quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

TP: Boavista-FC Porto, 0-1 (crónica)

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Conflituoso, truculento, maravilhoso, até explodir nas luvas de Helton, no derradeiro minuto: senhoras e senhores, madames e cavalheiros, bem vindos a um extraordinário dérbi da cidade do Porto! 

Tudo decidido por um raio de luz de Yacine Brahimi, com um golo a meio do primeiro tempo, e por um penálti defendido pelo brasileiro de sorriso eterno. No último segundo! Martins Indi empurrou Douglas Abner, mas os 19 aninhos do avançado brasileiro tremeram no duelo com São Helton. 

Emoção é isto! 

FC Porto nas meias-finais da Taça de Portugal, sim, mas um Boavista a perder de queixo bem levantado e dignidade intacta. Qualquer semelhança entre esta pantera e a de domingo, doente e desdentada, é pura coincidência. 

Dúvida no ar até ao derradeiro pontapé, com o Boavista a carregar – durante toda a segunda parte – e o FC Porto a sofrer com a coragem dos campeões, mormente após a expulsão do infeliz Imbula, aos 67 minutos.   

O DÉRBI VISTO AO MINUTO A PARTIR DO BESSA 

Aos dragões valeu o milagre da simplificação, o rosário preferido de Rui Barros. Até ao intervalo, os bons sinais do dérbi anterior repetiram-se, com as ideias do treinador interino a privilegiarem uma máxima tantas vezes esquecida: a linha reta é a distância mais curta entre dois pontos. 

O que se viu, de facto, de diferente? Dois ou três exemplos só. Neste pós-Lopetegui, os médios que jogam à frente de Danilo (Evandro e Herrera) não recuam para pegar no jogo; o central que assume a primeira fase de construção evita o passe lateralizado e tem ordem para lançar longo; o fosso entre o outrora solitário e o resto da equipa é mais reduzido, pela aproximação de um dos extremos e, pelo menos, um dos médios. 

Está tudo resolvido? Naturalmente que não. Ser simples não significa ser bacoco, muito menos insensato. Significa, à partida, ser mais lúcido e genuíno na aproximação às raízes e ao fundamento do jogo: o golo. 


O génio de Brahimi desbloqueou  dérbi

Os adeptos do FC Porto estão cansados de esperar pela excelência. Percebe-se isso. Seja como for, não há um antídoto para a cura imediata, após meses de angústia e quebra. 

Os dragões estão no caminho do reencontro e o rumo pode encontrar obstáculos e originar recaídas. No Bessa, a equipa revelou qualidade no primeiro tempo e caráter no segundo. Mas quase não chegava. 

O Boavista, insistimos, surpreendeu pela positiva. A introdução de Rúben Ribeiro (que bela estreia!) deu qualidade à equipa na posse de bola, elevando ao quadrado os níveis de confiança no processo ofensivo. 

Os axadrezados justificaram, aliás, o prolongamento, pela forma como castigaram o FC Porto na segunda parte. Depois de Aboubakar mandar uma bomba à barra e Imbula ser expulso, só deu Boavista. 

DESTAQUES DO JOGO: Helton e Rúben Ribeiro, senhores do dérbi 

A competência do FC Porto desvaneceu-se, algures entre a sensatez e o artístico. Não havia que inventar, apenas sofrer e segurar a qualificação, num dérbi onde a beligerância não podia faltar (quantas vezes o árbitro teve de controlar os jogadores?).     

Intensidade, paixão, bola constantemente nos flancos e o golo a rondar com interesse e galanteio a baliza de Helton. 

O melhor ficou para o fim. 

Uchebo, em cima do minuto 90, rematou para a baliza deserta, mas já em desequilíbrio; logo depois, Douglas Abner atirou de penálti para o voo perfeito de Helton, dragão dos pés à cabeça rapada. 

Isto é um dérbi, isto é um grande jogo de futebol.



