
Quando critiquei El Patón, criticava seu conceito sobre o futebol e suas escolhas equivocadas, como, por exemplo, a insistência insana com Centurión, jogador que havia um ano não acertava um drible, um passe, um cruzamento, um chute a gol.
Criticava-o justamente por esse pragmatismo cinzento que transformou nosso futebol num jogo sem imaginação e inventiva, que se resume apenas na obtenção do resultado, seja até mesmo perdendo jogos na bacia das almas, como ocorreu nas últimas três partidas fora de casa, com o Strongest, o Toluca e agora o Galo.
No rigor da análise, o Tricolor de Patón, até agora, só realizou duas partidas excelentes – contra o River e contra o Toluca, um massacre sob qualquer ponto de vista, no Morumbi. De resto, foi aquele sofrimento sem fim.
O que me invoca, caro amigo, é justamente essa doutrinação do círculo da padaria, que exclui do trabalho de um técnico, de um jogador, de um cartola e até mesmo da crônica esportiva a busca pela excelência.
Claro, em qualquer jogo, disputa ou competição está implícita a busca pelo resultado. Mas, o futebol só tem essa projeção planetária porque, além da competitividade, carrega consigo a beleza estética, tanto na capacidade criativa do indivíduo, quanto na harmonia do jogo coletivo.
Costumo repetir à exaustão que o futebol é uma moeda de duas faces: uma, representa o lado escuro da disputa, da conquista a qualquer preço, um tanto fascistóide e machóide – se me permite o neologismo -, sofrido, agoniado; a outra é solar, democrática, criativa, aprazível. O segredo do jogo está na procura do exato equilíbrio entre as duas, não a predominância de uma sobre a outra.
É esse equilíbrio, que os pragmáticos de plantão transformaram num eufemismo para justificar as tantas retrancas espalhadas pelo país afora, que deve ser a meta de qualquer treinador de futebol.
Até agora, não vejo nos atos e nas palavras de El Patón tais intenções.
Se, contudo, o treinador tricolor atingir esse excelso objetivo, ainda assim não me verei forçado a fazer nenhuma mea culpa.Pois foi ele, não eu, quem mudou de pensar e agir. Apenas, me caberá aplaudir a mudança, alegremente, diga-se.
NA LINHA DO GOL
Enfim, caiu o técnico do Galo, Diego Aguirre, que já estava na corda bamba há um tempinho. Fruto da desclassificação do seu time da fase semifinal da Libertadores, mesmo vencendo o São Paulo no Independência. Quer dizer: isso foi a pá de cal. Na verdade, o torcedor atleticano acostumara-se a um futebol eficiente e ao mesmo tempo agradável que seu time vinha praticando desde os tempos de Cuca, passando por Levir Culpi, intempestivamente demitido pela diretoria. Aguirre, seus métodos e concepções, são exatamente o oposto dos de Cuca e Levir, o que prova, mais uma vez, que nossos cartolas não têm a menor noção do que desejam de fato para seus respectivos times.
autor : Alberto Helena Jr.
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