REINALDO
Nascimento: 11 de Janeiro de 1957, em Ponte Nova (MG), Brasil.
Posição: Centroavante
Clubes: Atlético Mineiro-BRA (1973-1985), Palmeiras-BRA (1985), Cruzeiro-BRA (1986), Rio Negro-BRA (1986), Häcken-SUE (1987) e Telstar-HOL (1987-1988).
Principais títulos por clube: 8 Campeonatos Mineiros (1976, 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, 1983 e 1985), 1 Torneio Internacional de Paris (1982), 1 Torneio de Bilbao (1982), 1 Torneio de Amsterdã (1984) e 2 Vice-Campeonatos Brasileiro (1977 e 1980) pelo Atlético Mineiro.
Principais títulos individuais e artilharias:
Bola de Prata da Revista Placar: 1977 e 1983
Artilheiro do Campeonato Brasileiro: 1977 (28 gols)
Maior artilheiro da história do Atlético Mineiro: 255 gols em 475 jogos
Maior artilheiro da história do Mineirão: 157 gols
Eleito por unanimidade para o “Time dos Sonhos” do Atlético Mineiro pela revista Placar: 2006
“REInaldo”
Se você perguntar para algum apaixonado por futebol quem foi o rei do futebol, certamente a pessoa irá dizer “Pelé”. Mas, se essa mesma pergunta for feita para algum dos milhões de torcedores atleticanos espalhados pelo Brasil, a resposta será outra, com uma maior entonação na primeira sílaba: “REInaldo!”. Para o atleticano, José Reinaldo de Lima, o Reinaldo, foi o maior rei da história do futebol, o maior artilheiro do Clube Atlético Mineiro em todos os tempos e também o maior craque do alvinegro. Durante uma década, Reinaldo foi mítico dentro do estádio do Mineirão, sua casa, seu Coliseu, onde vestia a armadura pintada em branco e preto e destruía sem dó o adversário que fosse: Fluminense, Corinthians, Flamengo, Palmeiras e, em especial, o Cruzeiro, sua vítima predileta. Seus dribles eram desconcertantes, sua velocidade exuberante e seus gols quase sempre lindos, formosos, capazes de enlouquecer por completo aquela nação atleticana que criou até um refrão para o seu maior ídolo: “Rei, rei, rei, Reinaldo é nosso rei!”. E era mesmo. No entanto, é de se lamentar profundamente a violência pela qual o atacante arisco e talentoso sofreu ao longo da carreira, que dilacerou seus joelhos, o fez jogar baleado uma Copa (em 1978) e abreviar precocemente seus tempos de craque. Outra lamentação foi a oposição ao regime ditatorial que predominava no Brasil naqueles anos 70 e 80, que custaram, segundo o próprio Reinaldo, o título brasileiro de 1977 e a não convocação para a Copa de 1982. Mas ainda sim o craque conseguiu dar glórias e alegrias eternas para a sua massa atleticana, apaixonada até hoje pelos feitos de Reinaldo, o Rei do Mineirão. É hora de relembrar a carreira desse inesquecível artista dos gols.
Garoto abusado
O pequeno Reinaldo nasceu em Ponte Nova, sexto de oito irmãos que se dividiam exatamente em quatro homens e quatro mulheres. Desde pequeno, Reinaldo mostrava uma habilidade fantástica com a bola nos pés e jogava em pequenos clubes de Minas, até mesmo junto aos padres do Colégio Salesiano, de batina e tudo. Em 1971, o garoto foi visto por Barbatana, técnico da equipe juvenil do Atlético Mineiro, que ficou arrebatado com o futebol do garoto. Naquele mesmo ano, o jovem foi levado à Belo Horizonte e passou a integrar as equipes de base do clube. Num dos muitos coletivos entre juvenis e titulares, o garoto deixou todos de boca aberta quando, na maior naturalidade do mundo, entortou simplesmente os zagueiros Vantuir e Grapete, do time atleticano campeão brasileiro de 1971. Telê Santana, técnico da equipe principal, ficou maravilhado e, já em 1973, promoveu o garoto Reinaldo, com apenas 16 anos, à equipe principal do Galo.
