segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Laxixa, ex-atacante do Sport, morre vítima de AVC

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Faleceu na madrugada desta segunda-feira uma das figuras mais carismáticas do futebol pernambucano. Djalma Oliveira Passos, mais conhecido no mundo da bola como Laxixa, estava internado no Hospital Perpétuo do Socorro, em Garanhuns, desde o sábado, dia 5 de setembro. Havia sofrido um AVC e não conseguiu se recuperar. Laxixa morreu aos 75 anos. O enterro vai acontecer na tarde desta segunda-feira, no Cemitério de Santo Amaro. 

Laxixa teve uma carreira curta e vitoriosa carreira no Sport. Despontou nos anos de 61 e 62, sendo bicampeão Pernambucano, ao lado de Traçaia e Betancourt, grandes craques do Leão. Mesmo mostrando muita qualidade técnica, Laxixa desistiu do futebol pouco tempo depois. Foi aprovado no vestibular de Economia. A partir daí, saiu dos gramados e começou a construir sua história profissional como bancário. 

Mas Laxixa não conseguia largar a vida de boleiro. Gostava de fazer amizades. E soube fazer isso como ninguém. Era "chapa",  como costumava dizer, de Almir Pernambuquinho, Vavá, Luciano Veloso, Gena, entre tantos outros. Era o principal articulador dos encontros anuais dos ex-jogadores de futebol no Recife. Ficava feliz ao organizar a tradicional pelada e feijoada. Mantinha como costume ir para o Parque da Jaqueira para conversar com os amigos sobre... futebol. 

Conheci Laxixa numa dessas conversas. Liguei para saber das histórias do passado e ele preocupado com o desenrolar da matéria, ligava todos os dias para saber se eu havia conseguido entrevistar os personagens que ele havia me indicado. E continuou ligando mesmo após a publicação da matéria para falar dos jogos da rodada. Viramos amigos. Gostava das suas longas conversas, das histórias dos bastidores do futebol e da sua visão sobre tática. Estava sempre atualizado. 

Mas a alegria de Laxixa foi embora em julho de 2011, quando Gilka, sua esposa faleceu. Era o seu suporte. Estava ao seu lado em todas as circunstâncias.   Um infarto tirou a vida de Gilka e a alegria de Laxixa para viver. Desde então, o futebol perdeu para o ex-atacante do Leão que tinha  um coração gigante aberto para amizades e carinho. Laxixa era uma grande figura querida. Vai deixar muitas saudades. 



Fotos Históricas - Sport Club do Recife 1962

 

Sport Club do Recife 1962
Da esquerda para direita (em pé): Nenzinho, Alemão, Leduar, Baixa, Tomires e Valter,
Agachados: Carlinhos, Laxixa, Bittencourt, Djalma, Zé do Figo