TP: Boavista-FC Porto, 0-1 (destaques)


A FIGURA: Helton 
Não, Helton não foi o melhor em campo. Ainda assim, cabe-lhe o papel de figura, homem do jogo e todo o destaque que lhe queiram dar nesta eliminatória. Ele foi herói na hora H. Quando Indi, desastrado, cometeu grande penalidade sobre Abner, o prolongamento ficou ali bem ao alcance do Boavista… Valeu Helton, que defendeu o castigo máximo no último lance da partida. Líder uma vez, líder sempre. Quando a equipa precisou dele, Helton disse presente. Tal como o faz quando não entra em campo e fica no banco a apoiar os companheiros. 
  
O MOMENTO: Minuto 90’+4. Helton, de vilão a herói 
Minutos antes, o guarda-redes portista praticamente entregou um golo feito a Uchebo, que com a baliza escancarada falhou o empate ao rematar fraco em desequilíbrio. Já nos descontos, Helton salvou o FC Porto e passou de quase vilão a herói. Se Abner marcasse, os dragões ficavam com a eliminatória em sério risco: tinham de jogar o prolongamento em casa do adversário com menos um jogador. Bola nos 11 metros, Abner atira… E HELTON DEFENDE! Uma explosão no topo norte da bancada e o jogo termina de seguida. O FC Porto apurou-se assim para as meias-finais da Taça de Portugal. De forma dramática! 
  
NEGATIVO 
O ambiente de dérbi no Bessa mereceria destaque pela positiva, em particular pelo incentivo constante às duas equipas, apesar das trocas de impropérios habituais entre claques. No topo norte do Bessa os adeptos do FC Porto, que vieram aos milhares, fizeram a festa e foram incansáveis no apoio durante os 90 minutos. Dispensáveis, mais até do que as tochas no início, eram os petardos. Rebentaram mais de uma dezena durante o jogo. Para apoiar a equipa é mesmo necessário tentar rebentar com os tímpanos de quem vem ao estádio? 
  
OUTROS DESTAQUES:
Rúben Ribeiro
 
Ainda agora chegou e já parece entrosado com a equipa e capaz de fazer a diferença. O médio ex-Gil Vicente veio trazer um suplemento de qualidade ao meio-campo ofensivo do Bessa. Entrou bem em campo e foram dele os principais lances de perigo do Boavista no primeiro tempo: sobretudo um remate forte de fora da área (9’) e um cabeceamento com a bola a rasar o poste (29’). Uma boa estreia. Foi, de longe, o melhor dos axadrezados. Estranho constatar como é que um jogador com este talento esteve sem clube na primeira metade da época. 

Marcano 
Bem mais concentrado e acertado do que Martins Indi, Marcano fez uma exibição segura. Uma raridade nos últimos tempos, já que o central espanhol está a atravessar uma crise de confiança. Além de bem defensivamente, apesar de um par de erros na saída de bola, Marcano ainda esteve perto do golo… Aos 28’ cabeceou na área axadrezada e quase fez o segundo, que tranquilizaria os dragões. Porém, a bola esbarrou no poste da baliza de Mika antes de sair pela linha de fundo. 

Brahimi 
Futebol é também inspiração e o argelino vive muito desses momentos, como artista da bola que é. Esta noite, bastou um lance para resolver a partida e apurar o FC Porto para as meias-finais da Taça de Portugal. Aos 26’ lá apareceu a arte de Brahimi, que dominou, entrou na área, «pedalou» e quando parecia em desvantagem para o seu marcador direto conseguiu num remate em esforço surpreender Mika, que parece mal batido, fazendo a bola entrar lentamente na baliza para inaugurar o marcador. Foi perigoso pelo flanco esquerdo, como quase sempre, mas na segunda parte o seu rendimento caiu, como o da equipa, e acabou por sair. 
  
Imbula 
Atenção: ao contrário dos restantes, este destaque individual é pela negativa. O médio francês esteve meia-hora em campo – entrou aos 37’ para substituir o lesionado Evandro. Durante esse tempo, falhou passes, esteve desastrado taticamente e quando parecia que a sua exibição não podia piorar resolveu entrar de sola sobre Reuben Gabriel… E acabou expulso. O cartão vermelho parece um pouco exagerado, mas é uma tremenda imprudência de Imbula cometer uma falta tão escusada numa zona intermediária. A cada jogo que passa parece cada vez mais inacreditável encarar o médio franco-belga como o reforço mais caro do futebol português.

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