As primeiras contusões
Em 1973, Reinaldo disputou suas primeiras partidas entre jogadores profissionais. Como tinha apenas 16 anos, ele sofreu por ter de entrar em divididas com atletas já desenvolvidos fisicamente. Franzino e ainda em formação, o atacante foi presa fácil de maldosos zagueiros, que o lesionaram pela primeira vez no joelho esquerdo naquela temporada. Em 1974, outra lesão o levou à mesa de cirurgia pela primeira vez, quando extraiu um dos meniscos. Aquilo seria uma dura rotina na carreira do craque. Mas, mesmo com dores e a fragilidade dos joelhos, saberia dar a volta por cima com um só objetivo: mostrar para todos que era um craque irresistível.
Instinto predatório
A partir de 1975, Reinaldo começou a fazer história no Atlético. Beneficiado por uma safra de ouro do clube, que duraria até meados dos anos 80, o craque começou a fazer gols em profusão e jogar partidas brilhantes. Seu desempenho já lhe rendeu naquele ano a primeira convocação para a seleção brasileira, para a disputa da Copa América. Em 1976, conquistou seu primeiro título com o Galo no Campeonato Mineiro. O time alvinegro fez uma campanha inesquecível e invicta com 26 vitórias e cinco empates em 31 jogos. Na grande decisão contra o Cruzeiro, Reinaldo marcou gol nas duas partidas (vencidas pelo mesmo placar, 2 a 0) e deu ao Galo o título estadual. Curiosamente, mesmo com tantos gols, Reinaldo nunca seria artilheiro do campeonato mineiro em sua carreira.
Em 1977, Reinaldo viveu um de seus melhores anos. Livre momentaneamente dos problemas no joelho, o craque conduziu o Atlético Mineiro a uma campanha maravilhosa e histórica no Campeonato Brasileiro. Presente em 18 jogos, Reinaldo marcou absurdos 28 gols, com uma insuperável média de 1,55 gol por jogo. O Rei do Mineirão assinou verdadeiras obras primas naquele ano, como num jogo contra o América-RN, quando fez um golaço por cobertura. No entanto, a temporada que tinha tudo para ser histórica para o craque reservou para ele uma imensa sacanagem bur(r)ocrática justo na partida final do torneio, contra o São Paulo. O time atleticano chegou invicto, mas graças ao “genial” regulamento teve apenas a vantagem de fazer a decisão em casa, não podendo nem ao menos empatar para ser campeão. Era preciso vencer. Porém, naquele jogo, Reinaldo não jogou por conta de uma expulsão que sofrera na primeira fase do campeonato e que só foi julgada às vésperas da final, por causa da ausência de Serginho Chulapa pelo lado do São Paulo. Depois de um 0 a 0 no tempo normal, os alvinegros perderam nos pênaltis para o São Paulo e ficaram com o vice-campeonato invicto. O próprio Reinaldo classificou aquilo como o momento mais triste de sua carreira:
“Em 77, a ditadura era explícita. Fui expulso na primeira fase do campeonato, mas guardaram o julgamento. Como o Chulapa tinha sido expulso na semifinal, resolveram me julgar. Uma força de interesses superior. Eu era o artilheiro do campeonato, fiz gol em todos os jogos, minha melhor fase. Já tinha trocado de roupa no vestiário quando veio a ordem [para não jogar]. Esse foi o dia mais triste de Belo Horizonte: 5 de março de 1978 [data da decisão do Brasileiro de 77]”. Reinaldo, em entrevista ao site da Placar – Setembro de 2012.
O vice-campeonato foi dolorido e deixou mágoas profundas no atacante, que começava a despertar a ira do regime militar da época por sua postura contrária ao governo e pelas comemorações de gols sempre com o punho direito cerrado e levantado, num claro sinal de protesto. Ainda em 1977, Reinaldo marcou pela seleção brasileira um dos gols mais bonitos de sua carreira, num amistoso contra a Polônia, no Morumbi, quando deu um chapéu no zagueiro e chutou para fazer um dos gols da vitória por 3 a 1. Uma obra prima inesquecível.
