segunda-feira, 29 de junho de 2015

Mais uma eliminação - é necessário repensar o futebol brasileiro



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Leonardo Miranda
O Brasil que foi eliminado pelo Paraguai mostrou o que tem de bom e ruim: as trocas ofensivas e intensa movimentação no bonito gol de Robinho, e a falta de controle de jogo e de posso no horrível segundo tempo. Também longe de ser perfeito, o Paraguai montou 2 linhas de 4, fez o básico, chegou ao gol e levou nos pênaltis. Justo.

Normal a eliminação causar frisson e reabrir a ferida do 7x1 no país que jamais esquece suas derrotas. E também o foco ser Dunga, que se expressa de forma ruim e não se preparou para o cargo. Mas será que tirando ele resolve?

A resposta é não. A complexidade desse esporte e os diversos setores propõe uma análise profunda. Técnico, jogador, dirigente....tudo está interligado nessa grande rede de interesses e pessoas que é o futebol. Enquanto discutimos apenas sobre nomes, os problemas estruturais crescem - eles sim, responsáveis pelo atual crise. 

O futebol evoluiu muito, e a tática é o que há de mais importante. A compactação e a intensidade do jogo diminuíram os ESPAÇOS, onde o talento do drible, do passe e dos lances bonitos podem acontecer. A técnica, privilegiada e pedida nos estádios, decide jogos. Foi o que Honduras fez contra o Brasil, inegavelmente mais técnico. Veja na figura abaixo: 9 jogadores ocupando espaços de forma INTELIGENTE. 

O jogo está mais complexo, e talento não decide mais. Organizar sem a bola é relativamente fácil. O mais difícil é criar mecanismos de ataque que dependem do COLETIVO, não do INDIVIDUAL. O Barcelona campeão da Champions tinha Messi decidindo, mas um forte sistema que facilitava o trabalho do mágico camisa 10. Quebrar marcações, provocar situações de dúvida, fazer gols....basta ver a organização de Guardiola no Bayern.

Algo não visto no Brasil, que continua confiando no individual. O cenário lembra a Alemanha após a Euro de 2004, eliminada com time envelhecido e futebol atrasado, com líbero e marcações individuais. O que foi feito? Debates, reflexões e união. Com Winfried Schaefer explicou ao Painel Tático, uma palavra: categorias de base.

Pare para pensar: de onde vem o ídolo do seu time? Como ele foi formado? Difícil, não. Muito porque o Brasil jamais teve categorias de base organizadas. São muitas competições de base e nenhum tempo para FORMAR ATLETAS. Geralmente, o sub-13, sub-15 e sub-17 e sub-20 jogam de SÁBADO E DOMINGO, com apenas 1 REFEIÇÃO POR DIA. Raros são os remunerados. A maioria não recebe, assim como o técnico…que faz o papel de preparador, fisiologista, analista…crueldade é pouco.

Os clubes estão endividados, e o presidente quer resultados. Precisa vender jogadores pra ter o dinheiro que o clube precisa para sobreviver - veja bem, sobreviver, pois a maioria está tão endividada que todo o dinheiro que entra é bloqueado por processos trabalhistas do passado - foi assim que o Botafogo perdeu jovens e caiu para a Série B, não?

O jogador pensa em ganhar dinheiro e fazer gols. Ouve o empresário, parceiro de balada que o aconselha a não obedecer o técnico, pois se ele cumprir função tática não aparece no DVD, logo não é vendido. Ele quer driblar, virar atacante pois é o sonho da família. Jamais jogar coletivamente, entender o jogo e suas nuances. Olhe como Emerson não faz sua OBRIGAÇÃO BÁSICA de voltar e desprotege o time. 
As federações só atrapalham, pois os esforços são concentrados em alianças políticas e regras malucas, como o cartão amarelo para reclamação. Outros setores também não ajudam. De que adianta pedir planejamento de a cada sequência ruim a demissão do técnico ganha vozes? De que adianta querer reflexão quando o entretenimento é o foco?

O torcedor, sem querer, vai contra o próprio futebol. Pois o pensamento foi aprendido com o pai e o avô, e ele pode estar errado no mundo de hoje. Dribles são valorizados ao invés de um jogo bonito, resultados são muito comemorados e derrotas possuem enorme peso - exageros, jamais ponderação. Tudo movido a paixão, o homem "cordial", do cordis (coração), como bem aponta o historiador Sérgio Buarque de Holanda. 

Mas e se começar por um técnico moderno na seleção, como Tite ou um estrangeiro? Eles enfrentariam questões culturais tão difíces como qualquer técnico. Tite não abriu mão de conceitos ultrapassados como Ralf na frente da zaga. Juan Carlos Osorio implanta futebol moderno com Ganso andando e 4 meses de salários atrasados - acabou de levar vexatória goleada. A falta de resultados a curto prazo aumenta críticas e o trabalho de renovação começa a ser minado aqui, acolá...até a pressão ficar insuportável. Não foi assim com Mano Menezes em 2012?
A discussão, reflexão e mudança pedida após a Copa do Mundo não aconteceu. Pois ela depende também de um setor que vocifera contra o próprio futebol e foca no entretenimento. As redes sociais tornaram tudo urgente. Tudo é para ontem ou ao vivo, e não há tempo para pensar, refletir e ver além. 

Se o cenário é ruim e tende a piorar, como resolver? Trocar técnico? MP do Futebol? Parar de torcer pela seleção por causa dos corruptos? Não. A mudança começa em você. O seu pensamento também pode estar atrasado. O que você acredita pode estar errado. É preciso repensar o futebol, em todos os setores, de forma solidária, unida. Não raivosa, maniqueísta e catastrofista.

Ninguém disse que seria fácil. Mas não custa tentar.

Globo.com

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