Marcelo Cavalcante-Globo.com



LAXIXA
O craque que renunciou ao futebol
LENIVALDO ARAGÃO
Quem o conheceu no birô, desempenhando as funções bancárias, jamais poderia imaginar que aquele senhor gordo, barriga saliente e voz grave, tenha sido algum dia um craque refinado, a ponto de ser pretendido por grandes equipes do futebol brasileiro. Chegou mesmo a incorporar-se a uma delas, embora que por pouco tempo.
Se dependesse de comparações quanto ao porte atlético nada fazia o executivo Djalma Passos de Oliveira, recifense do bairro da Torre, parecer-se com Laxixa que, com seu futebol técnico, recheado de passes precisos e dribles insinuantes, tanto empolgava quem o via jogar. Encerrou a carreira em pleno apogeu porque preferiu seguir a profissão de bancário, depois de ter cursado a universidade.
Laxixa é de uma época em que os campos suburbanos, hoje chamados campos de várzea por pura imitação a São Paulo, proliferavam no Recife, onde existiam centenas de equipes em atividade. Foi num desses times, o Cacique do Zumbi que, comandado pelo treinador Djalma Araújo, deu oficialmente os primeiros passos, jogando pelo infantil, dos 11 aos 12 anos.
“Do Cacique saiu muita gente boa, como Adelmo (Sport e Santa Cruz), Cuíca (Santa Cruz), Biu (Santa Cruz e Seleção Cacareco), Gerivaldo e outros” – relembrou Laxixa em conversa com este repórter.
Frequentador assíduo da praça da Madalena, aos 15 anos defendia o Amazonas, um time de futsal local, participante do Campeonato Pernambucano. O talento demonstrado num esporte que requer muita habilidade, valeu-lhe o primeiro emprego, de escriturário, no Cotonifício da Torre, que mantinha uma poderosa equipe salonista. Eram os idos de 1956, e no trabalho conheceu os irmãos Carlinhos e Marcelino da Fonte, juvenis do Sport, no futebol de campo, os quais tinham participado da equipe que dois anos antes fora campeã pernambucana sem levar um só gol. Por influência de Carlinhos e de Nena Markman terminou dando com os costados na Ilha do Retiro, um ano depois.
“O técnico era Alexandre Borges e lá encontrei Alemão, China, Elcy, Adelmo e Leduar, logo me identificando com eles”, contou.
AMOR ÀS PELADAS
Jamais botou na cabeça levar futebol a sério, pois não pensava em tornar-se um profissional. Depois de ter jogado em 1957, desapareceu do Sport, tendo voltado às quadras e às peladas sem maiores compromissos. Terminou defendendo o Milionários, que reunia um grupo de veteranos que já haviam descalçado as chuteiras oficialmente, como Gilberto Carvalho e Schiller Diniz.
“Eles queriam mesclar o time e me convidaram.”
Mesmo à deriva, em relação ao Sport, terminou sendo convocado para a seleção pernambucana juvenil, juntamente com Nado, China, Gildo (o ponta-direita), Norberto, Fred, Lula Vasquez e vários outros que mais tarde brilhariam no futebol profissional.
Corria o mês de novembro de 1958 quando Cier Barbosa, um olheiro que o Vasco mantinha em Pernambuco, fez-lhe um convite para ir defender o clube de São Januário, na época, um conhecido reduto pernambucano, principalmente de jogadores saídos do Sport. Inicialmente não topou, o que agradou aos pais, Todavia, foi convencido pelos amigos a aceitar o convite.
JUNTO DOS ÍDOLOS
Os clubes pernambucanos não viam Cier Barbosa com bons olhos, pois consideravam-no um aliciador de jogadores em formação. Do próprio Sport ele arrebatara Vavá e Almir encaminhando-os ao mesmo destino para o qual pretendia levar Laxixa, o Clube de Regatas Vasco da Gama. Mesmo que Laxixa fosse amador, Cier não queria que os dirigentes rubro-negros tomassem conhecimento para que a viagem não fosse por eles torpedeada.
Assim, num sábado, início de dezembro, o pai e os amigos, da Madalena, iam ao aeroporto desejar-lhe boa sorte. Num abrir e fechar de olhos, Laxixa ver-se-ia cara a cara com ídolos cujas estampas ainda estavam fresquinhas no seu álbum de figurinhas futebolísticas, como
Beline e Orlando, campeões mundiais em 1958, Sabará, Pinga, Barbosa e Doutor Rúbis – os dois últimos, dois ou três anos antes tinham vestido a camisa do Santa Cruz.
PROTEGIDO DE ALMIR
Almir, o Pernambuquinho, colega de Laxixa nos tempos do Colégio da Madalena, já dava as cartas no futebol carioca. Encabulado, pronto para fazer seu primeiro treino no Vasco, ainda no vestiário, Laxixa ficou emocionado com um gesto de Almir, um jogador que carregaria até o fim de vida – interrompida por uma bala na testa numa briga de bar em Copacabana – a fama de ser valente e ao mesmo tempo leal aos companheiros.
“Olha aí, moçada, esse aqui é meu amigo de infância. Jogamos juntos quando éramos meninos, no bairro onde a gente morava. Logo, qualquer coisa com ele eu entro” – advertiu Almir.
Entre dezembro de 1958 e janeiro de 1959, o Vasco participava, juntamente com o Flamengo e o Botafogo do supercampeonato carioca, que, como nada decidiu, originou o badalado hipercampeonato, ou seja, um súper depois de outro. Enquanto isso após o segundo treino no clube da Colina, Laxixa tinha sua contratação recomendada pelo técnico Gradim. (Este, uma década depois mudava-se para Pernambuco, onde dirigiu o Santa Cruz e o Náutico).
“Logo, o diretor de futebol Jaime Soares Alves, veio falar comigo, mas eu ponderei que precisava antes vir ao Recife para resolver assuntos particulares”, disse Laxixa. “Na verdade, era uma desculpa, pois embora tivesse feito um bom ambiente, vivia em conflito comigo mesmo, pois sentia saudades e chorava quase diariamente.”
Em fevereiro de 1959, o Vasco acertou dois amistosos na capital pernambucana contra o Santa Cruz e o Sport. Laxixa pediu para viajar uma semana antes, combinando que no Recife juntar-se-ia à delegação.
Realmente esteve no hotel, mas apenas como visitante, de nada valendo as ponderações de Gradim e dos jogadores vascaínos para que voltasse com eles para o Rio. Laxixa resolvera ficar em Pernambuco, uma vez que não suportava estar longe da família – a temporada que havia passado na então Capital Federal tinha valido como um teste duro e definitivo a respeito de suas aspirações no futebol.
CONTRATO ENGAVETADO
O Vasco ficou apenas na lembrança de Laxixa, que imediatamente reassumiu o emprego, posto que não se demitira, apenas havia tirado uma licença. O futebol de salão e as peladas voltaram a fazer parte de sua rotina. Até que um dia, a convite de Waldomiro Silva, então treinador dos juvenis do Santa Cruz, o time do seu coração, Laxixa disputou uma preliminar pelo Tricolor a fim de que o técnico dos profissionais, Gentil Cardoso, pudesse observá-lo.