A primeira Copa e a nova lesão
Talentoso e com um repertório cada vez maior de jogadas, Reinaldo era a grande esperança do Brasil para a Copa de 1978, na Argentina. Mas, em terras portenhas, o craque não esteve em sua melhor forma e jogou baleado. Mesmo com toda uma parafernália especial para treinos, musculação e fisioterapia, o atacante marcou apenas um gol, na estreia contra a Suécia, e jogou no sacrifício outras duas partidas. O Brasil não levou o título, ficando na terceira colocação. Depois do mundial, foi constatada uma lesão grave no joelho do craque, que teve de ser submetido a mais uma cirurgia, dessa vez mais complexa e feita nos EUA, pelo especialista James Nicholas, um dos maiores cirurgiões e especialistas em Ortopedia da época, célebre por tratar de celebridades como Muhammad Ali, John Kennedy, Frank Sinatra e Peter Frampton. Reinaldo ficou um ano sem jogar, passou por infiltrações e difíceis sessões de fisioterapia até conseguir voltar à forma física. Seu retorno aconteceu num amistoso contra o Santos, no Mineirão, quando as luzes do estádio inteiro foram apagadas e a torcida alvinegra acendeu isqueiros para homenagear a volta do Rei. Porém, a velocidade em campo de Reinaldo começaria a ficar comprometida por causa das articulações dos joelhos e pelas extrações de todos os seus meniscos. Mas nada que sua genialidade não desse um jeito de resolver…
O crime de José de Assis Aragão
No começo dos anos 80, Reinaldo e seu Atlético estavam tinindo. Sem rivais em Minas Gerais, o esquadrão alvinegro, composto por estrelas como João Leite, Luisinho, Cerezo, Palhinha, Pedrinho, Éder e Reinaldo jogava por música, pra frente, na mais pura arte. Aquele time era um dos maiores esquadrões já formados pelo clube em todos os tempos, que arriscava até mesmo um 4-2-4 em muitas partidas. Entre 1978 e 1983 o clube foi hexacampeão mineiro, recorde absoluto da Era Mineirão. Cerezo e Éder deixavam constantemente Reinaldo na cara do gol, um trio de ouro e imortal do clube mineiro. Mas aquela equipe precisava de um título grande, nacional, para consagrar de vez aqueles craques. E o foco se voltou para o Campeonato Brasileiro de 1980.
O alvinegro foi despachando seus rivais nas fases iniciais, sempre marcando muitos gols e sofrendo pouco. Na semifinal, um show contra o Internacional, então campeão nacional de 1979, que levou de 3 a 0 em pleno Beira Rio. Parecia barbada: o Galo seria o campeão brasileiro. Seria, não fosse pelo fato de enfrentar um rival duplo na decisão: o Flamengo de Zico e o árbitro José de Assis de Aragão. Na primeira partida, no Mineirão, o Atlético venceu por 1 a 0, gol do Rei, claro. No segundo jogo, o craque atleticano disputou aquela que foi a partida mais emocionante de sua carreira, segundo o próprio. O Flamengo jogava no Maracanã e tinha mais de 154 mil torcedores ao seu lado. O esquadrão rubro-negro contava com craques do naipe de Raul, Marinho, Júnior, Andrade, Carpegiani, Zico, Tita e Nunes, com Cláudio Coutinho no banco. Era um timaço. Mas o Atlético não ficava atrás e contava com João Leite, Osmar, Luisinho, Cerezo, Palhinha, Pedrinho, Éder, e o Rei, com Procópio Cardoso no banco. Seria uma final de arrepiar. E foi mesmo.
