Os resultados financeiros da Premier League na temporada 2013/14 apresentados pelo relatório anual do diário londrino “The Guardian” revelam claramente os efeitos positivos imediatos na saúde financeira de seus membros a partir da introdução das regras do “Fair Play Financeiro”, em 2013, que estabeleceram limites para os gastos dos clubes em jogadores a um percentual de suas receitas.
Por isto, pela primeira vez nos últimos 16 anos, 15 dos 20 clubes da Premier League foram superavitários e geraram um lucro global de € 275 mi na última temporada. A razão? Suas receitas cresceram 22% enquanto os gastos com jogadores se elevaram 5.5% no mesmo período. Apenas Aston Villa, Cardiff City, Fulham (rebaixado), Manchester City e Sunderland registraram prejuízo no período. Vale observar que ao final da temporada 2012/13, antes da introdução das medidas reguladoras, 12 dos 20 clubes apresentaram resultados negativos em seus balanços.
No documento que saúda o anúncio destes números a direção da Premier League afirma que “dois anos atrás, os clubes filiados à Premier League concordaram em introduzir regulamentos financeiros que estimulem o investimento sustentável e limitem o montante da receita global que pode ser gasto em despesas com jogadores. Essa decisão, combinada com o aumento da receita, tem contribuído significativamente para os resultados financeiros positivos apresentados pelos clubes”.
Os membros da Premier League gastaram 57,5% de seus € 4.5 bi de receitas em jogadores em 2013/14, reduzindo em quase 10% os 67% gastos em 2012/13.
O “Fair Play Financeiro” funcionará mais do que nunca a partir da entrada em vigor do novo multimilionário contrato de TV firmado pela Premier League. Suas regras impedirão que as novas receitas sejam aplicadas irresponsavelmente na contratação de jogadores em busca de resultados esportivos de curto prazo.
Por outro lado, a realidade que será criada com a combinação de clubes equilibrados financeiramente com a existência das novas fabulosas receitas de TV poderá provocar uma nova rodada de venda do controle dos clubes ingleses para novos investidores permitindo que os atuais proprietários obtenham lucros expressivos.
O sucesso súbito alcançado com a adoção do regime do “Fair Play Financeiro” no mercado inglês – o mais competitivo e rico do futebol mundial – indica claramente o caminho que os clubes brasileiros devem trilhar com o objetivo de disciplinar seus gastos e elevar o nível de qualidade na sua gestão.
Evidentemente as regras para o nosso mercado devem contemplar as especificidades de nossos clubes poliesportivos e suas receitas e despesas além das do departamento de futebol. Mas, quanto mais rápida for a implantação de um regime disciplinador inteligente, mas rigoroso, das finanças de nossos clubes mais rapidamente eles evoluirão para um realidade mais saudável e mais próxima de uma governança que orgulhe os amantes do futebol neste país.
Resultados financeiros dos 6 clubes que mais faturaram e dos 2 que menos faturaram na Premier League 2013/14.
Interessante observar que a distribuição dos direitos de TV é realizada de modo a atenuar o desequilíbrio provocado pelo conjunto das demais receitas e a elevar a capacidade de investimento dos clubes mais modestos:
1- Manchester United FC
Receita total – € 601 mi
Proporção salário/receita – 50%
Receita de estádio – € 150 mi
Direitos de TV – € 189 mi
Receita comercial – € 263 mi
2- Manchester City FC
Receita total – € 482 mi
Proporção salário/receita – 59%
Receita de estádio – € 65 mi
Direitos de TV – € 185 mi
Receita comercial – € 231 mi
3- Chelsea FC
Receita total – € 450 mi
Proporção salários/receita – 59%
Receita de estádio – € 99 mi
Direitos de TV – € 194 mi
Receita comercial – € 158 mi
4- Arsenal FC
Receita total – € 422 mi
Proporção salário/receita – 55%
Receita de estádio – € 139 mi
Direitos de TV – € 168 mi
Receita comercial – € 82 mi
5- Liverpool FC
Receita total – € 355 mi
Proporção salário/receita – 56%
Receita de estádio – € 71 mi
Direitos de TV – € 140 mi
Receita comercial – € 144 mi
6- Tottenham Hotspur
Receita total – € 251 mi
Proporção salário/receita – 55%
Receita de estádio – € 49 mi
Direitos de TV – € 125 mi
Receita comercial – € 78 mi
19- Hull City
Receita total – € 117 mi
Proporção salário/receita – 51%
Receita de estádio – € 17 mi
Direitos de TV + Premier League – € 94 mi
Receita comercial – € 6 mi
20- Cardiff City
Receita total – € 115
Proporção salário/receita – 64%
Receita de estádio – € 11 mi
Direitos de TV + Premier League – € 89 mi
Receita comercial – € 15 mi
Luiz Augusto Veloso
Uma terça-feira inesquecível e paradoxal: o Barcelona faz história e o Bayern vive noite dos horrores
Barcelona e Bayern de Munique, adversários nas semifinais da Champions League 2014/15 a partir da próxima semana, viveram uma terça-feira inesquecível por motivos antagônicos.
