segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Não é este campeonato que está manchado. Todos estão

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O nível do futebol varia, os campeões e rebaixados se alternam, mas há algo comum a todas as edições do Brasileiro. É aquele momento em que surge o onipresente bordão do futebol nacional: “O campeonato está manchado”. Diferem os porta-vozes e os envolvidos, mas em alguma semana do último trimestre a sentença é proferida nos microfones em tom acusatório.

Apesar das circunstâncias nem sempre nobres em que se vocifera a acusação, é verdade que o campeonato está manchado. Não apenas este, mas todos os outros. Se não manchados por uma sempre cogitada mas nunca comprovada má-fé, que fica restrita às especulações e ao misterioso ambiente dos bastidores, certamente condenados pela incompetência com que o futebol é administrado. 

A última semana simplesmente aumentou em escala do que presenciamos cotidianamente ano após ano: o desastre da arbitragem brasileira. Fato gloriosamente ilustrado pelo fato de que nosso árbitro de Copa do Mundo é o pior juiz em atividade no Brasil, que não contente em errar acaba tentando anular o acerto dos bandeiras que lhe acompanham. Que, mais perdido que alface em espeto corrido, marca um simpósio no meio do campo para ouvir toda a comunidade e tentar se livrar do erro já consolidado. Foi apenas a faceta mais MIDÍATICA da miséria diária que mostra uma vertigem de erros, da primeira à última rodada do campeonato.

Aliás, é totalmente surreal qualquer sustentação de que não houve interferência externa no lance que definiu a vitória rubro-negra no Fla-Flu, quando fica claro que até os gandulas e PMs devem ter dado seu parecer sobre o lance em questão. A arbitragem afirmar que não foi influenciada por aquele animado convescote é mais ou menos como um cidadão flagrado seminu em meio à multidão lasciva no Carnaval responder: “Mas lá no fundo eu estava me sentindo solitário”.

Mudam os personagens, mudam as cores, mas o conteúdo da gritaria continua o mesmo com a sucessão dos anos, às vezes das horas. O presidente do Palmeiras faz questão de se manifestar sobre a  interferência externa no Fla-Flu, mas dois dias depois a arbitragem já parece não lhe incomodar mais, enquanto o presidente do Flamengo sai do jogo do seu time já metralhando contra a arbitragem que acontecera no jogo do rival, longe dali. Mudam as vozes, mas o comportamento persiste. O que apenas torna o óbvio cada vez mais evidente: o que menos importa nesta eterna queixa é o nível da arbitragem e do futebol.

O time grande que reclama ser prejudicado no Brasileiro ou na Libertadores é o mesmo que faz vistas grossas quando os pequenos são pulverizados pelo apito no campeonato estadual. Porque são todos iguais, mas alguns mais iguais que os outros, como já escreveu George Orwell e reverberou Humberto Gessinger, maior filósofo brasileiro do século XX. Enquanto os clubes forem coniventes com este império da mediocridade, merecem todos se engasgar na areia movediça da arbitragem. E, de fato, vão todos afundar. Um de cada vez. Ano após ano.

autor : Douglas Ceconello

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