O Flamengo abriu o placar com Nunes aos sete minutos. Um minuto depois, Reinaldo se livrou de três marcadores e empatou num golaço, calando o Maracanã. No final do primeiro tempo, Zico deixou o Flamengo em vantagem novamente. No decorrer do jogo, Reinaldo sentiu uma distensão e foi provocado pela torcida carioca, que gritava “bichado, bichado”. O atacante, porém, encontrou forças para superar aquela dor e empatou o jogo no segundo tempo. Maracanã em silêncio novamente. Era o placar necessário para o bicampeonato atleticano. Mas o árbitro daquele jogo, José de Assis de Aragão, expulsou Reinaldo de maneira injusta, além de outros dois jogadores do Galo, que ficou com apenas oito homens em campo e completamente sem chances de segurar o resultado. Aos 37´, Nunes fez o terceiro do Flamengo, e o Galo foi outra vez vice-campeão. Naquele Brasileiro, Reinaldo foi o artilheiro do Atlético com 11 gols marcados e ficou com o gosto amargo de mais um título nacional que acabara de escapar.
Glórias internacionais e ausência em 1982
Depois do vice de 1980, o Atlético seguiu com sua hegemonia em Minas e foi brilhar fora do Brasil, quando disputou, entre outras competições, o Torneio de Paris de 1982, vencido diante do Dinamo Zagreb-CRO com um gol de Reinaldo, e o Torneio de Amsterdã de 1984, quando o Galo derrotou o Feyenoord-HOL por 3 a 2 (um gol de Reinaldo) e o Ajax-HOL, nos pênaltis, após empate em 2 a 2 no tempo normal. Embora tenha conquistado esses importantes títulos na época, Reinaldo viveu outra decepção pela seleção. Em meados de 1982, às vésperas da Copa do Mundo da Espanha, o craque poderia ter sido o camisa 9 do Brasil no lugar de Careca, que se contundiu, mas uma série de fatores o tiraram do mundial. O primeiro deles foi Telê Santana, que tinha posições reacionárias a determinados estilos de vida de jogadores, sendo que o de Reinaldo não agradava ao técnico. Outro foi a influência política, pois os militares há anos eram contrários a presença do craque no time nacional. E por último, os sempre doloridos joelhos, que desde 1978 davam mais dores ao craque do que prazer em campo, como Reinaldo afirmou:
“O futebol só me deu prazer até a Copa de 78. Depois disso, foi muita dor. De tanto remédio, o músculo ficou calcificado. Essa é a herança que o futebol me deixou”. Reinaldo, ao site da Placar – setembro de 2012.
Reinaldo ainda jogaria pela seleção até 1985, ano de suas últimas convocações. O craque disputou 37 partidas pelo Brasil e marcou 11 gols.
Últimos anos e o fim
Em 1985, Reinaldo deixou o Atlético depois de 475 jogos e 255 gols marcados, recorde que permanece até hoje. O atacante jogou pelo Palmeiras, Rio Negro, Cruzeiro, Häcken e Telstar, este seu último clube na carreira, quando se aposentou, em 1988, com apenas 31 anos, sem condições de continuar pelos joelhos baleados. Depois de largar o futebol, Reinaldo se arriscou na política, foi deputado, vereador e criou o Belo Horizonte Futebol e Cultura, com o intuito de oferecer iniciação esportiva e cultural aos jovens. Na segunda metade da década de 90, o craque teve um obscuro caso com drogas, mas deu a volta por cima e se reergueu.
A trajetória de Reinaldo no futebol poderia ter sido melhor não fosse seu início tão precoce, as lesões e a ditadura. Mesmo assim, o craque ficou marcado para sempre como um dos mais talentosos atacantes da história do futebol brasileiro, ágil, habilidoso, oportunista, com um faro de gol único e extremamente técnico. Reinaldo foi Rei durante uma década no Mineirão e é até hoje para uma nação apaixonada que diz apenas um nome quando questionada sobre qual foi o maior ídolo do centenário Clube Atlético Mineiro: REInaldo, um craque imortal.
Números de destaque:
Maior artilheiro da história do Atlético Mineiro: 255 gols
Maior Artilheiro da história do estádio do Mineirão: 157 gols
Maior artilheiro da história do clássico Atlético Mineiro x Cruzeiro: 16 gols
Artilheiro com a maior média de gols em um único Campeonato Brasileiro: 28 gols em 18 partidas – 1,55 gol por jogo.
Futebol Interior
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