No Camp Nou, o tridente MSN voltou a encantar e escreveu mais um capítulo célebre na história do clube catalão, marcando 5 dos 6 gols (o outro foi de Xavi) com os quais o Barcelona aniquilou o Getafe pelo campeonato espanhol e confirmou a liderança na competição com 5 pontos de vantagem sobre o eterno rival Real Madrid.
Messi (2), Suárez (2), Neymar (1) chegaram a 102 gols na temporada se transformando no maior trio artilheiro da história do clube. Eles superaram a marca de 100 gols da também extraordinária trinca formada por Messi, Henry e Eto’o na fabulosa temporada 2008/09 em que o clube conquistou a tão sonhada tríplice coroa sob a direção de Pep Guardiola e Tito Vilanova.
O Barcelona de Messi com 49 gols, Neymar com 32 gols e Suárez com 21 gols prova que os recordes existem para serem superados e que não resistem quando desafiados por gente capaz, insaciável e disposta a superar limites.
Em Munique, na Allianz Arena, o Bayern viveu uma noite dos horrores e matou o sonho de uma tríplice conquista na temporada ao ser eliminado nas semifinais da Copa da Alemanha por um aguerrido Borussia Dortmund. Guardiola se contradisse e iniciou o jogo com Arjen Robben no banco. Seu time começou bem – ainda que cheio de improvisações – abriu o placar aos 29 minutos do primeiro tempo através de Lewandowski e dominou o jogo até os 29 minutos do segundo tempo quando Aubameyang empatou, mudando radicalmente a história da partida. Logo em seguida, apenas 18 minutos depois de ter entrado em campo no lugar de Thiago Alcântara, Robben sentiu a panturillha e foi substituído por Mario Götze. Era o início da noite dos horrores para Guardiola e seus atletas.
A partida foi para a prorrogação e depois para os pênaltis quando registrou uma das mais catastróficas performances de um time neste tipo de decisão na história do futebol: quatro cobranças consecutivas desperdiçadas pelo Bayern contra a conversão de duas por parte do Borussia Dortmund. Lahm e Xabi Alonso escorregaram de maneira prática e pateticamente idêntica e chutaram nas nuvens nas primeiras duas cobranças, em lances no mínimo estranhos para dois jogadores tão experientes e competentes neste tipo de situação. Götze e Neuer também fracassaram, enquanto Gundogan e Kehl converteram para o Dortmund.
O sonho do clube bávaro de mais uma tríplice coroa sucumbiu inexoravelmente dentro da sua própria casa frente ao time guerreiro do pouco convencional e alto astral Jürgen Klopp, que jogará a final da Copa da Alemanha contra o vencedor da outra semifinal que reúne Arminia Bielefeld e Wolfsburg.
Em que condições estas duas equipes, que muitos consideram as melhores do mundo na atualidade, chegarão ao Camp Nou na próxima quarta-feira para iniciar a disputa das semifinais da Champions League 2014/15? A resposta desvendará mais uma passagem memorável da história do futebol mundial. Daquelas que costumam debochar dos prognósticos lineares e presunçosos dos que se imaginam conhecer a fundo o nobre esporte bretão.
Luiz Augusto Veloso
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