Foi aprovado na hora e convidado a comparecer ao Arruda para assinar contrato. Todavia, o Sport descobriu e logo o treinador Capuano, do juvenil, estava em sua casa dizendo que o clube não o liberaria, e aconselhando-o a se apresentar na Ilha do Retiro ao técnico dos profissionais, o argentino Dante Bianchi.
“Fui, treinei e abafei”, recordou Laxixa.
Veio o primeiro contrato, que ficou engavetado, como era hábito, já que estando para completar 19 anos, Laxixa ainda tinha idade para jogar pelos juvenis. E foi o que aconteceu, tanto que disputou a final do campeonato da categoria contra o Santa Cruz.
A disputa foi equilibrada. Cada time venceu uma partida da melhor de três, o que levou a decisão para um terceiro jogo. Laxixa viveu sua primeira frustração no futebol.
“Estávamos ganhando por um a zero até os 25 minutos do segundo tempo, quando o Santa Cruz virou e ganhou o campeonato. Naquela manhã saí de campo arrasado e tive vontade de largar o futebol ali mesmo. Mas logo mudei de ideia porque tinha deixado o emprego e precisava enfrentar a situação”.
O ano seguinte, 1960, já representaria um avanço na ainda incipiente carreira de Laxixa, que jogou todo o campeonato de aspirantes, mas concentrando-se com os profissionais.
“Fiz um campeonato tão bom, que em dezembro foi formada a seleção do ano, de jogadores até 23 anos, e dos escolhidos, o único que não era titular no seu clube fui eu.”
Goiano, um ex-corintiano que defendia o Sport, recomendou-o ao Timão. Já o lateral-esquerdo Mourão indicou-o ao Santos. Chegou a ser abordado pessoalmente pelo técnico Lula, da equipe de Pelé, porém, como já tinha contrato de profissional, as coisas tornaram-se mais difíceis.
No início de 1961, precisando fazer caixa, o Sport realizou uma excursão ao Norte. O Leão estendeu seu giro até Paramaribo, capital do Suriname, antiga Guiana Holandesa, tendo ficado 80 dias fora do Recife. Laxixa voltou como reserva de Bentancor, um uruguaio que até hoje é lembrado pelos rubro-negros mais antigos, por causa do futebol fino que jogava. Além disso era leal, tanto que defendia ardorosamente um lugar para Laxixa no time leonino.
PENDENGAS COM PALMEIRA
A chance que Laxixa almejava veio com a saída do volante Gilson Costa, que voltou a defender o Náutico. Palmeira utilizou inicialmente Michel, ex-Santos. Bentancor queria que Laxixa trocasse de lado e passasse a atuar pela direita, pois assim tinha vaga assegurada na equipe. Mesmo sem gostar de marcar, concordou. Ganhou a posição e ajudou o Sport a sagrar-se- campeão pernambucano de 1961.
Todavia, caiu em desgraça diante do técnico. Com 20 anos, o mais novo do grupo, certa noite, antes do jantar, soltou um buscapé na concentração, assustando o goleiro Manga – não o pernambucano, mas o que tinha vindo do Santos – que levou um susto tão grande, que chegou a cair da cadeira, arranhando um braço.
Temperamental como era, Palmeira repreendeu o jovem volante, ameaçando vetar a permissão que lhe havia sido dada para ir ao colégio assistir à aula noturna quando estivesse concentrado. A ameaça não foi cumprida, no entanto, no ano seguinte veio o castigo.
“Vou contratar Sarará ao São Paulo, e você que se vire”, sentenciou o treinador.
Para não sobrar, com a chegada de Sarará para seu lugar, Laxixa aceitou jogar na ponta esquerda, embora sem ter muito macete para a posição. No fim do campeonato, recebia a faixa de bicampeão.
