A dor de Jorge Jesus fala francês e responde na língua de Julio Verne.
Douleur, portanto.
Não se sabe se toca piano ou se anda a cavalo, mas tem vários outros méritos. É corajosa, por exemplo. Tem garra, é arrojada, é empenhada e é astuta. Tem muita matreirice, também.
A dor de Jorge Jesus chama-se Armando Teixeira e o mundo conhece-a por Petit.
Não se pode argumentar, portanto, que foi imprevisível. Na época passada as equipas de Petit já tinham roubado quatro pontos ao Sporting: o Boavista ficou com dois no Bessa e o Tondela ficou com dois em Alvalade. Num jogo com um peso tremendo nas contas do título, recorde-se: a equipa leonina acabou com 86 pontos, menos dois que o Benfica.
Podem ter sido os dois que perdeu em casa com o Tondela.
Este ano Petit esteve muito perto de fazer melhor: esteve a vencer em Alvalade até ao último minuto dos descontos. Acabou por empatar, é verdade, mas roubou mais dois pontos.
Em nove possíveis, Petit já tirou seis pontos ao Sporting. Ninguém pode dizer, portanto, que este homem não seja uma dor na carreira de Jorge Jesus, que ainda não descobriu remédio para ela.
Mas também ninguém pode dizer que tenha sido injusto. O Sporting entrou mal no jogo e só piorou com o tempo. Piorou no esforço, piorou na atitude, piorou no ânimo. Piorou até no futebol.
Foi uma sequência de descuidos e equívocos sem fim.
Curiosamente o jogo até começou animador: logo nos primeiros minutos, Gelson Martins fugiu aos adversários e atirou ao poste. Parecia tudo bem, mais foi uma tremenda ilusão de ótica. A presença de Elias no onze, somada à titularidade de André, foram esvaziando a equipa de temperamento.
Os dois brasileiros são corpos estranhos na equipa leonina: não conhecem as dinâmicas coletivas, não têm velocidade para o futebol europeu e sobretudo estão desmotivados. Muitas vezes têm medo de pegar na bola e quando o fazem só tocam para o lado: não arriscam nem um bocadinho.
Ora em duas posições tão essenciais para o futebol da equipa, ali no centro do terreno, entre o médio defensivo e o ponta de lança, torna-se evidente que o Sporting perde a espinha dorsal.
Pode até ansear pelo regresso de Adrien, sabendo que o capitão seria diferente, mas até lá ameaça tornar-se cada vez uma equipa mais banal: em mês e meio o Sporting somou três derrotas, três vitórias e dois empates: em oito jogo só venceu pouco mais de um terço, portanto.
Vale a pena acrescenta, de resto, que o Sporting praticamente só ameaçou marcar naquele remate de Gelson Martins ao poste: o jovem extremo foi aliás o único a alimentar a esperança leonina.
No resto do tempo tentou, tentou, tentou, mas nada: raramente furou a bem organizada equipa do Tondela. Que não veio jogar com o chamado autocarro, refira-se: não, não, tentou sempre sair.
Já na segunda parte, aliás, criou a melhor ocasião de golo a seguir ao remate de Gelson ao poste: Fernando Ferreira cruzou da esquerda e Murillo desviou ao lado na cara do golo.
Era um aviso claro para o que haveria de chegar a seguir: Jaílson cruzou da direito para outra vez Murillo finalizar em golo.
Nessa altura Alvalade tornou-se um barril de pólvora. Jorge Jesus já tinha colocado Bruno César no lugar de Elias, depois disso ainda fez um terceira experiência: Bryan Ruiz ali no meio. Que sofrimento, pois... Um sofrimento que nem o golo de Joel Campbell atenuou. Até porque o Sporting não merecia mais do que o empate, e esse é o pior castigo que a equipa pode ter.
O Sporting voltou a não ganhar e Petit afirmou-se um dor. Douleur, em francês.
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