Festas de final de ano, quando a família toda se reúne, são palco para confraternização sincera, lembranças reavivadas, piadas do tio do Pavê e também para pequenas maldades.
Paulo Otávio, sua irmã não precisava ter perguntado sobre o vestibular do Juninho. Sabia que ele não passou.
Eu vi, Regina Célia. Em compensação, perguntei sobre o emprego do namorado novo da Gilcilene só para ouvir ela dizer que ele é barman e didiei. Como se isso fosse dar camisa.
No ano seguinte, estarão todos juntos novamente. E as velhas pequenas maldades ficarão no passado. Serão substituídas por novas.
Os jogadores negros chamados de macacos reagem da mesma maneira que Paulo Otávio e Regina Célia. Consideram a ofensa como uma pequena maldade. Como uma falta de educação.
Não é. É crime. E, se não reagirem como Aranha reagiu, continuarão sendo ofendidos. E a próxima geração também. No fundo, os jogadores negros pensam assim: “caramba, eu já sei que sou negro, precisa falar? Precisa ofender?'' Como se fosse ofensa.
Pelé, o atleta do século, diz que, se parasse de jogar a cada vez que foi chamado de macaco, não haveria jogo. Mas se tivesse feito algo, as coisas já poderiam ter começado a mudar. A favor de Pelé, digamos que ele foi ofendido há 50 anos, quando o mundo era outro.
O racismo ainda não é crime.
Agora é. E precisa ser enfrentado.
Não adianta sair de campo e repetir as duas frases de sempre. 1) é lamentável 2) um absurdo falar isso em pleno 2015.
O que se pode fazer?
Boletim de ocorrência.
Uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff, ao governador Geraldo Alckmin e ao prefeito Fernando Haddad.
Uma carta à Marco Polo del Nero, presidente da CBF. A Sepp Blatter, presidente da Fifa e a Luis Figo, seu oponente.
Mais cartas. Para o COI e para o COB. No ano que vem tem Olimpíada no Rio.
O senador Romário, o deputado Andrés Sanchez, ex presidente do Corinthians, time de Elias, a última vítima.
Qual o maior jogador da história do Uruguai? Obdulio Varela? Qual o seu apelido? NEGRO Jefe. Então, mande-se uma carta à Associação Uruguaia de Futebol contando sobre o crime cometido por seu jogador.
Peçam ajuda aos movimentos dos direitos humanos. Aos movimentos dos direitos dos negros.
Aos sindicatos de jogadores. Ao Bom Senso F.C
E o jogador vai fazer tudo isso e se esquecer de jogar bola?
Não. Jogador de futebol tem algo que se chama de estafe. Advogados, assessores de imprensa, empresários. Coloquem a turma para trabalhar. Outro dia, eu queria entrevistar o Fabrício, do Inter. O assessor disse para eu mandar perguntas por email. Mas eu só quero saber porque ele faz sucesso no Inter, depois de fracassar no São Paulo e no Corinthians. Manda email. Mandei. Não responderam. Agora, depois do surto do Fabrício é que não vou ser atendido mesmo.
Só para lembrar outro caso do Elias. Há pouco tempo ele foi submetido a rumores e boatos maldosos que o ligavam afetivamente a Maicon. Aí, todos se mexeram. O pai de Elias se pronunciou. Ameaçaram os boateiros com um justo processo. Agora, nada. Apenas o lamento formal dizendo que estamos em 2015 blablabla.
Jogador que encarar essa briga vai sofrer mais apupos nos campos da vida. Vai ser incompreendido. Mas também dará uma contribuição por uma sociedade melhor que nem Pelé deu.
Não vale a pena enfrentar esse crime?
Os outros jogadores do elenco, o técnico Tite e diretores do Corinthians deveriam estar ao lado do jogador de maneira mais efetiva. Tite falou algo, mas poderia ter feito muito mais.
Pode-se também pensar que não vale a pena fazer nada.
Pode.
É covardia.
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