As broncas com Palmeira não terminaram aí. Depois de um jogo da antiga Taça Brasil contra o Ceará, em Fortaleza, o técnico disse-lhe para avisar ao pessoal que ninguém deveria sair. Laxixa deu o recado, mas foi logo dizendo que iria comemorar a vitória, que valera o título de campeão do Norte, uma competição que era disputada pelos times do Norte-Nordeste, dentro da Taça Brasil.
Pouco tempo depois, na Ilha do Retiro, o Sport estava derrotando o Santos por 1 x 0, gol do centroavante Adelmo. Era o grande Santos de Gilmar, Pelé, Coutinho, Dorval e Pepe. A equipe santista tinha acabado de sagrar-se bicampeã mundial de clubes, goleando o Benfica, em Lisboa, por 5 x 2. No intervalo da partida, por achar que o Sport estava jogando errado, Laxixa fez uma sugestão ao treinador:
“Seu Palmeira, o senhor tá mandando Elcy lançar pelo alto, mas Djalma e Adelmo não ganham uma de Mauro, que, além da altura, tem uma grande impulsão. Por baixo, na velocidade, os dois estão ganhando todas. Inclusive, já tivemos a chance do segundo gol.”
À sua maneira, Palmeira reagiu à ousadia do jovem jogador:
“Você é o novo técnico? Saia. Entra Sarará.”
Bentancor, capitão do time, figura bastante respeitada na Ilha, ponderou:
“Laxixa está certo.”
Não houve diálogo, e o volante, que acabara de ser bruscamente substituído, deixou o vestiário soltando os maiores impropérios.
No finzinho do jogo, a famosa tabelinha Pelé-Coutinho voltou a funcionar, e o Santos empatou o jogo, por intermédio de Coutinho. No segundo encontro, no Pacaembu, em São Paulo, os santistas aplicaram uma goleada de 4 x 0, gols de Coutinho.
Vale salientar que a equipe rubro-negra viajou gratuitamente num pouco confortável avião da FAB (Força Aérea Brasileira), conseguido pelo presidente da FPF, Rubem Moreira, por uma questão de economia. Os leões chegaram à capital paulista, às 11 horas, para jogar às 21, ou seja, apenas 10 horas depois.
Em 1963, o Sport, novamente com a interferência de Rubem Moreira, participou, como representante do Brasil, do Torneio Internacional de Nova Iorque, que se realizava anualmente. Formada a delegação, de última hora descobriu-se que Palmeira não havia incluído Laxixa na delegação. Os jogadores não concordaram. Comandados por Bentancor e pelo dirigente Antônio Alexandrino Palmeira, Palmeirão – pai do mais tarde craque de futsal Calípio –, fizeram pressão. O volante terminou sendo convocado.
“Naquele torneio – recordou Laxixa – vi um cracão que estava surgindo no futebol mundial. Era o inglês Bobby Moore, que jogou contra nós, quando empatamos por 1 x 1 com o West Hans.”
Em 1964, após a aprovação no vestibular de economia, Laxixa decidiu descalçar as chuteiras e encarar a vida longe dos estádios, não obstante ter recebido um convite do superintendente do Flamengo, Aristóbulo Mesquita, para defender o rubro-negro carioca.
Hoje, depois que perdeu a esposa Gilka, da conhecida família Mastroianni, de Caruaru, Laxixa vive com um filho, no interior da Bahia.

FOTO: Uma das formações do Sport, na época de Laxixa. Em pé (E/D): Bria, Alemão, Manga (o ex-santista), Tomires, Nenzinho e Laxixa; agachados: Traçaia, Djalma, Osvaldo, Bentancor e Newton Adrião.

LENIVALDO ARAGÃO

Um comentário:

  1. DJALMA PASSOS DE OLIVEIRA, carinhosamente conhecido no mundo do futebol, como LAXIXA. Virtuoso craque do Sport e do Vasco, cuja carreira meteórica, acabou cedo por opção. Virou um bancário eficiente, competente e excelente profissional. Dotado de maravilhoso caráter, colecionou amizades e admiradores de sua bondade e fidalguia. Uma grande alma que subiu ao paraíso!

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